sábado, 3 de fevereiro de 2018

FÁBULA: O HOMEM QUE INVENTOU A RODA - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

FÁBULA: O HOMEM QUE INVENTOU A RODA
                   MOACYR SCLIAR

    Primeiro foram os operários menos especializados, depois os mais especializados, e por fim chegou a vez dos executivos: Helmuth Mayer foi despedido da fábrica de automóveis onde trabalhava. Tratava-se de um administrador competente e criativo, mas, como disse o diretor, era necessário provar que nem mesmo os altos escalões estavam imunes e assim mandaram-no embora. 

        Ao receber a notícia de sua demissão Helmuth Mayer não disse nada. Entrou em seu carro, ligou a máquina e tomou o rumo de casa...
        Tomou o rumo de casa, mas não chegou lá. No caminho aconteceu-lhe uma coisa muito estranha. Deteve-se numa esquina e de repente esqueceu que marcha tinha de engatar para arrancar. Pior: nem sabia para que servia a alavanca de câmbio, nem o volante, nada. Um caso de amnésia traumática, naturalmente, mas Helmuth Mayer não sabia que isso existia, ou se sabia, tinha esquecido também. Tinha esquecido tudo. Não se sentia mal por causa desta situação: um pouco esquisito, apenas. Mas alegre, como se tivesse bebido algo delicioso e inebriante. Buzinavam furiosamente atrás dele. Não deu importância aos vociferantes motoristas: abriu a porta do carro e saiu andando, sem destino. Lá pelas tantas deu-se conta de que carregava sua pasta de executivo; mas como tal objeto já não lhe significava nada, e era pesado, jogou-o fora. E também se desfez do paletó e da gravata, porque fazia calor.
        Caminhando sempre, chegou ao limite da cidade, embrenhou-se pelo mato e foi indo, até que já não avistava nenhum vestígio da civilização. Naquela noite, dormiu ao relento. No dia seguinte, livrou-se das roupas; sentia-se melhor sem elas. Teve fome; movido por puro instinto, comeu umas frutinhas, aliás muito gostosas. E movido por este instinto foi sobrevivendo. Nos dias que se seguiram aprenderia a pescar e a caçar e até a plantar alguma coisa. A família procurou-o desesperada, mobilizando polícia, amigos, detetives particulares. Não o encontrando, concluíram que se tinha suicidado e desistiram de procurá-lo. Com o tempo, todos acabaram por esquecê-lo.
        Helmuth, entretanto, vivia feliz. Ele não sabia que era feliz, porque tinha esquecido o significado desta palavra, de todas as palavras, mas era feliz. 
        Até que um dia fez uma roda.
        Isso mesmo: trabalhando com seu machado de pedra num tronco roliço, fez uma roda. Não sabia que aquilo se chamava roda, mas gostou da coisa porque rodava. Aí lhe ocorreu fazer um orifício na roda e colocar um eixo. Um pouco mais adiante já tinha as quatro rodas, estava pensando no chassi e no motor. E de repente se lembrava do nome das coisas: roda, chassi, motor.
        Foi então que começou a desconfiar que aquela coisa podia não dar certo. Mas agora ia adiante. Já que tinha começado ia adiante. E ficou pensando em quem botaria na rua quando tivesse sua fábrica de automóveis.
                                 
                                                                                     Moacyr Scliar             
                          Folha de S. Paulo, domingo, 4 de outubro de 1981

Entendendo o texto:
01 – Primeiro foram os operários menos especializados, depois os mais especializados, e por fim chegou a vez dos executivos: Helmuth Mayer foi despedido a fábrica de automóveis onde trabalhou. Tratava-se de um administrador competente e criativo, mas, como disse o diretor, era necessário provar que nem mesmo os altos escalões estavam imunes e assim mandaram-no embora.
        O tópico frasal é a ideia central do parágrafo. Podemos identificar o tipo do tópico frasal no texto como:
a)   Declaração inicial.
b)   Alusão / citação.
c)   Definição.
d)   Divisão.
e)   Interrogação.
02 – Por que a fábrica de automóveis demitiu vários funcionários, desde o menos especializado até o administrador?
      Provavelmente devido a recessão econômica, tiveram que frear a produção e reduzir pessoal.

