domingo, 26 de junho de 2022

TEXTOS: O UNIVERSOS - COM GABARITO

 Textos: O Universos

Texto 1

        A pulsação era suave, contínua, incessante. Não havia nada além dela. Tudo- o calor, o alimento, até as ondas confusas de pensamentos e sua mente – embalava-se ao ritmo daquela pulsação eterna, compassada, confortável.

        Conforto. O Universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar naquele líquido desde sempre, sentindo-se crescer aos poucos. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, chutar as membranas em volta. Flexíveis, macias ... Dormir e acordar tranquilamente, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Tão parecidos! Era bom existir.

        O movimento começara imperceptivelmente, pequena variação no pulsar costumeiro. Nada de mais, apenas um novo balanço a embalar seu sono. Porém com o passar dos minutos foi se intensificando, sobrepondo-se ao outro pulsar, sacolejando as membranas macias que de repente pareciam enrijecer.

        Desconforto. Urgência. O universo todo de repente empurrando seu corpo como se o quisesse expelir. E o movimento ficando mais forte, anulando a pulsação conhecida, causando dor, impedindo o prazer de flutuar. Pela primeira vez sentiu medo.

        Subitamente todo o líquido pareceu escoar-se, e absurda sensação de frio envolveu-o. Um empurrão mais forte e o frio se tornou insuportável: o universo como que explodia em dolorosa luz, ofuscando-lhe os olhos, penetrando-lhe à força. Uma lufada gelada ardeu-lhe, das narinas até as profundezas do corpo.

        Quis voltar ao calor e à maciez da existência de antes, mas seu universo não mais existia. E ao frio intenso, ao desconforto e à agressão respondeu tentando expulsar o ar gelado pela boca. Gritou.

Texto 2

        Os pensamentos confusos, que durante um bom tempo se haviam misturado a sonhos em sua mente, finalmente se concentraram em um só. Estou acordado.

        Precisou de todas as forças de que dispunha para controlar o medo e não gritar. Repassou mentalmente o treinamento, os exercícios, as noções teóricas que agora testaria na prática.

        Desenvolvendo equações mentais, conseguiu evitar a lembrança do desconforto que lhe causava a roupa, os aparelhos gelados pressionando seu corpo, tubos invadindo-lhe a pele para a introdução de alimentos e a retirada de resíduos.

        Nada além de dor e frio, luzes incomodando-lhe os olhos, ardores e arrepios maltratando-lhe o corpo. Tentou ajustar-se ao assento da nave. Anatômico, asseguravam os técnicos. Mas desconfortável para quem ali permanecesse por muito tempo.

        Finalmente tomou coragem e abriu os olhos. A cápsula continuava com o mesmo aspecto de que se lembrava, antes de ser induzido ao sono. Os aparelhos indicavam exatamente o que deveriam indicar. Checou os números e mapas, aproveitando a concentração da atenção nos detalhes técnicos para amenizar o desconforto físico. Sim, estava acordado e em boas condições. Sobrevivera aos testes, ao lançamento, ao longo período em estado de hibernação. E localizava-se agora na região desconhecida.

        Foi então que teve coragem de olhar pela primeira vez o visor. Invadiu-o sensação estranha, inesperada. Aquela região não lhe era desconhecida.

        Soltou as travas que o retinham no assento. Deixou o corpo flutuar com a falta de gravidade, como se tivesse feito aquilo a vida toda, e aproximou-se do visor agarrando os corrimões instalados para essa finalidade. Junto ao posto de observação teve melhor visão.

        Sim, nacionalmente sabia que as estrelas que via através do visor da nave não eram as que poderia ver no céu de seu planeta. Eram outras, as que seus mapas e cálculos indicavam como posicionadas nos confins da galáxia. E mesmo assim, ele conhecia o lugar. Embora aquela missão fosse uma das primeiras e ele um dos poucos a explorar a região, sentia-se em casa. A vista diante de seus olhos era magnífica. À frente, o universo.

