quarta-feira, 10 de julho de 2019

CRÔNICA: O VERBO FOR - JOÃO UBALDO RIBEIRO - COM GABARITO

Crônica: O Verbo For
               João Ubaldo Ribeiro

        Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
        O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
        Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
        — Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.
        — "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.
        Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a plateia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.
        — Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
        Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
        O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
        — Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
        — As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
        — Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
        — Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...
        — Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
        Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
        — Esse "for" aí, que verbo é esse?
        Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
        — Verbo for.
        — Verbo o quê?
        — Verbo for.
        — Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
        — Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
        Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
                                              João Ubaldo Ribeiro. "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20-23.

Entendendo a crônica:

01 – Na primeira frase do texto, o narrador faz uma afirmação que sugere sua idade. Copie no caderno o trecho que faz essa sugestão e explique por que você o selecionou.
      “No meu tempo”. A afirmação indica que ele é de outra época, anterior à da narração.

02 – Em seguida, ele afirma: “[...] Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo [...]”
a)   Por que o autor valoriza o passado e nega o presente?
Ele parece se sentir velho demais para aprender as novidades do presente.

b)   A expressão “à altura da vida” parece autorizar o narrador a dizer tudo o que pensa. Comente o significado dessa expressão.
Quer dizer que ele chegou a um tempo em que pode ser dito, pois já está velho.

03 – O vestibular evoca, na memória do narrador, seu tempo de juventude, o tempo em que o vestibular era de “verdade”. Quais são as palavras ou expressões que marcam, no texto, saudade daquela época?
      “O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora”.

04 – Destaque do texto dois trechos que sinalizam que o vestibular do passado era mais difícil que o de hoje.
      “Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira”; “Havia provas escritas e orais”.

05 – Copie o trecho em que o narrador conta o que fazia os alunos sentirem medo do mestre Evandro Baltazar de Silveira.
      “A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino, o mestre não perdoava”.

06 – Observe o seguinte fragmento:
        “— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
        — As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
        — Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
        — Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...
        — Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!”.

a)   Copie no caderno a passagem do trecho em que se pode perceber que o professor acreditava ter feito uma pergunta difícil.
“Dou-lhe dez, se [...]”.

b)   Por que o professor interrompe a resposta do aluno?
Porque o aluno já havia acertado a resposta e demonstrou ter muito conhecimento sobre o assunto.

c)   O que ele quis dizer com “Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!”.
Ele sugere que os baianos são inteligentes.

07 – Quando era professor, o narrador considerava a prova oral “bestíssima”. Por que ele tinha essa opinião?
      Porque a prova se limitava à leitura de um trecho em voz alta para saber se o candidato sabia ler. Depois, faziam-se perguntas simples sobre vocabulário.

08 – Releia a frase: “Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir".” Por que o narrador se qualifica como “carrasco fictício”?
      Anteriormente, o narrador já havia dito que tinha injustamente fama de ser um professor carrasco. No trecho transcrito, ele mostra que não era carrasco, já que fez uma pergunta muito simples.

09 – A pergunta correspondente ao verbo “for” foi respondida prontamente? Copie no caderno a passagem que justifica sua resposta.
      Não. “Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente”.

10 – Observe o trecho: “—Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo”.
a)   Qual é a palavra indicativa de informalidade na frase?
É a palavra .

b)   Por que o professor foi mais informal ao fazer a pergunta?
Porque a resposta anterior do rapaz estava errada, não existe o verbo for, portanto ele não poderia ser conjugado.

11 – No último parágrafo, o narrador se apropria do erro do candidato para promover uma brincadeira com a linguagem.
a)   A que expressão corresponde “fondo para quebrar”?
Ele compara essa expressão a “pondo para quebrar”.

b)   Que sentido está implícito na expressão acima citada?
Apesar de o candidato não estar preparado, deve ocupar um alto cargo no governo.

