domingo, 12 de junho de 2022

REPORTAGEM: PRECONCEITO: RISQUE ESSA PALAVRA DO SEU DICIONÁRIO - PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA - COM GABARITO

Reportagem: Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário      


    Não seja vítima nem vilão em uma história que quase nunca tem final feliz

PATRICIA TRUDES DA VEIGA, EDITORA DA FOLHINHA.

GABRIELA ROMEU, DA REPORTAGEM LOCAL.

          Sabe quando uma história é sussurrada no seu ouvido? Foi assim, meio em segredo, que crianças negras contaram para a Folhinha histórias de preconceito racial que viveram.

        Elas só toparam falar sobre o assunto porque o combinado era não revelar a sua identidade. Assim, alguns nomes são de mentirinha, mas as histórias – infelizmente – são bem reais.

        Mas você já deve estar perguntando: o que é preconceito racial? O menino Anderson, 9, descobriu o que significa essa palavra de uma maneira bem triste.

        "A primeira vez que ouvi essa palavra, preconceito, foi quando minha mãe ficou indignada porque contei que só usava o elevador de serviço." Por quê? "As pessoas diziam que negro não podia usar o elevador social", conta. "Aí ela me ensinou a dizer que eu tenho os mesmos direitos."

        Ana, 13, vive faltando na escola. Sempre dá uma desculpa para não frequentar as aulas, pois está chateada com as piadinhas de alguns meninos. "Ficam falando que sou uma bruxa por causa do meu cabelo", diz.

        Às vezes, o preconceito começa no caminho da escola. Marco Aurélio, 11, conta que alguns colegas faziam piadas preconceituosas com o seu nome. "Diziam que meu nome era "Macaco Aurélio'", afirma.

        Já Jéssica, 7, era beliscada e cuspida por um colega da perua. O menino dizia que ela não podia sentar ao seu lado porque iria "tingir seu corpo", por ser negra.

        Samuel, 10, também sofre com o preconceito racial de outras crianças. "Uma vez, na escola, um menino branco mandou eu sair da brincadeira porque eu sou negro. E falou: "Aqui só tem branco, você não pode brincar aqui'." Samuel não disse nada. "Só saí de perto."

        “O silêncio não é a melhor solução”, ensina Eliane Cavalleiro, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

        "Geralmente, a criança negra vive essa dor sozinha, porém deve pedir ajuda aos professores e aos pais. Ela também pode alertar o colega de que ele está sendo racista ou preconceituoso. E que racismo é um crime."

 

Lição deve começar em casa

        O preconceito, às vezes, começa em casa. "O Jair é o meu melhor amigo, e eu sou o melhor amigo dele." Luís, 11, é branco; Jair, 11, é negro.

        Essa seria uma história de amizade bacana se Luís não morresse de medo de seu pai descobrir que seu melhor amigo é negro.

        "Meu pai é superpreconceituoso. Se alguém o fecha no trânsito, ele fala: ‘Coisa de preto'. Se o porteiro do prédio faz algo errado, ele diz: ‘Só podia ser preto'."

        "Por isso nunca tive coragem de levar o Jair em casa [eles se conhecem há seis anos". Imagine se meu pai ofender ele? Não gosto nem de pensar, tenho vergonha."

        Na escola, os dois partem para a briga toda vez que Jair é xingado. "Mas não criei coragem para enfrentar meu pai como enfrento meus colegas", conta Luís.

        A psicóloga Denilda Côrtes Silva, 45, do Disque-Racismo do Rio, diz que ambos são vítimas do preconceito. "Eles precisam da ajuda de um adulto. Não podem esconder essa amizade como se fosse uma coisa errada."

 

Em busca da identidade

        Isabele, 9, luta contra a cor de sua pele. Não gosta de ser negra. Já pediu para a mãe comprar uma "chapinha" para alisar o cabelo. Pior: procura algum produto para deixar a pele menos escura. "Já quis raspar a pele até ficar branquinha."

        "A menina deve estar sendo agredida para desejar mudar de cor", afirma Sônia Maria Nascimento, coordenadora-executiva da ONG Geledès. "A família e a escola têm de ajudá-la a elevar a autoestima e a valorizar a sua identidade", diz. "E o feriado do dia 20 é ideal para debater a questão racial."

Apelidos magoam

        "Galinha preta", "nega do saravá", "carvão", "torresmo". Crianças negras reclamam de apelidos preconceituosos usados por colegas.

        "Ontem, os meninos não me deixaram jogar e me chamaram de ‘girafa do cabelo duro'. Bato neles, não gosto", diz Lorrane, 12.

        "Quando aparece o Saci, outros alunos falam para mim: "Olha lá você, o "menino-saci'", conta Adriano, 10.

        Gabriel, 10, fica triste por ser gozado também por crianças negras. "Não é legal quando a pessoa xinga, ainda mais quando é da mesma cor", conta, baixinho.

"Ser negro é maravilhoso"

ESMERALDA ORTIZ é jornalista e autora dos livros Esmeralda: Por que não dancei e O diário da rua.

ESPECIAL PARA A FOLHA

        Quando eu era pequena, sofria muito com o preconceito. Na infância, eu tinha vergonha de ser negra. Cresci totalmente sem identidade.