        Conforto. O Universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar ali desde sempre. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, acompanhando a pulsação do universo... Dormir e acordar, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Era bom existir.

        Sorriu dentro da roupa que já não parecia desconfortável e preparou-se para enviar as primeiras mensagens à Terra.

Estes textos foram produzidos especialmente para você ler e responder.

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 30-4.

Entendendo os textos:

01 – Os textos narrativos podem ser divididos em quatro partes:

Parte I: Situação inicial (normalidade na vida da personagem).

Parte II: Apresentação do conflito (algo que vem desequilibrar a situação inicial).

Parte III: Exploração do conflito (coloca-se a personagem em situação de grande tensão; é a parte mais importante porque as reações da personagem provocam o suspense e possibilitam questionamentos da situação).

Parte IV: Desfecho (deve surpreender pelo inesperado; é curto).

a)   Os textos que você leu são narrativos. Escreva em seu caderno onde começam e onde terminam essas partes em cada um deles.

I: de “A pulsação era...” até “Era bom existir.” II: de “O movimento começara...” até “de repente pareciam enrijecer”. III: de “Desconforto. Urgência.” Até “... até as profundezas do corpo”. IV: de “Quis voltar ao calor...” até “... gritou”. Texto 2. I: de “Os pensamentos confusos...” até “... permanecesse por muito tempo”. II: de “Finalmente tomou coragem...” até “... agora na região desconhecida.” III: de “Foi então que teve coragem...” até “... era bom existir.” IV: de “Sorriu dentro da roupa...” até “primeiras mensagens à Terra.”

b)   Dê um título a cada parte.

I: Conforto. II: Movimento. III: Desconforto. IV: Grito. Texto 2. I: Dor e frio ou Acordar. II: Sobrevivência aos testes ou Localizar-se. III: O Universo é o Lar ou Flutuar. IV: Primeiras mensagens ou Enviar mensagens.

02 – Reescreva a frase correta em seu caderno. Do ponto de vista das sensações das personagens, seria possível afirmar que:

a)   No texto I, a sensação de conforto permanece do princípio ao fim.

b)   No texto II, a sensação de desconforto permanece do princípio ao fim.

c)   No texto I, a sensação inicial de conforto transforma-se em desconforto, enquanto no texto II ocorre o oposto.

d)   No texto I, a sensação inicial de desconforto transforma-se em conforto, enquanto no texto II ocorre o oposto.

03 – Nos dois parágrafos iniciais do primeiro texto, parece qe a personagem é colocada num berço. Como se consegue, pela linguagem, transmitir a ideia de embalo ao leitor?

      A ideia do embalo é criada com a utilização de um grande número de frases nominais curtas, que acabam imprimindo um ritmo lento ao texto. Nas orações, os verbos são usados nas formas nominais, o que acaba intensificando essa ideia.

04 – Nesta passagem: “Nada de mais, apenas um novo balanço a embalar seu sono. Porém com o passar dos minutos foi se intensificando”, observe a palavra que anuncia uma mudança na situação. A que classe ela pertence?

      A palavra que anuncia uma mudança na situação (introduzindo o conflito na narrativa) é a conjunção coordenativa adversativa porém.

05 – Releia o trecho:

        “Subitamente todo o líquido pareceu escoar-se, e absurda sensação de frio envolveu-o”.

a)   O líquido realmente escoa. Por que então o verbo em destaque foi usado?

A personagem está confusa, perdeu o controle da situação.

b)   A sensação de frio é absurda. O que esse adjetivo reafirma?

Até aquele momento, tudo era morno, quente; a mudança de temperatura parece-lhe, portanto, absurda.

06 – Observe: “O universo como que explodia em dolorosa luz”. Essa frase revela o momento exato de que fato?

      Revela o momento exato do nascimento da personagem.

07 – No texto I, o que representou para a personagem sair de seu universo e entrar no universo dos outros seres?

      A saída representou dor, sofrimento.

08 – Os textos são narrados em terceira pessoa. Em sua opinião, por que esse foco narrativo foi utilizado?

