sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

CRÔNICA: CHORO, VELA E CACHAÇA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

 Crônica: Choro, vela e cachaça

                 Stanislaw Ponte Preta

Enterro de pobre tem sempre cachaça. É para ajudar a velar pelo falecido.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhazPF6v-ItjZ4X2m-ySW7T5QTofMt5OMQRoB1-szP2dpMwb8D0jzhB6yCOejeHTsBLDWpCXLwl-14jZGvlaYIi07s_jWvSPd87vLsguMXaCWQ9x3npjCpWrniejxaiOs8atUig-Bnm_nNNbKF11ald7EsoxYbmo6jdlxlfAhtFV69BM9JgC3offq_rUFE/s320/CACHA%C3%87A.jpg



Sabem como é; pobre só tem amigo pobre e, portanto, é preciso haver um incentivo qualquer para a turma subnutrida poder aguentar a noite inteira com o ar compungido que o extinto merece.

Enfim, a cachacinha é inevitável, seja numa favela carioca, seja num bairro pobre da cidade do interior.

Agora mesmo, em Minas, me contaram, morreu um tio de um tal de Belarmino. Houve velório com a melhor cachaça daquelas bandas, uma chamada "Suor de Virgem". Quando um desgraçado que não tinha sido convidado pro velório do tio de Belarmino soube que fora servida a cachaça "Suor de Virgem" saiu em procura do sobrinho do extinto e, ao encontrá-lo, lascou a ameaça:

— Belarmino, eu soube que tinha "Suor de Virgem" no velório de seu tio e você não me convidou. Mas num há de ser nada. Faço fé em Deus que inda morra alguém na minha família, que é pra eu gastar um desperdício de "Suor de Virgem" e num convidar safado nenhum da sua.

São fatos como os citados que provam a importância da cachaça nas exéquias de quem morre teso, embora — às vezes — a cachaça, ao invés de ajudar, atrapalhe.

Foi o que aconteceu agora em Ubá (MG), terra do grande Ari Barroso. Morreu lá um tal de Sô Nicolino, numa indigência que eu vou te contar. Segundo o telegrama vindo de Ubá, alguns amigos de Sô Nicolino compraram um caixão e algumas garrafas de cangibrina, levando tudo para o velório.

Passaram a noite velando o morto e entornando a cachaça. De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo meio ziguezagueado e num compasso mais de rancho que de féretro. Mas — bem ou mal — lá chegaram, lá abriram a cova e lá enterraram o caixão.

Depois voltaram até a casa do morto, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior espinafração da vizinha do pranteado Sô Nicolino.

É que os bêbados fecharam o caixão, foram lá enterrar, mas esqueceram o falecido em cima da mesa.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado na crônica "Choro, vela e cachaça" de Stanislaw Ponte Preta? a) Tradições funerárias em comunidades pobres.
b) O hábito de consumir cachaça em velórios.
c) Enterros improvisados.
d) A importância da cachaça nas exéquias de pessoas pobres.

02. Quem é o narrador na crônica?

a)   Terceira pessoa.
b) Um amigo de Sô Nicolino.
c) Primeira pessoa.
d) Um observador externo.

03. O que justifica a presença de cachaça em enterros de pessoas pobres, segundo o texto?

a)   É uma tradição antiga.
b) Ajuda os amigos a aguentarem a noite de velório.
c) É uma oferta para os falecidos.
d) Todas as opções acima.

04. O que aconteceu no velório do tio de Belarmino em Minas Gerais?

a)   Houve uma briga por causa da herança.
b) Alguém não convidado reclamou por não ter sido servido com a cachaça "Suor de Virgem".
c) O caixão desapareceu misteriosamente.
d) Todos os convidados ficaram embriagados.

05. O que os amigos de Sô Nicolino esqueceram de fazer durante o enterro?

a) Fechar do caixão.

b) Levar o caixão até o cemitério.
c) Velar o morto.
d) Enterrar o caixão.

06. O que os amigos de Sô Nicolino foram fazer após o enterro? a) Voltaram para casa de Sô Nicolino.
b) Procuraram mais garrafas de cangibrina.
c) Foram celebrar em um bar.
d) Todos os convidados foram embora.

07. Qual foi a reação da vizinha de Sô Nicolino após o enterro?

a) Elogiou a organização do velório.
b) Agradeceu pela presença dos amigos.
c) Criticou os bêbados por esquecerem o falecido em cima da mesa.
d) Ofereceu mais cachaça.

    08. O que prova a importância da cachaça nas exéquias de quem morre teso, segundo o autor?

         a) A cachaça ajuda a preservar o corpo do falecido.
         b) Os amigos se reúnem apenas por causa da cachaça.
         c) A cachaça pode atrapalhar em alguns casos.
         d) Os enterros são mais animados com a presença da cachaça.

   09. Onde acontecem os velórios mencionados na crônica?

         a) Em grandes cidades.
         b) Em favelas cariocas.
         c) Em bairros nobres.
         d) Em comunidades rurais.

  10. Qual é a marca de subjetividade presente na crônica?

       a) A visão humorística e irônica do autor em relação aos hábitos funerários.
       b) A tristeza e melancolia expressas pelos personagens.
       c) A neutralidade do autor ao relatar os eventos.
       d) A crítica direta à tradição de consumir cachaça em velórios.

 

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