domingo, 7 de agosto de 2022

CRÔNICA: O CAMALEÃO DALTÔNICO - ANTÔNIO PRATA - COM GABARITO

Crônica: O camaleão daltônico

              Antônio Prata

         Era uma vez um camaleão daltônico. Quando a folha era verde, ele ficava vermelho, na terra vermelha, se pintava de verde, comendo bananas, se besuntava de azul, e, entrando na água, se amarelava todo. Um dia, os outros camaleões o chamaram para uma conversa. “Aí, parceiro, a gente não tem garra, não tem veneno, não tem juba, a nossa parada é disfarce. Com você na área, geral tá correndo perigo. Vaza.”

        O camaleão daltônico pegou sua trouxinha e, azul de raiva, foi morar do outro lado da floresta. Acontece que, justamente naquele dia, nos confins da mata, havia um fotógrafo da “National Geographic” clicando umas borboletas. O fotógrafo da “National Geographic” pirou no camaleão daltônico, que, cor de abóbora, sobre uma vitória-régia, estampou as capas da revista nos quatro cantos do globo. Pouco tempo depois, todos os camaleões da floresta entraram numas de contraste, pra imitar o camaleão daltônico.

        Quem gostou muito da novidade, além dos fotógrafos da “National Geographic”, foram os gaviões, as cobras e os quatis: numa única tarde, boa parte dos camaleões foi extinta. Entre os que sobraram, os mais à direita culpam o camaleão daltônico, os à esquerda culpam a mídia – e seitas apocalípticas pregam que a semiextinção dos camaleões é prova irrefutável do fim dos tempos e da chegada iminente do Grande Camaleão.

PRATA, Antônio. Publicada em: 23 mar. 2015. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/03/1606438-o-camaleao-daltonico.shtml.  Acesso em: 9 nov. 2015.

       Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 256-7.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado da palavra daltônico?

      Que não distingue as cores adequadamente.

02 – Explique o efeito que o cronista produziu com a expressão era uma vez.

      Era uma vez é uma expressão típica dos contos de fadas ou fábulas e institui um universo imaginário.

03 – O tipo de artigo usado na expressão é relevante para a construção desse sentido? Justifique.

      Por empregar um artigo indefinido, a expressão sugere uma época indeterminada, favorecendo a instituição do mundo imaginário.

04 – Segundo o texto, o que é um “camaleão daltônico”?

      Um camaleão cuja cor não acompanha a dos ambientes em que está.

05 – Que termos foram empregados, no segundo e no terceiro períodos, para retomar camaleão daltônico? Eles também retomam a noção de indeterminação expressa pelo artigo um, que acompanhava essa expressão? Justifique.

      São empregados os pronomes ele e o. Eles não retomam a noção de indeterminação, pois o referente já está definido (o “camaleão daltônico” já foi apresentado ao leitor).

06 – O que justifica o uso do artigo definido em da floresta?

      Trata-se de uma floresta específica: aquela habitada pelos camaleões de que fala o texto.

07 – O que é “National Geographic”? Por que foi escolhida essa caracterização para o fotógrafo?

      É o nome de uma publicação voltada a assuntos relativos ao planeta, principalmente ao meio ambiente e a determinadas culturas.

08 – Compare estas três referências e comente as diferenças de sentido promovidas pelo uso de diferentes artigos.

• “Um fotógrafo da National Geographic”.

• “O fotógrafo da National Geographic”.

• “Os fotógrafos da National Geographic”.

      O artigo indefinido um indetermina o substantivo: trata-se de um fotógrafo qualquer. O artigo definido o particulariza: indica um fotógrafo específico, já conhecido pelo interlocutor. O artigo definido os generaliza o substantivo ao indicar totalidade.

09 – Como é formada a palavra numas (“entraram numas de contraste”)?

      É formada pela combinação da preposição em com o artigo indefinido umas.

10 – No sentido usado no texto, a expressão entrar numas é uma gíria. O que ela significa?

      O termo significa “seguir certa moda”, “comportar-se de certo jeito”.

11 – O emprego da gíria numas destoa do conjunto do texto? Justifique.

      Não. O texto emprega várias gírias, como parceiro, na área, vaza.

12 – Explique o uso do artigo definido antecedendo gaviões, cobras e quatis.

      O artigo definido, nesse caso, serve para indicar a espécie, o grupo desses animais, sem particularizar o indivíduo.

13 – Em “Entre os que sobraram, os mais à direita culpam o camaleão daltônico, os à esquerda culpam a mídia”, os não é um artigo, é um pronome demonstrativo, com sentido de aqueles. Com base na função sintática do artigo, explique que característica típica dele não existe nesse uso.

      O termo não é determinante do substantivo.

14 – O produtor do texto escreveu “a semiextinção dos camaleões é prova irrefutável do fim dos tempos” sem o emprego de artigo antes do substantivo prova. Que tipo de artigo poderia ser colocado para manter o sentido original? Por quê?

      O artigo indefinido manteria o sentido (uma das provas); já o artigo definido expressaria a ideia de que existe uma única prova, um sentido diferente do que está no texto.

15 – Nesse contexto, o que seria o “Grande Camaleão”? Por que o artigo definido antecede a expressão?

      O “Grande Camaleão” seria uma divindade que apareceria no final dos tempos, imitando previsões de muitas religiões e seitas humanas. O artigo indica a especificação.

16 – Com essa fábula sobre os camaleões, a crônica satiriza o comportamento humano. Na sua opinião, o que o cronista quer evidenciar?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A crônica mostra algumas características humanas, como o desejo de exposição na mídia, a isenção de alguns na indicação dos culpados por certas situações, a divergência ideológica entre grupos e a crença em algumas lendas.

 


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