        Nunca tive heróis negros. Todos os meus super-heróis eram loiros, de olhos azuis. Minhas bonecas também. Isso sem falar nos meus ídolos: Xuxa, Angélica e Eliana.

        Imaginava que ser branco era lindo, e ser negro, uma coisa feia. Isso fazia com que eu ficasse sem vontade de ir à escola, onde era chamada de "pixaim", "carvão", "urubu".

        Só ia à escola para comer. Depois, pulava o muro e saía fora, porque não aguentava tanta pressão. Em casa, eu não tinha apoio, só apanhava.

        Quando fui morar nas ruas, vivi um preconceito ainda maior. Apanhava só por ser negra. E, nas filas de adoção, todos preferiam as crianças brancas.

        Mas virei a página, saí da rua. E fui buscar livros que reforçavam o quanto a minha cor é bonita.

        Hoje, tenho um filho negro. Sempre o ensino a amar a si próprio, faço roupas africanas para ele e leio livros sobre a África. Percebo que ele gosta muito de ser negro.

        E uma coisa eu aprendi: ser branco é lindo, mas ser negro é maravilhoso.

Esmeralda Ortiz é jornalista, autora de "Esmeralda -Por Que Não Dancei" (ed. Senac/Ática) e "O Diário da Rua" (ed. Moderna).

Discriminar é...

        ...inventar apelidos de mau gosto;

        ...fazer piadinhas sobre o cabelo crespo;

        ...excluir a criança para participar do grupo de trabalho da escola;

        ...rejeitar a participação de um colega numa brincadeira;

        ...evitar sentar ao lado -na escola, no ônibus, na perua

Fonte: Eliane Cavalleiro, autora do livro "Racismo e Anti-Racismo na Educação" (editora Summus).

Consciência

        O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro. Foi nesse dia, no ano de 1695, que morreu um importante herói negro: Zumbi, símbolo da resistência dos negros durante a escravidão. Ele foi líder do quilombo de Palmares, em Alagoas.

São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006.

Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 204-210.

Entendendo a reportagem:

01 – Explique o título da reportagem: “Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário”.

      Riscar a palavra “preconceito” do meu dicionário significa não praticar nenhuma forma de preconceito, não ser preconceituoso. É mais do que não usar a palavra.

02 – De acordo com os depoimentos de Anderson, Ana, Marco Aurélio e Jéssica como você explica o que é “preconceito racial”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: preconceito racial é você discriminar, afastar, ofender uma pessoa por causa da cor de sua pele ou dos seus traços físicos como altura, porte físico, uso de óculos, etc.

03 – Converse com os colegas e responda: o preconceito racial acontece apenas com pessoas negras? Por quê?

      Não, o preconceito racial se manifesta também contra pessoas de outras etnias, como orientais e indígenas. Também pode ser do negro com relação ao “branco”. O preconceito racial é pautado nos traços que revelam a origem, a etnia da pessoa.

04 – Releia o segundo parágrafo da reportagem:

        “Elas só toparam falar sobre o assunto porque o combinado era não revelar a sua identidade. Assim, alguns nomes são de mentirinha, mas as histórias – infelizmente – são bem reais.”. O que esse trecho indica sobre a reportagem? Copie as três afirmações corretas.

a)   Às vezes, numa reportagem, o autor precisa inventar pessoas, fatos e depoimentos.

b)   Quando a pessoa entrevistada pede para ficar anônima, o repórter aceita e conta isso no texto.

c)   Há pessoas que só dão depoimento para jornalistas se ficarem anônimas.

d)   As crianças entrevistadas não se sentiram à vontade para falar publicamente do assunto.

05 – Como é chamado o texto abaixo do título?

      Não seja vítima nem vilão em uma história que quase nunca tem final feliz”

      Linha fina, olho ou subtítulo.

06 – O texto lido está dividido em várias partes identificadas com os subtítulos: Lição deve começar em casa, Em busca da identidade, Apelidos magoam, “Ser negro é maravilhoso”. Avalie cada parte da reportagem e responda:

a)   Essas partes estão bem elaboradas? Chamam a atenção do leitor?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Essas partes são explicativas ou antecipam o conteúdo da reportagem para o leitor?

As partes antecipam o conteúdo que será explicado em seguida.

c)   Por que o quarto subtítulo está entre aspas?

O subtítulo está entre aspas porque foi retirado do depoimento da escritora, não é uma fala da jornalista que escreveu a reportagem.

07 – Releia o trecho seguinte:

        “Por isso nunca tive coragem de levar o Jair em casa [eles se conhecem há seis anos". Imagine se meu pai ofender ele?”

a)   O uso dos colchetes [  ] no trecho indica fala dos entrevistados ou do repórter?

Os colchetes indicam fala do repórter.

b)   Explique por que esse recurso foi utilizado.

Os colchetes são usados para dar informações ou explicações conhecidas pelo entrevistado e pelo entrevistador, mas desconhecidas dos leitores.

c)   Por que o trecho está entre aspas?

O trecho está entre aspas porque indica a fala de alguém que está dando um depoimento ao repórter.


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