terça-feira, 23 de agosto de 2022

POEMA: DA CALMA E DO SILÊNCIO - CONCEIÇÃO EVARISTO - COM GABARITO

 Poema: Da calma e do silêncio

            Conceição Evaristo

Quando eu morder

 a palavra, 

por favor, 

não me apressem,

quero mascar,

rasgar entre os dentes,

a pele, os ossos, o tutano

do verbo,

para assim versejar

o âmago das coisas. 

 

Quando meu olhar

se perder no nada,

por favor, 

não me despertem,

quero reter,

no adentro da íris,

a menor sombra,

do ínfimo movimento.

 

Quando meus pés

abrandarem na marcha,

por favor, 

não me forcem.

Caminhar para quê?

Deixem-me quedar,

deixem-me quieta,

na aparente inércia.

Nem todo viandante 

anda estradas,

há mundos submersos,

que só o silêncio

da poesia penetra. 

Conceição Evaristo. Da calma e do silêncio. In: Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

Fonte: Língua Portuguesa – Estações – Ensino Médio – Volume Único. 1ª edição, São Paulo, 2020 – editora Ática – p. 62-3.

Entendendo o poema:

01 – Que sensações a leitura do poema despertou em você?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Releia a primeira estrofe do poema.

a)   Explique a metáfora presente nos versos “quero mascar, / rasgar entre os dentes, / a pele, os ossos, o tutano / do verbo”.

O eu lírico compara a palavra ao corpo de um animal ou de um ser humano. Pois tem pele, ossos e tutano. Compara ainda o fazer poético, o “versejar”, ao ato de morder, mascar, rasgar esse corpo entre os dentes.

b)   Qual é a função dessa metáfora no poema? Que efeito de sentido ela gera?

Por meio dessa metáfora, o eu lírico intensifica o sentido de profundidade da palavra poética, atribuindo a ela um caráter visceral, orgânico, vivo. Ao mascar, morder, a palavra, quer alcançar, ou “versejar”, “o âmago das coisas”, o que é comparável à expressão “chegar ao tutano do osso”.

03 – Na segunda estrofe, o eu lírico pede que não seja despertado. Por quê?

      Porque ele está olhando para o vazio, num estado de contemplação, reflexão, necessário ao seu fazer poético. Ele busca olhar para o exterior para captá-lo e internalizá-lo.

04 – Para você, o que representa a imagem da caminhada presente na última estrofe? Explique sua interpretação com base no texto.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Como o título, “Da calma e do silêncio”, se relaciona com o caráter metalinguístico do poema?

      O título sintetiza os elementos necessários para a poeta desenvolver seu trabalho artístico. Ela precisa da calma e do silêncio.

06 – Compare agora o fazer poético de Conceição Evaristo ao de Fernando Pessoa e ao de Manoel de Barros. Eles se aproximam ou se distanciam? Explique.

      Conceição Evaristo entende o fazer poético como um processo visceral, que é possível por meio de uma viagem interior, de autoconhecimento. Assim, distancia-se do fazer poético de Fernando Pessoa, pois não explicita a racionalidade do processo criativo, e aproxima-se, em “Da calma e do silêncio”, do fazer poético de Manoel de Barros em “O apanhador de desperdícios”, que afirma usar a palavra para compor seus silêncios. O caráter introspectivo está presente em ambos. Do mesmo modo, também se aproxima desse poeta por preferir um ritmo mais lento para a composição e para a vida.

07 – Com quais poemas você se identifica mais? Compartilhe suas impressões com os colegas e o professor.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

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