domingo, 26 de junho de 2022

POEMA: VIDA OBSCURA - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

 Poema: Vida obscura

               Cruz e Sousa

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!

 SOUSA, João da Cruz e. Vida Obscura. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 181.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 257-8.

Entendendo o poema:

01 – O trocadilho entre obscuro/escuro indicia para o leitor a temática do poema. Qual é ela?

      A obscuridade, ou seja, o anonimato em que os seres humildes têm que viver. O jogo entre obscuro/escuro leva à interpretação de que, entre esses seres condenados ao esquecimento, estariam os homens negros como o próprio poeta.

02 – O eu lírico se dirige, ao longo do poema, a um interlocutor genérico. Na última estrofe, porém, ele compara esse interlocutor a uma figura religiosa. Que figura é essa e que semelhanças permitem ao poeta realizar essa aproximação?

      Essa figura seria Cristo, que carreou uma “cruz infernal”, assim como os pobres e marginalizados socialmente, que vivem esquecidos. Esse sofrimento e o fato de suportarem calados o seu fardo aproximaria os marginais da figura de Cristo.

03 – Uma das figuras de linguagem preferidas pelos simbolistas era a sinestesia, pelo efeito de sugestão que ela era capaz de impor ao poema. Localize, no poema, a sinestesia presente.

      A sinestesia encontra-se no primeiro verso da segunda estrofe: silêncio escuro. Há aí uma mistura entre um sentido que se apreende pela audição – o silêncio – unido a um sentido que se apreende pela visão – escuro – o que caracteriza o efeito sinestésico, de mistura de sentidos.

04 – A poesia simbolista, para alguns críticos literários, é vista como descompromissada com a denúncia de problemas sociais. Observando o texto, você concorda com essa afirmação ou discorda dela? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Discordo, porque o texto mostra um poema em que Cruz e Sousa tematiza e discute o lugar dos pobres na sociedade.

 

 

2 comentários:

  1. Estou revisitando a obra poética de Cruz e Souza. Pretendo traduzir o soneto "Vida obscura" para o Esperanto. O estudo do poema aqui publicado me auxiliou muito. Vida longa ao seu bonito e interessante blog!

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  2. Gratidão pelas doces palavras de carinho e incentivo.

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