12 – Releia o diálogo:
        “— Verbo for.
         — Verbo o quê?
         — Verbo for.
         — Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
         — Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.”

a)   O que provoca riso no trecho destacado?
Quando o narrador pede ao rapaz que ele conjugue o verbo for, espera-se que ele perceba o erro que havia cometido; mas não, ele conjuga com segurança o verbo.

b)   Explique o tom irônico usado pelo narrador para descrever o candidato.
Ao utilizar o adjetivo impávido, o narrador sugere que o moço estava tão seguro de sua resposta que não percebeu o seu erro.

13 – No último parágrafo da crônica, o narrador apresenta outra característica do vestibular de seu tempo. Que característica é essa?
      O narrador diz que o vestibular no tempo dele era muito mais divertido do que hoje.

14 – Agora releia o final da crônica: “Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas.”
a)   Explique a crítica que está implícita no trecho.
A crítica é a de que os funcionários públicos não estão bem preparados para a função que exercem e, além disso, ganham salários altos.

b)   Em sua opinião, o final da crônica manteve o humor dado à narrativa?
Sim, pois a situação inesperada apresentando no final manteve humor.




CRÔNICA: O MÉDICO E O MONSTRO - PAULO MENDES CAMPOS - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: O MÉDICO E O MONSTRO 

                 Paulo Mendes Campos

      Avental branco, pincenê vermelho, bigodes azuis, ei-lo, grave, aplicando sobre o peito descoberto duma criancinha um estetoscópio, e depois a injeção que a enfermeira lhe passa.
   O avental na verdade é uma camisa de homem adulto a bater-lhe pelos joelhos; os bigodes foram pintados por sua irmã, a enfermeira; a criancinha é uma boneca de olhos cerúleos, mas já meio careca, que atende pelo nome de Rosinha; os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos.
        Ela, seis anos e meio; o doutor tem cinco. Enquanto trabalham, a enfermeira presta informações:
        -- Esta menina é boba mesmo, não gosta de injeção, nem de vitamina, mas a irmãzinha dela adora. 
        O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da boca de Rosinha, pede uma colher, manda a paciente dizer aaá. Rosinha diz aaá pelos lábios da enfermeira. O médico apanha o pincenê, que escorreu de seu nariz, rabisca uma receita, enquanto a enfermeira continua:
        -- O senhor pode dar injeção que eu faço ela tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não quiser, né, vai ficar muito magrinha que até o vento carrega. 
        O médico, no entanto, prefere enrolar uma gaze em torno do pescoço da boneca, diagnosticando: 
        -- Mordida de leão.
        -- Mordida de leão? – pergunta, desapontada, a enfermeira, para logo aceitar este faz-de-conta dentro do outro faz-de-conta. – Eu já disse tanto, meu Deus, para essa garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho Vermelho...
        Novos clientes desfilam pela clínica: uma baiana de acarajé, um urso muito resfriado, porque só gostava de neve, um cachorro atropelado por lotação, outras bonecas de vários tamanhos, um Papai Noel, uma bola de borracha e até mesmo o pai e a mãe do médico e da enfermeira. 
        De repente, o médico diz que está com sede e corre para a cozinha, apertando o pincenê contra o rosto. A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento no seu amor de filho e também para preparar-lhe um copázio de vitaminas: tomate, cenoura, maçã, banana, limão, laranja e aveia. O famoso pediatra, com um esgar colérico, recusa a formidável droga.
        -- Tem de tomar, senão quem acaba no médico é você mesmo, doutor. 
        Ele implora em vão por uma bebida mais inócua. O copo é levado com energia aos seus lábios, a beberagem é provada com uma careta. Em seguida, propõe um trato: 
        -- Só se você depois me der um sorvete.
        A terrível mistura é sorvida com dificuldade e repugnância, seus olhos se alteram nas órbitas, um engasgo devolve o restinho. A operação durou um quarto de hora. A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa, revidada com a ameaça dum chute. Já estamos a essa altura, como não podia deixar de ser, presenciando a metamorfose do médico em monstro. 
        Ao passar zunindo pela sala, o pincenê e o avental são atirados sobre o tapete com um gesto desabrido. Do antigo médico resta um lindo bigode azul. De máscara preta e espada, Mr. Hyde penetra no quarto, onde a doce enfermeira continua a brincar, e desfaz com uma espadeirada todo o consultório: microscópio, estetoscópio, remédios, seringa, termômetro, tesoura, gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão. A enfermeira dá um grito de horror e começa a chorar nervosamente. O monstro, exultante, espeta-lhe a espada na barriga e brada:
        -- Eu sou o Demônio do Deserto! 
        Ainda sob o efeito das vitaminas, preso na solidão escura do mal, desatento a qualquer autoridade materna ou paterna, com o diabo no corpo, o monstro vai espalhando terror a seu redor: é a televisão ligada ao máximo, é o divã massacrado sob os seus pés, é uma corneta indo tinir no ouvido da cozinheira, um vaso quebrado, uma cortina que se despenca, um grito, um uivo, um rugido animal, é o doce derramado, a torneira inundando o banheiro, a revista nova dilacerada, é, enfim, o flagelo à solta no sexto andar dum apartamento carioca. 
        Subitamente, o monstro se acalma. Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo com doçura que conte uma história ou lhe compre um carneirinho de verdade.
        E a paz e a ternura de novo abrem suas asas num lar ameaçado pelas forças do mal.
   Paulo Mendes Campos. O médico e o monstro. Em: Fernando Sabino e outros.
Crônicas 2. 19. ed. São Paulo: Ática, 2003. p. 20-22.

