sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CRÔNICA: O MESTRE DA FAXINA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Mestre da Faxina

                Walcyr Carrasco

SUBITAMENTE, MINHA FAXINEIRA desapareceu. Deixou chinelos, um avental e um maço de cigarros pela metade. Três semanas depois, resolvi:

— Eu mesmo vou limpar o apartamento!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRd5pS7kI-w__Gdlc6kqZ0jEkuLHUFA_yRYbkWdl4EKjO-Sk3Mqrt_HnSIH8QcCRdswoYy8H70jpfh_yQgdwUCkGDBpwTA3vrLyUwbFX_GC_sgSAO6H-O8GBRv-huYmOcQAZxNKlFp-HvoeZvDOHudVTK4V-jwWlpLPHKjPwcykPoyL4jPVcrZc52iuXM/s320/FAXINEIRO.png


Peguei um saco de lixo grande, botei dois coadores de café usados, a casca de uma mexerica e algumas torradas secas. No processo, um pedaço de torrada caiu no chão. Esmigalhei-o com o pé, sem querer. Observei horrorizado os pedacinhos se espalharem pelo piso.

— Não tem importância, depois vou lavar o chão.

Joguei o lixo. Voltei. Abri a geladeira. Duas cenouras mumificadas me observavam. Retornei ao lixo. Foram dez idas e vindas. Sempre esquecia alguma coisinha! Finalmente, encarei a cerâmica da cozinha. Originalmente, é branca. A alvura ocultava-se sob manchas marrons, vermelhas e cinzentas. Passei a vassoura.

As manchas continuavam lá. Tocou o telefone.

— Estou às voltas com a vassoura — expliquei, sorridente.

— Vai voar? — perguntou meu interlocutor.

Desliguei e voltei à cozinha. Tinha espalhado as migalhas de torrada por todo o trajeto. Achei melhor me concentrar e pensar na sala mais tarde. Cautelosamente, espalhei o líquido limpador multiuso no chão. Puxei a sujeira com o rodinho. As manchas desapareciam magicamente!

— Venci as faxineiras — comemorei.

Só então descobri estar do lado oposto à porta. Ao voltar sobre a área limpa e molhada, na ponta dos pés, minhas botas espalharam marcas pretas, bem redondinhas. Dava a impressão de que uma cabra havia passado por lá. Suspirei. Tirei os sapatos, as meias e arregacei as calças. Joguei limpador de novo. Puxei o rodinho, dessa vez ao contrário. Trouxe uma horrível borra cinza até a porta da sala. Quando ia atingir meu tapete persa, corri até a pia, peguei um pano e ajoelhei-me para eliminar a borra. O pano estava imundo, emporcalhei tudo mais ainda. Pior; meus joelhos também se sujaram e minhas próprias calças passaram a criar manchas. Não tive dúvida: tirei a roupa toda.

— O melhor é ficar nu — concluí, embora, é claro, nunca tenha visto uma

faxineira trabalhando pelada,

Retornei à pia, tentei lavar o pano. A pia entupiu. Corri ao banheiro, acrescentando mais marcas no chão. Molhei e torci o trapo. Mais limpador. Notei que as casquinhas da torrada, apesar de todo o meu empenho, pareciam ter colado na cerâmica. Agachei-me e, com a ponta das unhas, fui tirando uma por uma. Até quase enlouquecer. Quis chorar. Pus a mão nos cabelos, e o líquido de limpeza começou a escorrer pelo meu rosto. Espirrei. Joguei água por tudo, espalhei sapólio e passei o rodinho. Meus pés arderam. Ao. puxar os detritos, eles voaram no tapete persa. Deitei-me sobre ó tapete para caçar os pontinhos de sujeira. Nesse instante, o rodinho escorregou e caiu em direção ao ralo. Na batida, uma poça d'água explodiu. Com fúria, agarrei o pano e passei em cada milímetro do piso. Desmaiei no tapete, exausto. Olhei a cozinha.  

Surpresa! O piso estava limpo! Suspirei, quis tomar um café. Duas gotas negras caíram da xícara. Desesperado, quase lambi o chão. Limpei com meu próprio lenço. Respirei profundamente, senti minha franja grudada nos cílios. Uma mancha de sapólio se instalara na minha barriga! Corri para a ducha. Adormeci pensando como seria fascinante limpar a sala, no dia seguinte.

De manhã bem cedo, a faxineira reapareceu, com uma história complicadíssima. Quase beijei seus pés. Sempre desdenhei os trabalhos domésticos. Quando ouvia alguém falar em ser dona-de-casa, torcia o nariz. Já me arrependi.

Francamente! Que vida!

Entendendo o texto

01. O que aconteceu subitamente na vida do autor que o levou a tomar a decisão de limpar o apartamento?

       a) Sua faxineira ficou doente.

       b) Ele perdeu o emprego.

       c) Ele se mudou para um novo apartamento.

       d) Sua faxineira desapareceu.

02. O que o autor faz ao esmagar sem querer um pedaço de torrada no chão?

        a) Chora.

        b) Ri.

        c) Limpa imediatamente.

        d) Ignora.

03. Como o autor celebra ao perceber que as manchas no chão desapareceram após o uso do limpador multiuso?

       a) Com um banquete.

       b) Com uma festa.

       c) Comemorando a vitória sobre as faxineiras.

       d) Ligando para sua faxineira.

04. O que acontece quando o autor volta sobre a área limpa e molhada?

       a) Nada.

       b) Marcas pretas aparecem.

       c) O tapete persa se suja.

       d) Ele escorrega e cai.

05. O que o autor decide fazer para eliminar as marcas pretas do chão?

       a) Passar o rodinho ao contrário.

       b) Correr até a pia.

       c) Lavar os pés.

       d) Usar sapólio.

06. O que o autor conclui sobre a situação enquanto tenta limpar a cozinha?

        a) Deve continuar nu.

        b) Precisa chamar um profissional de limpeza.

        c) A faxineira é insubstituível.

        d) Deve desistir e contratar outra faxineira.

07. O que o autor faz quando percebe que as casquinhas da torrada parecem ter colado na cerâmica?

        a) Chora.

        b) Tira uma por uma com a ponta das unhas.

        c) Lamenta a situação.

        d) Contrata um profissional de limpeza.

08. O que o autor faz ao deitar-se sobre o tapete após limpar a cozinha?

        a) Admira o tapete persa.

        b) Desmaia.

        c) Liga para a faxineira.

        d) Fica satisfeito com o resultado.

09. O que acontece quando o autor tenta tomar um café após o trabalho de limpeza?

        a) Ele encontra uma xícara suja.

        b) Duas gotas negras caem da xícara.

        c) Ele derrama o café no chão.

        d) Ele não encontra o café.

10. Quem reaparece no final da crônica, facilitando a vida do autor em relação à faxina?

       a) A mãe do autor.

       b) O pai do autor.

       c) O vizinho.

      d) A faxineira.

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