quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

RELATO PESSOAL: INVENTANDO MODA - ANA PAULA XONGANI - COM GABARITO

 Relato pessoal: Inventando moda

                         Ana Paula Xongani

        Meu nome é Ana Paula Mendonça Costa Pedro Ferro, mas o nome que eu uso é Ana Paula Xongani. Toda a minha família é negra. Das vezes que eu fui pra Moçambique, as pessoas perguntavam se eu era angolana. Eu me reconheço nas características das angolanas, mas não tenho certeza. Meu pai e minha mãe moravam na zona Leste de São Paulo, e eles se conheceram no ônibus. Minha mãe sempre pegava o mesmo ônibus pra ir pra escola e um primo do meu pai pegava o mesmo ônibus. Ele se encantou com a minha mãe e comentou com o meu pai. Meu pai quis ver de perto e eles se apaixonaram.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj01waVODbRcHcBg3N28PIthimwYCrUDZqLWT1BkjJCUlWXQ-65Z6wYEOMAbiDBYtDMn5MFDR8-NHJqNdWEdUf15rkGJc64zm3K19W-XMIjpesiZWIX0L-F-4SAyPh8j1gQ6gMZDTWVaMhCBLq_FcTZy06JKWvlaaniHBF9k32aykThfPFo0RlciA7Xfr0/s320/casal.png


        [...]

        Eu fui muito cuidada por toda a minha família, minha mãe, meu pai e meu irmão. Lembro muito das brincadeiras que o meu irmão fazia comigo, ele interpretava vários personagens. Lembro também de brincar muito com os meus amigos do prédio. Tinha algumas famílias negras no nosso condomínio e os pais criaram um elo, onde todo mundo era padrinho e madrinha de alguém. Então as crianças cresceram juntas, como primos. Nessa época, minha mãe começou o processo de militância negra, e lembro que meus amigos eram filhos de militantes. E eu ia com ela nos encontros e ficava bagunçando com os meus amigos. E era um lugar onde eu me fortalecia enquanto menina negra, era um lugar onde eu era bonita, todos eram iguais.

        [...]

        Minha escola foi bem difícil, passei por muitas experiências de racismo, e eu também era disléxica, tinha muita dificuldade de aprendizado. Foi um momento difícil de isolamento, eu era a única menina negra da classe, não podia falar o que eu queria, ser o que eu queria. Mas fora da escola eu me sentia bem, participava de um coral infantojuvenil de música afro-brasileiras, fazia artes plásticas, dança, teatro, jazz, natação, participava dos projetos sociais junto com a minha mãe. Era legal porque a minha família era muito unida, aonde um ia, todo mundo ia.

        Eu fiz faculdade [...], e lá eu sofri o pior racismo da minha vida. Eu era invisível, os professores nem liam meus trabalhos, me davam respostas rasas pra tudo que eu perguntava. [...]

        Nenhum professor quis me orientar, mas meu companheiro e nossos amigos fizemos tudo juntos, eles me orientaram, me ajudaram com a organização, com a apresentação. No dia da apresentação, eu fui preparada. Não teve como eu ser invisível ali, todo mundo tinha que assistir. No fim da minha apresentação, eu fiz um discurso enorme contando tudo o que eu passei, chorei tanto que lavei minha alma, dei nome para todos os bois. [...]

        Depois disso eu casei e fui pra Moçambique, e lá pude me conectar com muitas coisas, resgatar minha ancestralidade. Lá eu descobri que eu podia ter dread, uma referência que eu não tinha em lugar nenhum. Lá também eu descobri os tecidos africanos, e a partir daí tudo mudou. Levei vários tecidos de lá pra São Paulo, e eu e minha mãe começamos a fazer roupas com eles. Assim nasceu [...] a nossa marca de produtos para as mulheres pretas, pensando no corpo delas, coisa que marca nenhuma fazia. Eu mesma tive que parar de fazer natação na minha infância porque não existia uma touca em que coubesse o meu cabelo. Eu e minha mãe paramos de andar de moto porque não tem um capacete em que caibam os nossos cabelos. Então quando a gente começou a perceber que a gente podia cuidar desse corpo, dessa mulher negra, e que a moda podia comunicar e consolidar essa luta do negro no Brasil, a gente teve certeza de que era isso que tínhamos que fazer, e fazemos até hoje.

Ana Paula Xangani. Em: Museu da Pessoa. Disponível em: https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/historia/inventando-moda-120966/colecao/115736. Publicado em: 27 dez. 2016. Acesso em: 17 maio 2021. Fragmento.

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP148-152.

Entendendo o relato pessoal:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Moçambique: país localizado no Sudeste da África.

·        Angolana: pessoa nascida em Angola, país no Sul da África.