Entendendo a crônica:

01 – No início do texto, o nome e a idade das personagens são desconhecidos. No entanto, é possível perceber que o médico é uma criança. Que expressões do primeiro parágrafo indicam a pouca idade dele?
      “Pincenê vermelho” e “bigodes azuis”. A inusitada associação de cores e a escolha de um objeto em total desuso denunciam a pouca idade da personagem.

02 – No segundo parágrafo, que revelações confirmam que as personagens são crianças?
      O avental é uma camisa de homem, os bigodes foram pitados pela irmã do protagonista, a criancinha é uma boneca e os instrumentos médicos são brinquedos.

03 – A crônica apresenta um fato que faz parte do cotidiano de uma família. Que fato é esse?
      As crianças brincaram de médico.

04 – Releia este trecho.
        “[...] enquanto a enfermeira continua:
         -- O senhor pode dar injeção que eu faço ela tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não quiser, né, vai ficar muito magrinha que até o vento carrega.”

a)   Essa fala, da menina de 6 anos que brinca de enfermeira, revela opiniões típicas de uma criança? Justifique sua resposta.
Não. Normalmente, às crianças não são defensoras de injeções.

b)   Em sua opinião, quem a menina está imitando ao revelar a preocupação de que a paciente fique magrinha?
Provavelmente, ela está imitando a mãe. Assim como a mãe força o menino a tomar o copo de vitamina de frutas, ainda que a contragosto, para não ficar doente, a menina também, pelo mesmo motivo, força a boneca a tomar injeção.

05 – O pequeno médico dispensa a injeção e, em lugar dela, aplica um curativo em torno do pescoço da paciente fictícia, diagnosticando “mordida de leão”. Sua irmã aceita a reviravolta na brincadeira e diz: “Eu já disse tanto, meu Deus, para essa garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho Vermelho...”. Que característica(s) da infância esse trecho destaca?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A capacidade da criança de aceitar um faz de conta dentro de outro faz de conta, emendando indefinidamente uma brincadeira na outra.

06 – O narrador faz referência a seis ações realizadas pela mãe do protagonista. No caderno, enumere-as.
1 – Aproveita-se da entrada do filho na cozinha para lhe dar um violento beijo no rosto.
2 – Prepara-lhe um cardápio de vitaminas.
3 – Obriga-o a tomar, mesmo ele não gostando, alegando que é importante para a saúde.
4 – Leva o copo com energia aos lábios.
5 – Recolhe o copo vazio com a alegria da vitória.
6 – Aplica no menino uma palmadinha carinhosa.

