terça-feira, 23 de janeiro de 2024

CRÔNICA: PEQUENOS DELITOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Pequenos Delitos

                Walcyr Carrasco

 COMPRAS DO MÊS. Percorro as prateleiras do supermercado olhando gulosamente tudo aquilo que é bom mas engorda. Um senhor magro e grisalho pára diante dos iogurtes. Olha em torno, cautelosamente. Agarra uma garrafinha sabor morango, abre e vira na boca, bem depressa. Esconde a embalagem. Disfarço, mas sigo o homem. Podem me chamar de abelhudo. Sou. Minha desculpa é que só tento entender o comportamento humano para escrever depois. Dali a pouco o homem pega um pacote de bolachas. Abre. Come algumas. A sobremesa? Na banca de frutas. Uvas itália tiradas do cacho. Um pêssego pequeno. Devora. Esconde o caroço no bolso. Nem sei como consegue fazer a digestão, tal a rapidez. Não, não se trata de nenhum MSS — Movimento dos Sem-Supermercado — ou coisa que o valha. É um senhor com jeito de vovôzinho e trajes de classe média. Termina as compras de barriga cheia e com expressão de vitória.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3MGqqXgQxl6haFvHsBfOl3m184bGb2__O67meSTYxoteOKgPGDdCgJ1GI_RbskHg_ax99NgF4Ay9BMehZKQoneq-V49GhQ4ImwNnuvby2-4doa1Dv80ryN3MlMPUxuS0GITb39jqi3JwhSzfXqEcDS7h06mjn-y7bH3f0lJcli0btALntF_aP-2sYCGM/s320/furto-960x540-1.jpg 


— Faço de tudo para não praticar pequenos delitos — conta uma amiga. — É uma responsabilidade pessoal.

Culposamente, lembro de quando vou comprar fruta seca. Adoro uva passa. Com a desculpa de experimentar, pego uma. Duas. Três. Trezentas! Outra amiga é absolutamente contra camelôs. Diz que emporcalham a cidade. Há uma semana chegou com um brinquedo para os filhos.

— Paguei baratinho — contou animada.

Era de uma banquinha do centro da cidade. Espantei-me.

— Você não é contra?

— Sou contra, mas não sou burra!

Pode? Hoje em dia se fala muito em ética. Mas, quando podem dar o golpe nas pequenas coisas, muita gente se sente orgulhosa. Conheço uma livraria, em Pinheiros, onde sempre se aceita devolução. Recentemente uma senhora levou seu exemplar. A gerente não reconheceu o livro. A cliente teimou. Ela verificou todas as notas. Simplesmente o título não havia sido negociado. Insistiu:

— Eu troco, desde que a senhora me diga a verdade. Não é daqui, é?

A mulher reconheceu: havia comprado o exemplar há tempos, em outro lugar. Mesmo assim, aceitou a troca e saiu satisfeitíssima com um livro novo. Outra cliente levou o livro de atividades do filho, acompanhada pela criança. Trocou. Dias depois se descobriu que os questionários internos estavam preenchidos a mão. Era golpe.

         — Que exemplo essa mulher dá ao filho? — admira-se a moça.         

E quando o troco vem errado? Confesso que a minha primeira reação é de alegria! De repente, tenho mais dinheiro do que pensava. Em seguida lembro que a diferença será paga pelo caixa. Devolvo. Já vi gente feliz da vida porque o dono da loja fez confusão nos preços. Outra coisa que odeio é emprestar e não receber. Há uma predisposição, para não pagar pequenas dívidas. Mesmo quem empresta fica sem jeito.

— São só cinco reais... não faço questão.

Como se fosse feio receber o que é seu! Já ouvi, uma vez que reclamei.

— Pão-duro! Você liga pra mixaria?

Tenho um conhecido que jamais tem dinheiro para dar ao manobrista.

Sempre me pede  um trocado. Se eu não tenho, pede desculpas ao homem.

— Da próxima vez, dou em dobro.

Ou então:

— Saí sem talão de cheques. Hoje você paga o jantar, o próximo é meu.

         Ah, que raiva! De facadinha em facadinha, faz uma bela economia. .

Surrupiar um queijinho no supermercado parece não ter sequer importância. Mas os pequenos delitos, quando somados, tornam a vida na cidade grande ainda mais selvagem.

Entendendo o texto 

01. Quem narra a crônica "Pequenos Delitos"?

      a) Um senhor magro e grisalho.

      b) Uma amiga do narrador.

      c) Um observador abelhudo.

      d) Um dono de supermercado.

02. Qual é a desculpa do narrador para observar o comportamento humano no supermercado?

     a) Está com fome.

     b) Gosta de fazer compras.

     c) Quer entender para escrever depois.

     d) Procura por ofertas.

03. O que o senhor magro e grisalho faz no supermercado?

     a) Rouba dinheiro.

     b) Experimenta produtos antes de comprar.

     c) Pagar por tudo o que consome.

     d) Faz compras para o Movimento dos Sem-Supermercado.

04. O que a amiga do narrador faz, apesar de ser contra?

      a) Compra fruta seca.

      b) Aceita devoluções na livraria.

      c) Adquirir brinquedos de camelôs.

      d) Pratica pequenos delitos.

05. O que a mulher fez ao perceber que o livro não era da livraria em Pinheiros?

      a) Recusou a troca.

      b) Aceito a troca.

      c) Chamou a polícia.

      d) Processar um cliente.

06. O que uma moça admira ao descobrir o golpe com o livro de atividades?

     a) A honestidade do cliente.

     b) A esperança do cliente.

     c) O exemplo dado ao filho.

     d) A habilidade do gerente da livraria.

07. Qual é a ocorrência do narrador quando recebe algo errado?

     a) Fica chateado.

     b) Fique feliz.

     c) Não percebe.

     d) Pede mais dinheiro.

08. O que o conhecido do narrador faz quando não tem dinheiro para dar ao manobrista?

      a) Pede desculpas ao manobrista.

      b) Prometa dar em dobro na próxima vez.

      c) Dá um cheque ao manobrista.

      d) Dá uma gorjeta generosa.

09. O que o conhecido do narrador faz para economizar em pequenas despesas?

     a) Pede desculpas.

     b) Pede ao narrador trocado para dar ao manobrista.

     c) Cheques de ofertas.

    d) Adiar o pagamento de contas.

10. Segundo o narrador, qual é o impacto dos pequenos delitos na vida na cidade grande?

     a) Tornar a vida mais organizada.

     b) Tornam-se a vida mais selvagem.

     c) Não têm importância.

     d) Melhoram a convivência social.

 

 

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