Crônica: O Prêmio
A. Roberto M. de
Amorim
O Manoel Antunes veio de Portugal para o Brasil por volta de 1942, quando tinha
apenas 12 anos. Com o falecimento de seus pais, três anos depois, teve que
combater na arena da vida o ímpeto dos homens-fera, gladiadores sedentos de
suor e sangue dos menos favorecidos pela sorte. Precisou passar pelos horrores
da fome, pela humilhação dos seus senhores. Conviveu dia a dia com a ameaça de
uma deficiência cardíaca congênita, semelhante àquela que lhe roubara o pai.
Aos trinta e um anos Antunes se casou com uma moreninha, cor de jambo,
vinda do norte, cujo nome era Lúcia. Era perfeita em cada detalhe: não se
esquecia nunca da hora dos seus remédios, do horário das refeições em absoluto respeito
à dieta; da roupa passada e engomada. Cuidava dele com extremo carinho:
não esquecia o beijo de despedida nem o abraço carinhoso da chegada.
Talvez o Antunes não tivesse alcançado aqueles cinquenta anos bem vividos, não
fosse o zelo de sua companheira.
Foi em meados de 1980, que ocorreu um episódio singular. O Antunes, como
qualquer português que se preze, adorava fazer sua "fezinha" na
loteria, mas se dizia um tremendo azarado porque nada ganhava. Já nem conferia
mais os resultados. Jogava por hábito.
Certo dia, porém, Lucinha recebeu um telefonema da Caixa Econômica Federal,
comunicando que seu Antunes havia sido o único ganhador de um polpudo prêmio na
Loteria Esportiva. Zelosa como era pelo seu esposo, nem mesmo naquele momento
Lucinha deixou de se lembrar do delicado estado de saúde dele, razão pela qual
solicitou do agente que não divulgasse o nome dele até que ela lhe desse a
notícia.
O prêmio da loteria poderia ser sua definitiva independência financeira, talvez
até um tratamento mais especializado no exterior. Mas como dar-lhe a notícia
sem o risco de precipitar um desfecho trágico? Mil planos diferentes lhe
passaram pela cabecinha até que se lembrou do Dr. Alfredo. Com o passar
dos anos ele havia se tornado mais que um médico da família, era um amigo fiel,
conselheiro, digno de toda confiança, alguém que, por uma inata capacidade
perceptiva aliada a uma consciência humanitária sem igual, conseguia encontrar
sempre a solução para os problemas mais difíceis.
Quando procurado por Lucinha, se dispôs imediatamente a resolver a situação,
convocando por telefone a presença de seu marido ao consultório ainda
naquela tarde.
Antunes entrou com uma expressão interrogativa, que questionava sem palavras o
porquê daquela chamada súbita. O Dr. Alfredo o acalmou dizendo que o motivo era
muito mais seu que propriamente do seu cliente. Começou então uma variada
conversa pedindo a ajuda de Antunes para resolução de alguns problemas
particulares, escolhendo o momento certo para falar sobre o assunto do
prêmio. A oportunidade surgiu quando começaram a falar em dificuldades
financeiras. Dr. Alfredo assim se dirigiu ao Antunes:
- Amigo Antunes, posso lhe
fazer uma pergunta assim meio descabida?
- Ora, pois, meu amigo, mas claro! Vamos lá, diga!
- Se você ganhasse hoje, sozinho, na Loteria
Esportiva, o que você faria com todo aquele dinheiro?
- Hum!...Queres mesmo saber, meu amigo?...Eu lhe daria
a metade!
O dr. Alfredo teve um enfarte.
Entendendo o texto
01. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, observando o
sentido das palavras no texto:
1-
precipitar
( 3 ) propósito
2-
congênita
( 2 ) inata
3-
abordar ( 1 ) apressar
4-
determinação
( 4 ) impulso
5-
descabida
( 5 )
imprópria
02. A palavra rede, no texto, tem o sentido de conjunto de estabelecimentos comerciais, mas também
pode significar estrutura formada por fios, cordas ou
outros materiais entrelaçados.
Escreva uma frase com cada sentido da palavra.
Frase com o primeiro sentido: "Antunes era dono de
uma rede de padarias."
Frase com o segundo sentido: "O pescador lançou a rede ao mar."
03. Assinale as palavras que indicam as reações de Antunes diante das
adversidades da vida:
( X )
obstinação ( ) revolta
( X )
força ( )
desespero
( ) aceitação ( X
) ânimo ( X
) "garra" ( ) insatisfação
04. Cite três características de cada personagem:
a) Antunes: Forte,
determinado, empreendedor.
b) Lucinha: Zelosa, cuidadosa,
carinhosa.
c) Dr. Alfredo: Amigo fiel,
conselheiro, perceptivo e humanitário.
05. Transcreva a passagem que comprova que Antunes venceu na vida.
"Contudo,
o Antunes provou ser um forte, vencendo todos os obstáculos com a determinação
de quem sabe que a sombra pertence a quem dela toma posse."
06. Qual a importância de Lucinha nos cinquenta anos bem vividos de Antunes?
Lucinha foi
fundamental nos cinquenta anos bem vividos de Antunes, cuidando dele com
extremo carinho, zelando por sua saúde, proporcionando-lhe uma vida plena.
07. Qual era o hábito de Antunes?
O hábito de
Antunes era fazer sua "fezinha" na loteria.
08. Por que o autor diz que a notícia do prêmio poderia provocar um desfecho
trágico?
Porque
Antunes tinha uma delicada condição cardíaca, e a notícia do prêmio poderia ser
chocante a ponto de afetar negativamente sua saúde.
09. É comum os autores usarem comparações para expressarem melhor uma ideia.
Transcreva uma comparação usada pelo autor ao se referir à Lucinha.
Não há uma
comparação explícita no texto.
10. O escritor considera singular o episódio da
loteria, porque:
a) Antunes jogava por jogar, pois nem conferia os
resultados.
b) o desfecho foi trágico.
c) ele foi o único ganhador do
prêmio.
d) o médico propôs dividir o prêmio com Antunes.
11. Identifique a causa e a consequência de cada oração dos períodos:
a) Lucinha ficou ansiosa porque seu marido era
cardíaco.
Causa: "Lucinha ficou ansiosa."
Consequência: "porque seu marido era
cardíaco."
b) Como o valor do prêmio era
alto, o dr. Alfredo teve um enfarte.
Causa: "Como o valor do prêmio era alto.”
Consequência: "o dr. Alfredo
teve um enfarte."
c) Antunes ficou preocupado por causa da convocação
do médico.
Causa: "Antunes ficou preocupado."
Consequência: "por causa da convocação do médico."
12. O tipo de narrador usado no texto é:
a) narrador-personagem, usa primeira pessoa.
b) narrador-observador, usa terceira
pessoa.
c) narrador-onisciente, usa terceira
pessoa.
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