07 – Em sua opinião, essas ações são exclusivas da mãe retratada na crônica lida ou são comuns às mães em geral?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – O menino transforma-se subitamente em um “monstro” e põe a casa inteira de pernas para o ar.
a)   Que fato provoca essa metamorfose?
O fato de tomar, obrigado, a vitamina preparada pela mãe.

b)   O menino faz alguma coisa para tentar evita-lo?
Sim. Primeiro, ele implora que a bebida seja trocada por outra. Depois, não sendo atendido, negocia uma recompensa posterior: ganhar um sorvete.

c)   Transcreva uma passagem do texto que comprove que, ao terminar a vitamina, o menino já estava disposto a vingar-se por seu desgosto.
“A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa, revidada com a ameaça dum chute”.

d)   Você conhece crianças que reagem dessa maneira quando contrariadas?
Resposta pessoal do aluno.

09 – Observe que o narrador descreve uma brincadeira entre os irmãos, sem nomeá-la. Copie, no caderno, as palavras que revelam ao leitor qual era a brincadeira.
      Estetoscópio, injeção, enfermeira, instrumentos para exame, cirurgia, entre outras.

10 – Como era o espaço onde as crianças brincavam?
      Eles brincavam em um quarto, onde havia uma caixa de brinquedos da qual elas tiravam objetos para a brincadeira de médico. Havia também bonecos de vários tamanhos e uma bola de borracha.

11 – O que esse espaço revela sobre as características das personagens?
      A transformação do quarto em consultório médico todo aparelhado revela o quanto as crianças são imaginativas e se deixam envolver pelo mundo do faz de conta.

12 – Releia a cena em que o menino bebe a vitamina.
a)   Quais palavras e expressões caracterizam a vitamina?
“Formidável droga”, “beberagem” e “terrível mistura”.

b)   Como o menino ingeriu?
Com dificuldade e repugnância, seus olhos se alteraram nas órbitas, ele engasgou.

c)   O que a resposta anterior revela sobre os sentimentos e as sensações do menino?
Que ele se sentiu agredido e raivoso.
     
     




terça-feira, 9 de julho de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): EU + EU - MÁRIO MANGA E GABRIEL FERNANDES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Eu + Eu
           
Eu tô longe eu tô perto
Eu tô sempre por ai
Tô ligado, tô esperto
Se chegarem, já saí.
Eu, de olho no mundo
So, por meio segundo
Tô em cima, tô embaixo
É vc, que não me vê.
Ouço tudo, tudo escuto
Tô pensando em vc
Eu, de olho no mundo
Só, por meio segundo.
                                                     Mário Manga e Gabriel Fernandes. Eu + Eu. Em: Ilha Rá-Tim-Bum. MZA/Abril Music, 2002.
Entendendo a canção:
01 – Quais são os advérbios ou locuções adverbiais do texto que se opõem?
      Longe, perto; em cima / embaixo.

02 – Das palavras em destaque, quais são advérbios?
      Longe, perto, sempre, aí, já, embaixo, não.

03 – E quais são locuções adverbiais?
      No mundo, por meio segundo, em cima.

04 – Que circunstâncias esses advérbios e locuções adverbiais expressam?
      Lugar: longe, perto, aí, no mundo, em cima, embaixo.
      Tempo: Sempre, já, por meio segundo.
      Negação: Não.

05 – Como os advérbios e as locuções adverbiais colaboram para a criação da imagem do eu lírico da música?
      Eles expressam a ideia de que o eu lírico não para em lugar nenhum, que não se sente amado e que está atento às coisas que acontecem à sua volta, mesmo que seja só por um segundo.

06 – Substitua o pronome eu pelo nós nos primeiros versos. Os advérbios se alteram?
      Não, pois os advérbios são palavras invariáveis.


