Crônica: Banhos, Banheiros & Cia.
Walcyr Carrasco
UM DOS MISTÉRIOS DA ARQUITETURA moderna é a
importância dada aos banheiros. Há algumas décadas, um casarão tinha dois, no
máximo três banheiros. Observo os anúncios dos apartamentos modernos.
Propagandeiam o número de suítes. Quanto mais, mais luxuosos e mais caros. O
número de banheiros faz a glória dos corretores. A sala pode ser pequena. A
cozinha, minúscula. O quarto de empregada, equivalente a um armário — eu me
pergunto quando as empregadas vão aprender a dormir de pé! Banheiros, há em
profusão. Um apartamento de luxo médio possui três suítes, um lavabo e um
banheiro de empregada. Em contrapartida, tem três dormitórios, sala dupla,
cozinha, quarto de empregada. Cinco banheiros para seis cômodos! Casais
modernos e abastados fazem questão de dois banheiros na suíte. Uma senhora me
revelou:
— A razão pela qual nunca me separei é que meu
marido tem o banheiro dele.
Isso que é matrimônio!
Os apetrechos também estão se tornando mais
sofisticados. Designers criam louças assinadas. Sanitários com grife nunca
pensei! Uma amiga comprou uma banheira com pezinhos, réplica dos antigos
modelos vitorianos. Linda. Assim que instalou, quis inaugurar. Encheu. Botou
essências. Entrou. Tentou sentar-se. Escorregou. A banheira era funda, ela,
baixinha. Agarrou-se às bordas para não morrer afogada. Quis erguer-se.
Patinou. Foi Um custo. Quando conseguiu, a perna não ultrapassava a borda.
Agarrou-se à parede. Os dedos deslizaram pelos azulejos. Quase dependurada no
registro, conseguiu botar um pé para fora. Resvalou pelo tapete. Salvou-se por
pouco. Quando me contou a aventura, observei:
—- Você teve sorte. Do jeito que anda gorda,
podia ter entalado.
Agora está pensando em usar a peça para criar
carpas coloridas,
Entrar no chuveiro ou afundar na banheira é um
ato cada vez mais glamouroso. Só no Shopping Pátio Higienópolis existem duas
lojas em que o forte são os produtos para tornar o banho um ato de luxaria.
Sabonetes com todo tipo de promessa. Uns relaxam, outros melhoram a vida
amorosa, outros energizam. Como se o simples ato de limpar não fosse mais
suficiente. Sal grosso aromatizado para tirar o mau-olhado e perfumar. Existem
até umas bolinhas exóticas. Jogam-se na banheira e elas efervescem, soltando
pétalas de flores. Alguns sabonetes também trazem flores incrustadas. Ganhei
um. À medida que usava, foi surgindo uma margarida. Mais tarde, alguém
comentou:
— O que você tem na orelha?
Eram pétalas. Também havia algumas em meus
cabelos. Quando vi, estava arrancando pétalas de todo o corpo. O sabonete me
transformara em um sachê!
Comentei o fato com a amiga que me presenteou.
Ela irritou-se:
— É um sabonete supernatural. Não serve para
tomar banho.
— Poderia me explicar para que serve um
sabonete?
— Esse é para levantar o astral. E, se não
levantou o seu, o problema não é com o sabonete. É com você mesmo!
Haja! Sabonetes também estão ganhando grifes!
Os industrializados seguem a onda. Outro dia peguei uma embalagem que prometia
vantagens adicionais. Vitaminas potentes, hidratação. Deu a impressão de que
bastava usar três vezes para nunca mais pensar em operação plástica.
Rejuvenescimento e espuma, eis tudo. Mas o grande hit da tendência vem do
Japão. Banho em ofurô entrou na nova novela das 7. Prova de que a moda está
ficando mais forte que nunca. Quis experimentar. Toma-se um leve banho antes e
entra-se numa tina escaldante. Nunca tinha conjugado o verbo ferver. Agora sei
como se sente uma galinha que vai ser canja. Tentei levantar e sair. Avisaram:
— Relaxe. Aproveite! Descanse e elimine as
tensões.
Insisti. Fervi mais um pouco. Só a cabeça de
fora. Meu corpo ficando rosado. Comecei a lembrar de histórias de missionários
capturados na África. Tenho um primo que é missionário. Ultimamente tem enviado
cartas falando em fazer contato com uma tribo canibal. Talvez devesse
convidá-lo para um banho de ofurô, para testar sua vocação. O fato é que saltei
fora em exatos sete minutos e meio. Reconheço que fiquei aliviado ao sair.
Qualquer ser humano relaxaria ao salvar-se dá água escaldante.
Sempre fui do tipo antiquado, para quem um banho é um banho. Fervidas à parte, reconheço que sabonetes delicados, essências, flores boiando na água e toalhas felpudas têm seu charme. No dia-a-dia tão banalizado, um banho calmo, mas glamouroso, é quase uma experiência existencial.
Entendendo o texto
01. O que o autor destaca como um dos mistérios da
arquitetura moderna no início da crônica?
a) A
falta de banheiros nos casarões.
b) A importância dada aos banheiros.
c) A
ausência de suítes nos apartamentos modernos.
d) A decadência dos banheiros em
residências.
02. Quantos banheiros, em média, um apartamento de
luxo médio possui, conforme mencionado na crônica?
a) Dois.
b) Três.
c) Cinco.
d) Seis.
03. Por que a senhora revelou que nunca se separou
do marido?
a) Porque ele tem um banheiro próprio.
b)
Porque ela ama seu marido profundamente.
c)
Porque ele é um homem rico.
d)
Porque ela adora banheiros de luxo.
04. O que a amiga do autor comprou para o banheiro
que se tornou motivo de uma aventura engraçada?
a) Um
chuveiro luxuoso.
b) Uma
pia com design exclusivo.
c) Uma banheira com pezinhos.
d) Um
vaso sanitário de alta tecnologia.
05. Segundo a crônica, o que torna entrar no
chuveiro ou afundar na banheira cada vez mais glamouroso?
a) A
presença de flores.
b) A utilização de sabonetes com grife.
c) A compra
de produtos luxuosos.
d) A
instalação de louças assinadas.
06. Qual é o acontecimento glamouroso mencionado na
crônica que ocorre no Shopping Pátio Higienópolis?
a)
Desfile de moda.
b)
Lançamento de perfumes.
c)
Exposição de carros de luxo.
d) Lojas com produtos para tornar o banho um ato de luxo.
07. O que aconteceu quando o autor usou um sabonete
presenteado por sua amiga?
a) Ele
teve uma reação alérgica.
b) O
sabonete não espumou.
c) Surgiram pétalas em seu corpo.
d) Ele
se transformou em um sachê.
08. De acordo com a amiga que presenteou o autor
com o sabonete, qual era a finalidade do produto?
a) Limpar
a pele.
b) Levantar o astral.
c)
Proporcionar relaxamento.
d)
Hidratar a pele.
09.
O que o autor experimentou pela primeira vez durante um banho em ofurô?
a) Fervura.
b)
Espuma aromatizada.
c)
Relaxe profundo.
d) Contato com sabonetes exóticos.
10. Qual é a conclusão do autor sobre a experiência
do banho em ofurô?
a) Ele
adorou e recomenda a todos.
b) Ele se sentiu como uma galinha prestes a ser cozida.
c) Ele
achou relaxante e eliminou as tensões.
d) Ele
prefere banhos tradicionais e simples.
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