Entrevista: Um artesão das palavras – Fragmento
Rosangela Guerra
Quando tinha dez anos de idade, o
escritor Bartolomeu Campos de Queirós viu o mar pela primeira vez. Foi pura
decepção para os olhos de quem, como ele, passava os dias em Papagaio, no
interior de Minas, imaginando o mistério de águas azuis infinitas. “Longe do
mar a gente inventa o oceano.” Não foi a toa que, muitos anos depois, ele
escreveu esta frase, que está no seu livro Ah!, Mar... (Quinteto Editorial).
Bartolomeu foi um menino silencioso, de
olhar e ouvidos atentos. Morava na rua da Paciência, na casa do avô paterno. O
velho Queirós passava os dias debruçado na janela ou escrevendo pequenas
anotações nas paredes da casa, que eram o registro do cotidiano da família e da
cidade. “As paredes pareciam bordadas de palavras”, relembra o escritor. As
histórias que Bartolomeu conta de sua infância são sempre cheias de
encantamentos. Ele se lembra dos doces de leite que a mãe fazia nos
aniversários, cortados em losangos e tingidos de várias cores: “O doce era o
mesmo, mas a gente saboreava a cor de cada um”. [...]
[...]
[...] Sua paixão pela palavra é tanta
que dá para ficar horas conversando sobre palavras com Bartolomeu. Ele diz, por
exemplo, que sombra é uma palavra deitada, e que pássaro só pode ser escrita
com dois ss porque no encontro dessas duas consoantes é que está o
movimento das asas. Nos últimos tempos, Bartolomeu anda pensando muito numa
palavra que ouviu de um motorista de táxi: amortecedores. O mistério que ele
tenta decifrar nessa palavra aparentemente sem graça é a quantidade de pequenas
e belas palavras nela contidas, como amor, tecer, dor, cedo e morte.
Há quem diga que Bartolomeu escreve
livros difíceis para as crianças entenderem. Mas ele justifica com segurança:
“Eu não faço diferença entre literatura infantil e adulta. Aprendi isso com a
poeta mineira Henriqueta Lisboa. Ela dizia que não existe um sol para criança e
outro para o adulto. A literatura deve ser igual à natureza. As crianças
entendem o que escrevo dentro do nível delas. Escrevo para encantar crianças e
acordar a infância dos adultos”.
Rosangela Guerra. Nova
Escola, maio 1994. p. 58.
Entendendo a entrevista:
01 – Como Bartolomeu Campos de
Queirós descreveu sua primeira experiência ao ver o mar aos dez anos de idade?
Bartolomeu Campos
de Queirós descreveu sua primeira experiência ao ver o mar como uma pura
decepção para os olhos, pois ele imaginava o mistério de águas azuis infinitas
enquanto vivia no interior de Minas.
02 – O que inspirou Bartolomeu
a escrever a frase "Longe do mar a gente inventa o oceano."?
A frase foi inspirada na experiência de
Bartolomeu ao ver o mar pela primeira vez aos dez anos de idade, quando ele
estava distante do mar e imaginava o oceano.
03 – Como era a infância de
Bartolomeu Campos de Queirós, especialmente em relação à influência do avô
paterno?
Bartolomeu Campos de Queirós teve uma
infância silenciosa, com um avô paterno que passava os dias debruçado na janela
ou escrevendo anotações nas paredes da casa, registrando o cotidiano da família
e da cidade.
04 – Qual é a analogia feita
por Bartolomeu sobre a palavra "sombra" e a palavra
"pássaro"?
Bartolomeu afirma que "sombra"
é uma palavra deitada, enquanto "pássaro" só pode ser escrita com
dois "ss" porque o movimento das asas está no encontro dessas
duas consoantes.
05 – De acordo com Bartolomeu
Campos de Queirós, por que ele anda pensando muito na palavra
"amortecedores" recentemente?
Bartolomeu está
intrigado com a palavra "amortecedores" devido à quantidade de
pequenas e belas palavras contidas nela, como amor, tecer, dor, cedo e morte.
06 – Como Bartolomeu justifica
a aparente dificuldade de seus livros para crianças?
Bartolomeu
justifica que não faz diferença entre literatura infantil e adulta, aprendendo
com a poeta Henriqueta Lisboa, e acredita que as crianças entendem o que ele
escreve dentro do nível delas, escrevendo para encantar crianças e despertar a
infância dos adultos.
07 – Qual é a visão de
Bartolomeu sobre a literatura infantil em comparação com a literatura adulta?
Bartolomeu
acredita que não há diferença entre literatura infantil e adulta, seguindo a
perspectiva da poeta Henriqueta Lisboa, que afirmava que a literatura deve ser
igual à natureza, e ele escreve para encantar crianças e despertar a infância
dos adultos.
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