REPORTAGEM: ISSO É QUE É A MELHOR IDADE - ANA CAROLINA NUNES - COM QUESTÕES GABARITADAS


Reportagem: Isso é que é a melhor idade
                       Ana Carolina Nunes

          A Paraíba inaugura o primeiro centro residencial para idosos de baixa renda do país e levanta a discussão sobre as alternativas de cuidados para a terceira idade – a população que mais cresce no Brasil
 
        Em 1985 o filme Cocoon, dirigido por Ron Howard, fez sucesso no mundo todo com personagens idosos se revigorando ao se banhar nas águas da piscina do asilo energizadas por misteriosos casulos submersos. Os casulos tinham vindo do espaço, trazidos por alienígenas. Quase 30 anos depois, um grupo de 50 idosos de João Pessoa, capital da Paraíba, também está passando por um processo de revigoramento, mas que nada tem a ver com ficção científica.  
        A boa vida e a disposição derivam do Cidade Madura, o primeiro condomínio do país projetado para idosos de baixa renda. Não há piscina, mas as 40 unidades habitacionais estão em uma área com clube recreativo, posto de saúde, pista de caminhada, equipamentos para musculação, redário, jogos de tabuleiro, praça, pomar, horta e jardim. Toda essa estrutura promove o bem-estar daqueles que já passaram dos 60 anos, oferecendo segurança e, principalmente, independência aos moradores.
        Para Silvio Camacho, 68 anos, o novo endereço é muito especial. “Eu trabalhei a minha vida toda com paisagismo; então, aqui, gosto principalmente do jardim, onde posso fazer alguns trabalhos”, conta. Camacho vive com a esposa, que é cadeirante. O terreno plano do condomínio e a estrutura local estão adequados aos padrões de acessibilidade.
        As casas, de 54 m², têm portas mais largas, banheiro amplo e corrimão no boxe do chuveiro para facilitar o uso. “Aqui tem paz, liberdade, tranquilidade e segurança, estamos felizes. Trabalhamos a vida toda para construir a riqueza do Brasil. Acho que a Cidade Madura é um retorno e um reconhecimento disso”, diz Camacho. Além da presença de um profissional de saúde 24 horas, o bairro tem guarita de segurança e policiamento noturno. 
        “As pessoas tendem a tutelar o idoso. Mas a concepção do Cidade Madura vai no sentido oposto, o da independência. Eles querem aproveitar e curtir, mas sendo protagonistas da sua vida, e o residencial facilita”, afirma Emília Correia Lima, diretora-presidente da Companhia Estadual de Habitação Popular (Cehap), responsável pelo projeto com a Secretaria do Estado e do Desenvolvimento Humano (SEDH).
        Os moradores não adquirem o imóvel nem pagam aluguel. Também não o ganham do governo. Ele é cedido, o que evita problemas em relação às eventuais brigas por herança. Não por acaso, a maioria dos casos de violência contra o idoso resulta de questões financeiras, sobretudo de herança, e tem os filhos homens como principais atores, explica Sandra Rabello, coordenadora do curso de cuidadores de idosos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ). 
        Não é permitido modificar, emprestar, locar ou ceder os imóveis a terceiros. Os moradores podem viver sozinhos ou com seus cônjuges, receber visitas e hóspedes, e pagam apenas as despesas referentes ao uso do imóvel, como água, luz, telefone e manutenção. A concessão só é rescindida se o idoso manifesta interesse ou quando há perda de autonomia ou falecimento. Neste último caso, o imóvel é cedido para outro.
        Para selecionar os condôminos, a Cehap priorizou residentes de João Pessoa há pelo menos dois anos, maiores de 60 anos e com renda de até cinco salários mínimos. Antes de ir para o Cidade Madura, eles pagavam aluguel ou viviam com os filhos. Também é imperativo que a pessoa tenha possibilidade de locomoção e lucidez compatível com as atividades diárias. Mais 40 unidades serão inauguradas em setembro em Campina Grande e 40 no fim do ano em Cajazeiras. Também estão em construção 40 unidades em Souza. Em João Pessoa, o governo estadual investiu R$ 3,6 milhões no projeto. 

