sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CRÔNICA: VELHOS AMIGOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Velhos Amigos

                Walcyr Carrasco

RECEBO O CONVITE DE casamento de um amigo. Espanto-me. É o quinto enlace do rapaz. O convite faz menção a uma cerimônia religiosa. Na primeira vez, a noiva deslizou pela nave de véu e grinalda. Ainda está viva. O que ele terá feito para obter a dispensa? Arquivo o mistério para resolver depois. Pego o cartãozinho da lista de presentes. Suspiro. Será o quinto presente. A continuar assim, ele devia abrir um crediário para os convidados.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWS-9mKh6zk_W4RloFseXBtN-vM2uMRBhoAZd94uzZHJiP18dDnBRt6ug_eJKDYYmsJ7_Iz5ybp9yScdps5oQDsVIEH4Xv8Fyx1AYz4ONHWdht_ILIOnuhbuP1WpQMdLihaWjOjZKMfvtWvg_GM8lnPH9IbCQRl60biRYvfNJH2pMDmG5N1d6CE8rtKAk/s1600/VELHOS.jpg

Loja chique. A noiva deve ser descendente do rei Midas. Tudo que escolheu vale o peso em ouro. Penso em fugir e mandar um livro de culinária vegetariana. Seria original. Decido-me por um cinzeirinho que não está na lista, mas é lindo. . Lembro que ele parou de fumar. Decido esquecer. Qualquer comentário, farei um oh! de surpresa:

— Oh, você parou de fumar? Bem... deixe o cinzeirinho para as visitas!

Retiro meu terno do armário. Boto a gravata. Torço para que a comida seja boa. Gosto de me empanturrar de bem-casados e, se der, ainda levar alguns para casa, escondido. Há esperança. A cerimônia é em um bufê. Mal entro, ouço um grito do fundo.      —Você!

Casamentos são ideais para encontrar velhos amigos. Pessoas que dez ou vinte quilos atrás foram íntimas, ressurgem com um sorriso atarraxado no rosto. É leve a sensação do reencontro. Parece que nunca nos separamos! 

Meu filho vai prestar vestibular, acredita?

— Sabe aquele livro que comecei há dez anos? Estou quase terminando!

— E sua filha, como vai?

— Um pouco nervosa. Casei com a melhor amiga dela.

No ar fica a pergunta. Por que nunca mais nos vimos? Não existiu uma briga definitiva. Apenas, um dia, não telefonei para marcar o programa de fim de semana. Duas semanas depois eles ligaram, mas eu não podia. Quando liguei, tinham ido viajar. Os meses foram passando. Os encontros rareando. Dois aniversários depois, não me chamaram. Não nos vimos no final do ano. De vez em quando, uma notícia. Aquele separou, aquela desencarnou. Contemplo os rostos. Se continuasse na mesma turma, minha vida seria diferente? Dá saudade dos bons momentos que poderíamos ter tido. Em seguida, todos agitam canetas, papeizinhos e cartões.

— Dá o Seu telefone. A gente precisa se ver.

— Pega meu cartão. Olha, vou anotar o número do celular e o e-mail.

— Que tal almoçar a semana que vem?

— Ih, a semana que vem não sei se vai dar. Quem sabe na outra.

— Na outra eu é que não posso. E à noite?

— Isso. Talvez à noite. A gente se liga para combinar!

Afundo o cartão no bolso. Viro-me. Sorrio e pego um novo cartão. Continuamos chilreando como beija-flores. Só nos calamos aos acordes da marcha nupcial. Lá vem a noiva de véu e grinalda, de braços com o pai orgulhosíssimo. Todos se olham, constrangidos. Afinal, como ele está casando no religioso? E o divórcio, já saiu? 

Abraço os noivos, desejo felicidades. Consigo me empanturrar de picadinho de frango afogado em um molho exótico. Devoro a sobremesa duas vezes. No fim, agarro o noivo.

— Vem cá, você já não era casado no religioso?

— Ah, essa cerimônia foi só para contentar os pais dela. É de uma outra igreja, dissidente.          .

— E o cartório?

— Não casamos no civil, porque meus papéis estavam enrolados. Mas os velhos pensam que foi hoje de tarde.

— Então eu vim em um casamento que não foi casamento? E ainda dei presente? Tem pai que é cego!

O noivo funga, ofendido. Despeço-me dos velhos amigos. Todos prometem se ver, se ver, se ver... mas, é claro, não vai dar certo. Até o próximo casamento. Quem sabe com o mesmo noivo!

Entendendo o texto

01. Quantos casamentos o amigo do autor já teve até o momento descrito na crônica?

a) 1.

b) 3.

c) 5.

d) 7.

02. O que o autor decide fazer quando vê a lista de presentes na loja chique?

      a) Comprar um livro de culinária vegetariana.

      b) Escolher um presente não listado.

      c) Comprar um cinzeirinho.

      d) Fugir e não levar presente.

03. Por que o autor decide esquecer o cinzeirinho ao perceber que o amigo parou de fumar?

     a) Porque a noiva não gosta de cinzeiros.

     b) Porque ele mudou de ideia sobre o presente.

     c) Porque é um presente inapropriado.

     d) Porque o amigo voltou a fumar.

04. Onde acontece a cerimônia de casamento na crônica?

     a) Igreja.

     b) Casa do noivo.

     c) Bufê.

     d) Clube.

05. O que acontece quando o autor entra no bufê?

     a) Ele encontra um antigo amigo.

     b) Ele encontra a noiva.

     c) Ele ouve um grito do fundo.

     d) Ele percebe que está no lugar errado.

06. Como o autor descreve a sensação de reencontrar velhos amigos em casamentos?

     a) Desconfortável.

     b) Pesada.

     c) Leve.

     d) Incompreensível.

07. Por que o autor não se encontrou com seus antigos amigos nos últimos meses?

     a) Brigou com eles.

     b) Esqueceu de marcar programas.

     c) Estava ocupado viajando.

     d) Não tinha telefone.

08. O que acontece quando os velhos amigos decidem se encontrar novamente?

      a) Comemoram.

      b) Trocam cartões e números de telefone.

      c) Brigam.

      d) Ignoram uns aos outros.

09. Por que o autor questiona o noivo sobre o casamento no religioso?

       a) Ele é contra casamentos religiosos.

       b) Ele está curioso sobre a cerimônia.

       c) Ele acha que o noivo já era casado no religioso.

       d) Ele não gosta do pai da noiva.

10. Qual é a conclusão do autor sobre os reencontros com velhos amigos no final da crônica?

       a) Eles sempre se veem como prometem.

       b) Eles se veem apenas em casamentos.

       c) É difícil manter a promessa de se encontrar.

       d) Eles se veem frequentemente em festas.

 

 

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