sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

CRÔNICA: A VIDA NO MATO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: A Vida no Mato

                Walcyr Carrasco

REALIZEI UM SONHO! Tenho uma casa de campo. É cercada de árvores enormes, restos de uma floresta! Uma delícia, é o que diz quem me visita.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7S0LbxpI-4ZLqp1ojQa4QOssHhmgFzlo18N89TfIAhuDqY5NaOcBG6FMw4CR0ZtuObTMldkqNauv41pdhk5JuJWWJs9D-nTZ4igs-y9jx3TkZoTqMgxDT9RD2G1QbUkFo6_FzkidIkBOt_j8INf2N9_yO4efpcCsXFDryAsnRnSkr-78rASjoIGiLPhg/s320/CAMPO.png


Bem... às vezes! Mal comprei, ordenei ao recém-contratado caseiro.          

— Erga aquele pedaço da cerca e jogue aquele monte de madeira velha.

Depois, desocupe as caixas da mudança.

— Sim, senhor.

Voltei no fim de semana. A cerca igual, as caixas fechadas e a madeira apodrecendo. Suspirei. Três semanas depois, uma camada de poeira se depositava sobre as caixas. Cogumelos cresciam na madeira, e a cerca caiu de vez. Formigas passeavam no sofá. Rugi. Surpreendeu-se.

— Mas o senhor não disse que tinha pressa.

Partiu bravíssimo! Veio um novo. Rapaz jovem, paranaense. Um dia cheguei, ele não estava. Liguei para uma conhecida.

— Ah, falei com ele. Saiu para cortar o cabelo.

Reapareceu três dias depois, surpreso com meu nervosismo.

— E que aproveitei para comprar cigarros.

Deve haver algum tratado de psicologia que ensine a entender a mente dos caseiros. Mais alguns dias, ele me telefonou.

— Ganhei um galo e uma galinha!

Sorri. Imaginei minha futura granja. Eu, cercado por cestas de ovos brancos e pintinhos piando. Tudo começaria com o casal! Seria o Rei do Frango! Fui ver as duas preciosidades.

Estavam trancadas na lavanderia. Meu cachorro husky uivava do outro lado da porta. A máquina de lavar tinha virado poleiro! São assim os cães caçadores! Ficam pirados com o cheiro das penas.

De madrugada acordei com o interminável canto do galo. Adeus, Rei do Frango!

— Bote os dois na panela! — uivei.

Decepcionado, meu ex-futuro sócio, o caseiro, depenou galo e galinha.

Dois dias depois, apareceu com um vira-lata filhote.

         — Deixaram aqui em frente, em uma caixinha. Fiquei com dó.  

Eu queria ter a mesma capacidade de sedução de um cachorro! Bastou ele lamber minhas mãos, e me apaixonei. Botei no colo e assumi a paternidade! No dia seguinte, senti coceiras. Carrapatos! Chamei o veterinário, que examinou o cãozinho inocente. Tinha tudo que se pode imaginar.

— Vou botar um remédio, e ele vai ficar livre de pulgas e carrapatos!

— Seu veterinário, o senhor não pode me tratar também?

Rejeitado, dedetizei a casa de campo e o apartamento.

— Agora estou livre?

— Carrapatos ficam na grama — explicou o dono da dedetizadora, depois de receber o pagamento.

Passei semanas indo ao campo, mas andando de botas, meias e calças compridas. Belo jeito de aproveitar o verão! Mas, enfim... a paz!

Paz? Acordei com os ganidos lancinantes do husky. Havia atacado um porco-espinho. Nunca tinha, visto esses espinhos de perto. Que farpas! Nem se via o focinho do cachorro, pois parecia uma almofada de alfinetes! Prendi a boca do bicho, segurei a lanterna e o caseiro foi retirando espinho por espinho com um alicate enquanto o herói da noite tentava escapar e nos morder!       .

A luz já acabou por conta das chuvas, o transformador da rua estourou e arrasou com vários aparelhos, o telefone ficou com chiado, o cabo da parabólica arrebentou, a bomba do poço fundiu, o motor da piscina deu problema, e a água parada quase criou dengue... enfim, tudo rotina! A cada item, o fornecedor da hora me consola:

— Pelo menos agora está tudo novo. Nunca mais vai dar problema!

Finalmente, tudo arrumado! De preocupação, só a mania do husky de nadar na piscina e deixar flocos de pêlo boiando. Sento-me para ouvir as cigarras ao entardecer. Começa uma ensurdecedora música caipira.

E o caseiro do vizinho. Aproveita para botar o rádio no último volume quando os patrões estão fora! Respiro fundo! E digo:

— Ah, como é bom estar no mato!

Dá para acreditar?

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado na crônica "A Vida no Mato" de Walcyr Carrasco?

a) A vida no campo.
b) As dificuldades com caseiros.
c) As aventuras de ter uma casa de campo.
d) Os animais de estimação do autor.

02. Quem é o narrador da crônica "A Vida no Mato"?

a) Um observador externo.
b) O caseiro do autor.
c) O autor, Walcyr Carrasco.
d) Um visitante da casa de campo.

03. Qual é a função social do caseiro na crônica?

a) Cuidar dos animais.
b) Manter a casa de campo em ordem.
c) Ser sócio do autor.
d) Plantar na horta.

04. O que o caseiro faz com o galo e a galinha que ganha?

a) Coloca na granja.
b) Vende para o autor.
c) Os depena para o autor.
d) Oferece como presente.

05. O que acontece com o cachorro filhote que o caseiro encontra?

a) É adotado pelo autor.
b) É devolvido ao dono.
c) Fica na rua.
d) É doado para o veterinário.

06. Por que o autor decide dedetizar a casa de campo?

a) Por causa das formigas.
b) Por causa dos carrapatos.
c) Por causa das abelhas.
d) Por causa dos mosquitos.

07. O que o veterinário diz sobre os problemas do cachorro filhote?

a) Está saudável.
b) Precisa de cirurgia.
c) Tem pulgas e carrapatos.
d) Está comendo demais.

08. Qual é a rotina de problemas enfrentada pelo autor na casa de campo?

a) Falta de água.
b) Chuvas intensas.
c) Danos em aparelhos.
d) Todas as opções acima.

09. O que o fornecedor da hora consola o autor?

a) Pela falta de luz.
b) Pelos problemas com o cachorro.
c) Pelos danos nos aparelhos.
d) Pela necessidade de dedetização.

10. Como o autor conclui a crônica "A Vida no Mato"?

a) Agradecendo ao caseiro.
b) Expressando seu amor pela vida no campo.
c) Lamentando as cigarras e o rádio do caseiro.
d) Celebrando a tranquilidade do ambiente.

 

 

 

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