          Sem isolamento

        A inovação paraibana traz à luz a questão pouco abordada, mas cada vez mais comum, do envelhecimento rápido da população. Os cuidados e o bem-estar dos idosos são um problema social premente, sobretudo para aqueles em situação financeira pouco confortável.
        Na década de 1940, as pessoas idosas eram 4,1% da população; na década de 2010, a proporção passou para 8,6%; em 2050, elas serão 29% da população (63 milhões de pessoas). Nos últimos 30 anos, o Brasil viveu uma mudança etária demográfica processada em 150 anos pelos países europeus.
        Para Neusa Pivatto Müller, coordenadora-geral da Secretaria dos Direitos Humanos, que abriga o Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos (CNDI), as políticas públicas defendem a não institucionalização da pessoa idosa. “O Estatuto do Idoso estabelece que haja a socialização, é direito da pessoa idosa estar junto à família e à sociedade”, diz ela. 
        O Brasil tem avançado nas políticas públicas para idosos, avalia Neusa, o que inclui a assinatura do Decreto 8.114, de 2013, que trata do Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo. A questão da moradia é referência na constituição da 1ª Convenção Interamericana dos Direitos dos Idosos, que deverá estar pronta em 2015, envolvendo 42 países do continente. 
        Por lei, os programas habitacionais dos governos devem destinar 3% das unidades para pessoas acima dos 60 anos. O programa do governo federal Minha Casa Minha Vida já destinou 6,2% das casas para faixas de renda até R$ 1.700. Famílias com dependentes idosos ganham mais pontos na seleção para o programa. 
        “A internalização deve ser sempre a última opção”, diz Neusa. O ideal, afirma, seria desativar gradualmente as chamadas Instituições de Longa Permanência (ILPs), os antigos asilos. Atualmente, há cerca de 230 ILPs públicas, pouco mais de 6% dos asilos existentes no país, com 104 mil institucionalizados. A maioria é filantrópica – 65,2%, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) –, mas recebe algum subsídio do governo. A pesquisa Condições de Financiamento e Infraestrutura das Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil (2011) mostra que as ILPs privadas, 28% das instituições de hoje, tiveram um crescimento proporcional ao aumento da população idosa no Brasil.
        Se de um lado há baixa oferta de instituições públicas e as poucas disponíveis têm estrutura precária, por outro, as novas instituições particulares muitas vezes lembram spas caros. O custo mensal começa em torno de R$ 3 mil e pode superar dez salários mínimos.

          Novos idosos

        Por melhor que seja a instituição, o médico e diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Salo Buksman, concorda com as diretrizes das políticas públicas: “O ambiente mais saudável e seguro para o idoso é realmente em meio à sociedade e à família”, afirma.
        Mas o modelo de família e sociedade já mudou. Como lembra a antropóloga Maria Cecília de Souza Minayo no livro Antropologia, Saúde e Envelhecimento, nos últimos 50-60 anos houve profundas transformações não só no desenho demográfico (com a redução no número de membros), mas no próprio espaço físico residencial (que também diminuiu), assim como aumentou a participação dos integrantes no mercado de trabalho.
        Ou seja, a tendência é mesmo que o idoso acabe ficando sozinho ou isolado. “A família hoje é diferente da do passado. Não é nem sequer a família nuclear tradicional”, diz Alexandre Hecker, professor de história contemporânea da Universidade Mackenzie. Hoje não há nem conceito bem definido de velhice, já que até isso foi mudando ao longo da história. Mas há mais possibilidades de desfrutar a vida, garantidas, inclusive, pela legislação.
        Segundo o professor, a preocupação do Estado com os idosos começou por volta dos anos 1930, com o surgimento dos primeiros asilos. A partir do primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), iniciou-se um período de modernização do país e de valorização do novo e do jovem. Assim, a velhice passou a ganhar uma cor pejorativa e a ser desvalorizada. Com o aumento recente da expectativa de vida e as melhorias na saúde resgatou-se a inserção dos idosos na sociedade. Mas o Estatuto do Idoso veio apenas em 2003. 
        Para Hecker, “a iniciativa da Cidade Madura é louvável, já que propicia a inclusão do idoso na sociedade e o mantém ativo e independente. Nos Estados Unidos e em países da Europa há condomínios estilo resort para aposentados, mas são todos acessíveis às classes altas”.
        Sandra Rabello ressalta que, no passado, as pessoas não ficavam tão idosas e ainda eram protegidas como em uma redoma. A representação social desses indivíduos era estática, com cadeira de balanço, tevê, pijamas e tricô”, nota. Hoje o espaço domiciliar é crucial para a saúde do idoso, afirma ela, mas manter um convívio social é fundamental para aumentar a qualidade de vida. “Historicamente, as ILPs são espaços de isolamento.” 

