quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

CRÔNICA: CULINÁRIA AFETIVA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Culinária Afetiva

                 Walcyr Carrasco

 CERTOS PRATOS SÃO TÃO IMPORTANTES quanto um abraço de amor. Nunca esquecerei do pudim de queijo de minha avó. Era uma grande cozinheira essa avó. Seu pudim de leite era massudo, com queijo parmesão, com um delicioso contraste entre doce e salgado. 

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPMAn7lioLhNukVa-yh8h_cHbdT-OPOMKu1sw5HdYT3OemZGQotv3As-Dy8c3Viu73o6SC8Ur1q7QZbCoA4BuDzsyjYLHam1LmET7bFut5w1h1YskfonIq5DJhAB5ORZ9QSOL6I8rkjD2Js3P0VMoit97B1ZD_vvICn0v5SxMMNxoTLfue8Lb1MCisvSs/s320/PUDIM.jpg


Até hoje, quando me oferecem pudim, eu aceito, na esperança de recuperar o mesmo sabor. Nenhum neto esqueceu essa avó, que nas épocas festivas enchia a mesa com cabrito assado, leitão, frangos recheados com farofa, doces de todo tipo. 

Entretanto, os filhos e noras —- meus pais e meus tios —- temiam a cozinheira. Inexplicavelmente, certa vez minha avó confundiu parte da farinha com veneno em pó e quase matou a família inteira com uma fornada de rosquinhas. Salvaram-se as crianças pôr serem muito pequenas. Só comiam papinha. Desde então os adultos viviam ressabiados cada vez que ganhavam uma lata de biscoitos de anis. Eu, nunca! Basta comer um bom pudim para sentir o calor dos beijos e abraços de minha avó.

Minha mãe fazia pão. Se ficava nervosa, ia para a cozinha surrar a massa. Eram pães gordinhos como pés. Bons para comer quentinhos, com manteiga e café. E uma receita difícil de encontrar. Ainda bem. Seria incômodo começar a fungar diante de cada pãozinho francês que me aparecesse pela frente. A filha de uma amiga adora gatos. Compartilha a ração dos felinos. Garante que tem um agradável sabor de peixe. Amo meus cães. Mas ainda não sou capaz de roer um osso. Quem sabe com terapia eu consiga vencer essa última resistência.

Inesquecível a primeira vez em que vi a empregada da vizinha fazer bala de coco. A massa branca rolando de um braço para o outro. Juro. Não há coisa mais linda. Uma empregada da minha infância fazia um ovo frito perfeito. A clara branca e a gema rosada no meio. Dá fome só de lembrar. Também não vou esquecer da primeira vez em que cozinhei para os amigos. O objetivo: frango ao molho roquefort. Diretamente do livro de receitas. Por engano, comprei um galo. Parecia um frango gigante. Achei bom. Observando melhor, concluí que era um galo. Em pleno domingo de manhã, saí caçando um frango. Consegui segundos antes de os convidados chegarem. Cortei e temperei às pressas. Acendi o fogo. Segundos depois, acabou o gás. Ah, os botijões! São incontroláveis! Não tinha reserva. Saímos todos batendo nos vizinhos, pedindo gás emprestado. Nada! Lembrei de um fogãozinho de acampamento que eu tinha. Lá ficou o frango horas e horas. Os convidados rugindo de fome. Ao chegar ao ponto, atiraram-se na panela como lobos. Até hoje não sei se era bom ou ruim. Foi, sim, um começo primoroso! Convidados famintos sempre elogiam o cardápio, haja o que houver.

Entre todos os pratos, jamais esquecerei de uma torta que comi em uma viagem. Era um grupo de jovens hospedado em um antigo internato japonês. Todos os dias tomávamos banho de furo, em grupo. Um dia os rapazes iam primeiro, no outro as garotas. Certa vez elas demoraram tanto que as esperamos do lado de fora, com toalhas molhadas. Foi uma perseguição, com todas correndo, gritando, segurando as próprias toalhas, e os rapazes gritando e assustando. No jantar do dia seguinte, uma torta verde, deliciosa. Comi vários pedaços, guloso. Ao final, a revelação.

— A torta é de capim! 

Riram, vingadas!

Essa torta de capim ficou para sempre, com esses dias gloriosos no campo. Em culinária, o afeto e os bons momentos são sempre um tempero sem igual.

Comida boa é a que fica no coração.

Entendendo o texto

01. O autor associa certos pratos a:

a) Abraços de amor.

b)Cheiros agradáveis.

c) Viagens emocionantes.

d) Lembranças tristes.

02. Qual o contraste destacado no pudim de leite da avó?

         a) Doce e amargo.

         b) Doce e salgado.

         c) Amargo e salgado.

         d) Doce e picante.

03.Por que os filhos e noras temiam a avó cozinheira?

         a) Por suas habilidades culinárias.

         b) Por seu temperamento explosivo.

         c) Por sua aversão a biscoitos de anis.

         d) Por ter confundido farinha com veneno em pó.

04. O que a mãe do autor fazia quando ficava nervosa?

         a) Ia ao cinema.

         b) Limpava a casa.

         c) Surrava a massa do pão.

         d) Pedia comida pronta.

05. Qual é a resistência mencionada pelo autor em relação aos ossos?

         a) Roer um osso.

         b) Partir um osso.

         c) Cozinhar ossos.

         d) Enterrar ossos.

06. O que o autor achou lindo na primeira vez que viu a empregada da vizinha fazer?

         a) Um bolo de chocolate.

         b) Um pudim de leite.

         c) Uma bala de coco.

         d) Uma torta de capim.

07. Qual receita o autor tentou fazer para os amigos, por engano comprou um galo e teve problemas com o gás?

         a) Lasanha.

         b) Frango ao molho roquefort.

         c) Risoto de cogumelos.

         d) Sopa de legumes.

08. Como os convidados reagiram ao frango ao molho roquefort?

        a) Elogiaram e pediram a receita.

        b) Rejeitaram e saíram para comer fora.

        c) Riram e se divertiram com a situação.

        d) Ficaram irritados e foram embora.

09. O que revelou a torta que o autor comeu em uma viagem?

        a) Ser feita por um chef renomado.

        b) Ser de um ingrediente inusitado.

        c) Ser uma receita antiga da avó.

        d) Ser a especialidade do lugar.

10. O que o autor destaca como tempero sem igual na culinária?

        a) Sal e pimenta.

        b) Afeto e bons momentos.

        c) Ervas aromáticas.

        d) Molhos especiais.

 

 

 

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