sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CRÔNICA: OS EX-RICOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Os Ex-Ricos

               Walcyr Carrasco

VOU VISITAR UMA AMIGA. Desempregada, ela acaba de mudar de casa. Estranho o endereço, nos Jardins. Há uma semana a dita senhora morava com umas primas solteironas, dormindo em um sofá-cama. Terá descoberto novos e generosos- parentes? Suspiro. Deve ser difícil ser uma dama e ter de lutar pelo bife de cada dia. Aperto a campainha. Ela me recebe com um sorriso radioso. Os móveis, recuperados da garagem das primas, espalham-se por uma sala soberba. Percebo rolos de tecido de decoração a um canto. Coço a cabeça. Ela me explica, feliz da vida.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDDPOy3tgorUcHx37e0BubMkuNQJzEXtYbOxKFvh3V2Mu9wRA5JI07t86-UwXiE7du0gjQ2g3FCFAB0Y0imTiSqyrSrJqvTCnk7MdA9D_WOX8pBdPRGPb67bTfGJ1zfjj8EnMXwmoFqmgiT2cGte2xfOulg8VJZkFNNoEPiNsa3kFKOGtlgG8J2JRBqig/s320/RICOS.jpg


— Vendi o terreno!

Em tempo: o tal terreno localizava-se em um dos condomínios mais caros de São Paulo. E o Parque Silvino Pereira, na Granja Viana, onde um lote de cinco mil metros custa em torno de quatrocentos mil reais. A dama recebera o imóvel de herança. Espanto-me.

— Mas o dinheiro deu para comprar essa mansão?

— Comprar, não. Aluguei!

Alguns amigos espalham-se pela sala, bebericando copos de uísque. Uma bandeja aninha caviar e torradinhas. Comemoram a iminente partida da dama para Nova York. Plantado na minha educação de classe média, reflito. . -— Mas desse jeito o dinheiro vai acabar!

Ela me encara como se tivesse dito que ela estava gorda. Falar em fim_de dinheiro pareceu o cúmulo da deselegância!

Voltou do exterior carregada de compras. Dali a alguns meses alugou um quarto para um conhecido. Outros mais, e brigou com o pensionista porque ele comeu as duas últimas salsichas da geladeira. Não tardou, vendeu parte dos móveis e retornou ao sofázinho das tais primas solteironas. Com dívidas.

As idas e vindas da economia acabaram criando uma classe de ex-ricos, e até de ex-novos-ricos. Nesta cidade as ondas econômicas evidenciam as marés do país. Saímos dos ex-barões de café e dos ex-industriais aos ex-altíssimos executivos de multinacionais aos... enfim... Boa parte tem uma coisa em comum: só sabe viver à larga. São pessoas que vendem casas para comprar uma partida de vinhos, ou, simplesmente, jantar fora por mais seis meses. Dão festas e no dia seguinte pelejam para não pagar a faxineira. Se recebem visita em época de vacas magras, oferecem:

—- Quer comer uma saladinha? Estou de regime.

E lá vem um prato de alface. Se torram uma propriedade, atacam de salmão norueguês! A antiga nobreza também sofre! Certa vez, numa festa, um grupo agitava-se em torno de uma senhora de coque, muito fina.

— E uma princesa — alguém contou.

De fato. Seus pais seriam os herdeiros do trono de um reino italiano se não tivesse acontecido a Unificação, Garibaldi e a economia de mercado. A princesa continuava princesa nos gestos suaves. Seu anel de brasão emitia raios a cada movimento de seus dedos. De tão elegante, todo mundo se sentia constrangido ao comer perto dela. Quase comentei: a gargantilha parecia ser bijuteria, e não uma joia de família de origem remota. Mas um plebeu como eu sabe reconhecer preciosidades?

Dias depois encontro um amigo despachado, conhecido do anfitrião.

Conta.

— A princesa? Mora num sobradinho geminado. Quer ver?

Curiosidade pouca é bobagem. Fui. Na garagem real, um fusca. No terraço de cima, um casal grisalho, tomando sol de sandália de dedo. Meu amigo mostrou, discreto.

— Aqueles são o rei e a rainha. Poderiam estar mandando decapitar pessoas. Agora são obrigados a fazer a feira. Já venderam até os talheres de prata, mas a rainha e a filha princesa não saem do cabeleireiro.

Vida de ex-rico não é fácil. E capaz de fritar ovo na água para economizar óleo. Mas não consegue sobreviver sem uma taça de champanhe.

Entendendo o texto

01. Qual é a condição financeira da amiga que o autor vai visitar no início da crônica?

a) Rica.

b) Classe média.

c) Desempregada.

d) Endividada.

02. Onde a amiga morava antes de mudar para os Jardins?

      a) Nova York.

      b) Na Granja Viana.

      c) Com suas primas solteironas.

      d) Em um condomínio caro em São Paulo.

03. Como a amiga conseguiu a casa nos Jardins?

      a) Comprando.

      b) Alugando.

      c) Herdando.

      d) Construindo.

04. O que a amiga faz com o dinheiro obtido pela venda do terreno?

      a) Compra uma mansão.

      b) Investe no exterior.

      c) Faz compras em Nova York.

      d) Aluga a casa nos Jardins.

05. O que a amiga faz quando volta do exterior?

      a) Vende mais terrenos.

      b) Aluga quartos para conhecidos.

      c) Abre um restaurante.

      d) Investe em ações.

06. Como o autor caracteriza a classe de ex-ricos na cidade?

      a) Poupados.

      b) Frugais.

      c) Gastadores.

      d) Investidores.

07. Qual é a característica comum entre os ex-ricos mencionados na crônica?

       a) Sabem economizar.

      b) Vivem de maneira extravagante.

      c) São prudentes financeiramente.

      d) Nunca vendem propriedades.

08. O que aconteceu com a nobreza mencionada na crônica?

     a) Ficaram ainda mais ricos.

     b) Sofreram as consequências das mudanças econômicas.

     c) Mantiveram sua posição social.

     d) Tornaram-se políticos.

09. Como o autor descreve a princesa mencionada na crônica?

     a) Elegante e modesta.

     b) Fina e constrangida.

     c) Descontraída e simples.

 d) Extravagante e chamativa.

10. Qual é a situação financeira atual da princesa no final da crônica?

       a) Rica e próspera.

       b) Endividada e lutando para sobreviver.

       c) Mantendo a nobreza.

       d) Vivendo uma vida modesta.

 

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