                                  Disponível em: http://revistaplaneta.terra.com.br/seção/ciencia/isso-e-que-e-melhor-idade.
Acesso em: 2 mar. 2015.
Entendendo a reportagem:

01 – Releia o título e a linha fina. Qual é a função deles para a reportagem?
      O título dá ideia do assunto principal de modo que desperte o interesse do leitor para a reportagem; a linha fina informa seu assunto central de forma resumida.

02 – Observe o título da reportagem. A que o pronome isso está se referindo?
      O pronome isso refere-se à qualidade de vida que os idosos supostamente podem ter nesse conjunto habitacional. Essa ideia é reforçada pelas fotografias, que mostram belas imagens do condomínio e dos moradores.

03 – Leia este título de notícia com o mesmo assunto da reportagem lida.
      O título da notícia apresenta de forma direta e objetiva o tema do texto. Já o texto da reportagem utilizada a linguagem de forma a despertar o interesse do leitor.

04 – Segundo o texto, qual é a principal diferença entre os asilos (ou Instituições de Longa Permanência) e os condomínios habitacionais para idosos?
      Os condomínios habitacionais voltados para os idosos privilegiam a independência e autonomia deles, assim como a sociabilidade e o convívio com os familiares. Já nos asilos podem viver muitas vezes isolados da sociedade e dos familiares.

05 – De acordo com a reportagem, o Brasil está preparado para lidar com o aumento da população idosa? Por quê?
      Há avanços nas políticas públicas, como o decreto que trata do Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo, mudanças nas prioridades dos programas habitacionais e aumento no número de asilos privados. Mas são poucas as opções públicas destinadas a atender os idosos de baixa renda, sem condições para pagar a mensalidade de uma instituição privada. Outra dificuldade: são raros os ambientes que privilegiam a independência do idoso, como é o caso do conjunto habitacional Cidade Madura.

06 – Qual a posição da reportagem sobre os cuidados com os idosos?
      A reportagem defende que é preciso criar espaços que permitam a integração dos idosos na sociedade, sem ferir sua independência. Ao mesmo tempo, chama a atenção para as mudanças que a sociedade sofreu e a necessidade de criar políticas para atender às demandas da população idosa.

07 – Que recursos indicam essa posição no decorrer da reportagem?
      Eles selecionaram depoimentos de especialistas que reiteram essa posição, acrescentaram dados e estatísticas que mostram as mudanças que o país enfrentou e como está preparando para enfrentar esse problema.


CRÔNICA: CONDÔMINOS (FRAGMENTO) - FERNANDO SABINO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: Condôminos – Fragmento     

