segunda-feira, 22 de agosto de 2022

POEMA: O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

 Poema: O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Manoel de Barros    


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros, Memórias inventadas – A infância. São Paulo: Planeta, 2003. p. IX.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 54-6.

Entendendo o poema:

01 – Você conhece Manoel de Barros? Já leu algum poema desse escritor?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – A que ou a quem você acha que o título do poema se refere?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O eu lírico afirma que seu objetivo, ao escrever poemas, é compor silêncios. Para você, qual é o sentido dessa afirmação?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O eu lírico fala sobre a matéria-prima de seus poemas: as palavras.

a)   Explique por que o eu lírico diz que não gosta “das palavras fatigadas de informar”.

O eu lírico não gosta de usar as palavras com seus significados “dicionarizados”, por isso diz não gostar das palavras “fatigadas de informar”. A expressão “palavras de informar” refere-se à linguagem denotativa, usada em textos cuja função é preferencialmente explicar, definir algo, sugerir ou instruir.

b)   De que palavras o eu lírico gosta? Por quê?

O eu lírico gosta de palavras “que vivem de barriga no chão / tipo água pedra sapo”, ou seja, rasteiras, simples, ligadas à terra. O eu lírico valoriza a natureza e o mundo natural.

05 – Qual é o sentido do verso “Entendo bem o sotaque das águas”?  De que maneira esse verso se relaciona à ideia “dar respeito às coisas desimportantes”?

      Entender bem o sotaque das águas é saber contemplar a natureza, é conhece-la bem, ser íntimo dela. Na sociedade contemporânea, esse estado contemplativo é considerado desimportante, sem utilidade, uma perda de tempo.

06 – O eu lírico diz preferir a velocidade das tartarugas à dos mísseis; os insetos aos aviões.

a)   Que valores ele defende ao fazer essas afirmações?

O eu lírico inverte a lógica do seu tempo, que valoriza a velocidade, a tecnologia; por isso a referência aos mísseis e aos aviões. Usando a lógica inversa, ele preza o tempo da contemplação, que deve ser lento, que se arrasta, e a conexão com o mundo natural e simples.

b)   Você se identifica com essa perspectiva de mundo? No lugar e no tempo em que você vive, acha que esses são valores predominantes? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia os versos:

“Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.”

a)   A palavra atraso geralmente tem conotação negativa. Nesses versos, ela foi usada em sentido negativo? Explique.

Não. No poema, a palavra atraso é usada para definir um tempo diferente, um ritmo mais lento, que é o do eu lírico. Ao usar esse termo, o eu lírico nos induz a questionar o tempo desnecessariamente acelerado da vida contemporânea.

b)   De que maneira esses versos estão ligados ao contexto de vida do poeta Manoel de Barros?

Os versos estão ligados ao fato de o poeta ser um homem do Pantanal, de ter optado por voltar à zona rural e viver como criador de gado. Dessa forma, o poeta passou grande parte da vida em contato direto dom a natureza e os animais.

08 – Explique o sentido do verso “Meu quintal é maior do que o mundo”.

      Ao informar que seu quintal é maior do que o mundo, o eu lírico mostra que, para ele, as “miudezas” do quintal são mais importantes e, portanto, maiores do que qualquer outra coisa. As “inutilidades”, os seres e as coisas “desimportantes” de seu quintal são seu universo particular e a matéria de sua poesia.

09 – Releia os versos de “O apanhador de desperdícios”.

a)   A quem “O apanhador de desperdícios” se refere? Justifique.

Refere-se ao eu lírico. No verso “Sou um apanhador de desperdícios:”, isso fica explícito.

b)   A resposta à questão anterior confirma a hipótese que você levantou antes de ler o poema?

Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia os quatro últimos versos do poema do Manoel de Barros. O eu lírico deseja que sua voz tenha um formato de canto. Para você, o que isso significa? De que maneira esse desejo está ligado ao fato de o eu lírico afirmar não ser da informática, mas da “invencionática”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O canto está ligado às artes, ao trabalho artístico da voz, assim como o poema está ligado ao trabalho artístico e criativo com as palavras, ou seja, ao trabalho da “invencionática”, da invenção, da subjetividade, em contraposição ao da informática, que tem uma linguagem objetiva, exata.

 

 

 

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