      Pretendeu-se um certo distanciamento dos fatos, ao narrar. Além disso, no texto I, seria inverossímil um recém-nascido narrar seu próprio nascimento.

09 – Retire do último parágrafo do texto I, a expressão que revela uma situação irreversível para a personagem.

      “... seu universo não mais existia.”

10 – Comente a última palavra do texto I.

      O grito é a primeira manifestação da personagem em sua nova vida, e é de dor e sofrimento.

11 – No texto II, na frase “Estou acordado”, usa-se um tipo de letra diferente. Por quê?

      É uma fala da personagem, sem nenhuma pontuação que pudesse distingui-la da fala do narrador. Daí usar-se tipo diferente.

12 – Em nenhum momento se revela que a personagem é um astronauta, mas isso está claro no texto II. Explique como.

      Pela descrição da nave (aparelhos, máquinas) e do céu. Além disso, a personagem acorda de testes, de um sono induzido, e sobrevive ao lançamento.

13 – A que você atribuiria a familiaridade da personagem do texto II com uma região que lhe era totalmente desconhecida?

      A personagem tem paixão pela vida, pela aventura que está vivendo e pelo universo como um todo. Sabe que é parte desse universo maior e, por isso, sente-se à vontade, em casa, em qualquer lugar, até nos confins da galáxia.

14 – Faça uma comparação entre os dois textos, mostrando as semelhanças e diferenças entre eles, com relação a:

a)   Pensamentos das personagens.

Texto I: confusos, misturados a sonhos. Texto II: confusos, misturados a sonhos.

b)   Alimentação.

Texto I: O alimento chega pausadamente, naturalmente. Texto II: O alimento vem por tubos, de forma artificial.

c)   Sono.

Texto I: Tranquilo, natural. Texto II: Induzido, artificial.

d)   Sensações iniciais.

Texto I: De conforto. Texto II: De conforto.

e)   Evolução das sensações.

Texto I: Começa a sentir dor, perde o controle. Texto II: Começa a conscientizar-se da situação, readquire o controle.

f)    Pulsação.

Texto I: Suaves e ritmadas no início; desconhecidas no final. Texto II: Vão adquirindo a regularidade do universo.

g)   Relação com a luz.

Texto I: É dolorosa quando ocorre, no final. Texto II: É incômoda quando ocorre, no início.

h)   Relação com o calor e frio.

Texto I: O calor dá lugar ao frio. Texto II: O frio dá lugar ao calor.

i)     Relação com o desconhecido.

Texto I: Causa medo. Texto II: Causa prazer.

15 – Compare o segundo parágrafo do texto I com o penúltimo parágrafo do texto II. O que você nota?

      Nota-se uma semelhança muito grande. Essas semelhanças adquirem sentidos diferentes em razão do momento em que aparecem nos dois textos. No texto I: é a situação de partida; no texto II: a situação de chegada.

16 – Após ler os dois textos, dê a sua versão do que seja Universo.

      Resposta pessoal do aluno.

17 – Ambos os textos constroem-se sobre pares de antônimos. Quais?

      Conforto/desconforto; calor/frio; dor/prazer.

18 – Qual o resultado desse jogo de antônimos?

      O resultado desse jogo de antônimos é mostrar ao leitor que a existência humana oscila entre dois sentimento contraditórios.

19 – Comente o emprego de frases nominais nos textos.

      As frases nominais são empregadas com o objetivo de recriar na escrita as sensações vividas pelas personagens: conforto, bem-estar, segurança, embalo, flutuação, mistura de realidade e sonho. As sensações, no caso, se sobrepõem às ações; daí a forte presença de frases nominais.

20 – Comente o emprego das formas nominais dos verbos nos textos.

      Já que as sensações se sobrepõem às ações, predominam verbos de estado e frases sem verbo. Os verbos de ação, quando aparecem, vêm conjugados em suas formas nominais, no gerúndio principalmente, uma vez que essa forma verbal descreve o lento desenrolar de uma ação.

 

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