·        Militância negra: atividade de quem é militante, pessoa que atua em defesa de uma causa; no caso, a luta contra o racismo em suas diversas formas.

·        Disléxica: pessoa que sofre de um distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura.

·        Ancestralidade: características e história que vêm dos antepassados.

·        Dread: penteado na forma de mechas emaranhadas.

02 – Quem é o autor do relato?

      Ana Paula Mendonça Costa Pedro Ferro.

a)   Qual é o nome que ela usa?

Ana Paula Xongani.

b)   Na língua changana, falada em Moçambique, o nome Xongani tem um significado similar a “se enfeitem”, “fiquem bonitas(os)”. Na sua opinião, por que a autora do texto usa Xongani como sobrenome?

Ao usar esse nome junto ao seu, a autora do texto demonstra o afeto que tem por sua própria identidade e por Moçambique.

03 – Logo no primeiro parágrafo, a autora menciona características da família e dela também. Que características são essas?

      Ela menciona que toda a sua família é negra e que ela tem traços de pessoas angolanas.

04 – Escolha a alternativa que explica por que ela apresentou essas características logo no início do relato.

(  ) Ela não tinha qualquer intenção especial ao apresentar essas características.

(X) Para ela, ser negra e reconhecer que sua história está ligada à história de seus ascendentes africanos é importante por ter uma influência marcante em sua vida.

(  ) Ela apresentou essas características logo no início por considerar que eram menos importantes do que o resto de sua história.

05 – No segundo parágrafo, ela afirma:

        “E era um lugar onde eu me fortalecia enquanto menina negra, era um lugar onde eu era bonita, todos eram iguais”.

·        Por que ela se sentia dessa forma nos encontros de militância de que participava com a mãe? Escolha a alternativa correta.

(X) Como esses encontros tratavam do combate ao preconceito, era natural que ela se sentisse valorizada e em um ambiente de harmonia.

(  ) Porque ela podia brincar com os amigos.

(  ) Porque ela também tinha o desejo de ser militante.

06 – No terceiro parágrafo, Ana Paula conta como se sentia na escola. Releia a frase a seguir.

        “Foi um momento difícil de isolamento, eu era a única menina negra da classe, não podia falar o que eu queria, ser o que eu queria”.

a)   Por que ela se sentia dessa forma?

Porque sofria muitas experiências de racismo e por ter dificuldades de aprendizagem.

b)   E fora da escola, como ela se sentia? Por quê?

Ela se sentia bem, acolhida pela família e pela comunidade em que vivia, e realizava muitas atividades.

c)   E você, como se sente dentro e fora da escola? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

07 – Ana Paula afirma que sofreu racismo na faculdade. Releia:

        “Eu era invisível, os professores nem liam meus trabalhos, me davam respostas rasas pra tudo que eu perguntava”.

a)   Como você entende a afirmação “Eu era invisível”?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ela era ignorada pelos professores.

b)   Você já se sentiu invisível em alguma situação? Se sim, o que aconteceu?

Resposta pessoal do aluno.

08 – Ao viajar para Moçambique, Ana Paula fez descobertas. Assinale a alternativa correta.

(X) Em Moçambique, Ana Paula aprendeu a valorizar a cultura de seus ancestrais africanos e hábitos atuais, como usar dread, que no Brasil podiam ser considerados incomuns.

(  ) Em Moçambique, Ana Paula resgatou ancestrais e aprendeu a usar dread e tecidos africanos.

09 – Ana Paula trouxe tecidos africanos para São Paulo. O que ela e a mãe fizeram com esses tecidos?

        Criaram uma marca de roupas adequadas ao corpo das mulheres negras.

·        Ana Paula afirma que nenhuma marca fazia o que ela e sua mãe se dispuseram a fazer. Qual seria a causa disso?

Provavelmente, era por causa do preconceito e do racismo.

10 – Releia o trecho a seguir:

        “[...] No fim da minha apresentação, eu fiz um discurso enorme contando tudo o que eu passei, chorei tanto que lavei minha alma, dei nome para todos os bois. [...]”.

a)   Os trechos destacados devem ser entendidos em sentido literal ou figurado? Explique sua resposta com base no boxe abaixo.

·        Sentido literal: sentido próprio das palavras, registrado em dicionário.

·        Sentido figurado: novo sentido que as palavras ganham em um contexto.

Os trechos em destaque devem ser entendidos em sentido figurado, pois Ana Paula não lavou a própria alma ou nomeou bois.

b)   Reescreva o trecho citado, substituindo as partes em destaque por outras equivalentes.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: No fim [...] chorei tanto que desabafei, indiquei/nomeei cada pessoa responsável pelo racismo que sofri.

 

 

 

 

 

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