                Fernando Sabino

        A porta estava aberta. Foi só eu surgir e arriscar uma espiada para a sala, o dono da casa saltou da mesa para receber-me.
        -- Vamos entrar, vamos entrar. Estávamos à espera do senhor para começarmos a reunião: o senhor não é o 301?
        Não, eu não era o 301. Meu amigo, que morava no 301, tivera que fazer repentinamente uma viagem, pedira-me que o representasse.
        O homem estendeu-me a mão, num gesto decidido:
        -- Pois então muito prazer.
        Disse que se chamava Milanês e recebeu com um sorriso à milanesa a minha escusa pelo atraso. Desconfiei desde logo que fosse meio surdo – só mais tarde vim a descobrir que seu ar de quem já entendeu tudo antes que a gente fale não era surdez, era burrice mesmo.
        Conduziu- me ao interior do apartamento onde várias pessoas, umas onze ou doze, já estavam reunidas ao redor da mesa. À minha entrada, todos levantaram a cabeça, como galinhas junto ao bebedouro. O apartamento era luxuosamente mobiliado, atapetado, aveludado, florido e enfeitado, nesta exuberância de mau gosto a que se convencionou chamar de decoração. O Milanês fez as apresentações:
        -- Aqui é o Dr. Matoso, do 302. Quando precisar de um médico… Ali o capitão Barata, do 304 – representante das gloriosas Forças Armadas. Dona Georgina e Dona Mirtes, irmãs, não se sabe qual mais gentil, moram no 102. Aquele é o Dr. Lupiscino, do 201, nosso futuro Síndico…
        Suas palavras eram recebidas com risadinhas chochas, a indicar que vinha repetindo as mesmas graças a cada um que chegava. Cumprimentei o médico, um sujeito com cara mesmo de Matoso, o capitão com seu bigodinho ainda de tenente, as duas velhas de preto, não se sabia qual mais feia, o futuro síndico, os demais. O dono da casa recolheu a barriga e as ideias sentando- se empertigado à cabeceira. Busquei o único lugar vago do outro lado e acomodei-me. A mulher do Milanês passou-me um copo de refresco de maracujá – só então percebi que todos bebericavam o refresco em pequenos goles, aquilo parecia fazer parte de um ritual, convinha imita-los. Um dos presentes, solene, de papel na mão, aguardava que restabelecesse a ordem para prosseguir.
        -- Desculpem a interrupção – gaguejei. – Podem continuar.
        -- Não havíamos começado ainda – escusou-se o Milanês, todo simpaticão – Estávamos apenas trocando ideias.
        -- Se o senhor quiser, recomeçamos tudo – emendou à Milanesa, mais prática. – Ali nosso Jorge, do 203, dizia que precisávamos…
        -- Perdão, quem dizia era o Dr. Lupiscino – e o nosso Jorge do 203, um rapaz roliço como uma salsicha de óculos, passou para o extrema. A esta altura interveio o capitão, chutando em gol:
        -- Pode prosseguir a leitura.
        Alguém a meu lado explicou:
        -- O Dr. Lupiscino fez um esboço de regulamento. O senhor sabe, um regulamento sempre é necessário…
        O Dr. Lupiscino pigarreou e leu em voz alta:
        -- Quinto: é vedado aos moradores… Espere – voltou-se para mim: – O senhor quer que leia os quatro primeiros?
        -- Não é preciso – interveio o Milanês: – Os quatro primeiros servem apenas para introduzir o quinto. Vamos lá.
        -- Quinto: é vedado aos moradores guardar nos apartamentos explosivos de qualquer espécie…
        O capitão inclinou-se, interessado:
        -- É isso que eu dizia. Este artigo não está certo: suponhamos que eu, como oficial do exército, traga um dia para casa uma dinamite…
        -- O senhor vai ter dinamites em casa capitão? – espantou-se uma das velhas, a Dona Mirtes.
        -- Não, não vou ter. Mas posso um dia cismar de trazer…
        [...].
                               Fernando Sabino. Condôminos. Em: Rubem Braga e outros. Crônicas 4. 12. ed. São Paulo: Àtica, 2002. p. 25-27.
Entendendo a crônica:
01 – O que o verbo gaguejei expressa sobre a atitude do narrador ao chegar?
      Expressa o constrangimento do narrador em participar de uma reunião que já havia começado, com pessoas que ele não conhecia.

02 – Releia a frase: “Alguém a meu lado explicou”.
a)   O que o verbo de elocução explicou, usado nesse trecho, permite ao leitor saber sobre o sentimento da personagem ao falar? Explique.
O verbo explicar permite imaginar que o estado de ânimo da personagem é neutro, tranquilo, ao dar a explicação.

b)   Imagine que a personagem que se dirige ao narrador esteja muito contrariada por ter de dar a explicação. Que verbos de elocução podem ser empregados para revelar ao leitor esse sentimento?
Rosnar, esbravejar, grunhir, resmungar, etc.

03 – Complete o diálogo a seguir com verbos que expressam os sentimentos das personagens de acordo com cada situação proposta.
a)   Uma mãe muito irritada vai buscar a filha tímida em uma festa.
Sugestões: gritou, suspirou, contestou.

b)   Uma mãe desesperada vai buscar a filha mimada em uma festa.
Sugestões: implorou, berrou, questionou.