03 – Segundo o texto Helmuth Mayer após receber a notícia de sua demissão sofreu o quê?
      Teve uma amnésia traumática.

04 – Lendo o texto podemos perceber que Helmuth Mayer sofreu um forte impacto com a notícia de sua demissão. No caso dele, a amnésia que sofreu trata-se apenas do esquecimento de um episódio?
      Não. Ele teve a perda de identidade. Isso pode durar desde algumas horas até anos. Nestes casos a pessoa pode até mesmo criar uma nova identidade, uma nova família.

05 – O que é amnésia?
      A conceituação mais clássica é aquela elaborada por Kopelman, que define a doença como um estado mental patológico no qual a memória e o aprendizado são afetados em proporção muito maior que as demais funções cognitivas, como percepção, atenção e linguagem.

06 – Você já viu ou conversou com uma pessoa em situação de rua e percebeu que o mesmo teve vínculos familiares que foram interrompidos?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Em 2005, foram conceituadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social como os fatores intrínsecos à condição de rua e constam na Política Nacional para a população em situação de rua. Qual o número do decreto?
      Decreto n° 7053 de 2009.



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

POEMA: A LÍNGUA MÃE - MANOEL DE BARROS - COM GABARITO

POEMA: A LÍNGUA MÃE
                Manoel de Barros

Não sinto o mesmo gosto nas palavras:
Oiseau e pássaro.
Embora elas tenham o mesmo sentido.
Será pelo gosto que vem de mãe? De língua mãe?
Seria porque eu não tenha amor pela língua de Flaubert?


Mas eu tenho.
(Faço este registro porque tenho a estupefação de não sentir
Com a mesma riqueza as palavras oiseau e pássaro).
Penso que seja porque a palavra pássaro em mim repercute a infância
E oiseau não repercute.
Penso que a palavra pássaro carrega até hoje nela o menino que ia
De tarde pra debaixo das árvores a ouvir os pássaros.
Nas folhas daquelas árvores não tinha oiseaux
Só tinha pássaros.
É o que me ocorre sobre língua mãe.

           Manoel de Barros. O fazedor de amanhecer. Rio de Janeiro:
                                     Salamandra, 20011. [s.p.].

Entendendo o texto:

01 – O poema tem “a estupefação” de não sentir com a mesma riqueza as palavras em português e em francês. Por que isso lhe causa “estupefação”?
       Porque ele tem amor pela língua francesa, como tem pela língua mãe, assim, deveria gostar igualmente das duas palavras.

02 – No final do poema, o poeta encontra a explicação para o fato de não sentir o mesmo gosto nas palavras em francês e em português.
a)   Qual é a explicação?
         Ele na infância só sabia a palavra pássaro, que ficou ligada às suas experiências de menina com pássaros: a palavra pássaro carrega lembranças da infância, a palavra oiseau, não.

b)   Considerando essa explicação, está certo o poema quando diz, no início do poema, que as duas palavras tem o mesmo sentido?
         Resposta pessoal: A expectativa é que os alunos percebam que as duas palavras não tem, na verdade, o mesmo sentido para o poeta, e concluam que as palavras adquirem um sentido diferente, conforme as experiências e conhecimentos da pessoa.

03 – O poema chama sua língua mãe; por que a língua é mãe?
       Porque é a sua língua de origem; a primeira que aprendeu; a língua em que se educou, se formou, a língua que aprendeu da mãe.

04 – Na opinião de vocês, é possível sentir em um língua estrangeira a mesma riqueza e o mesmo gosto que se sente na língua materna?
       Resposta pessoal: O objetivo é levar os alunos a refletir sobre a relação entre a língua e a constituição da identidade, e a expectativa é que percebam que a primeira língua aprendida na infância institui um modo de pensar, de sentir próprios de uma cultura, de uma nacionalidade.




POEMA: VERSOS ÍNTIMOS - AUGUSTO DOS ANJOS - COM GABARITO


POEMA: VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afoga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

            ANJOS, Augusto dos. Versos íntimos. In: _____. Eu. 30. ed.
                                Rio de Janeiro, Livraria São José, 1965. p. 146.

Quimera: fantasia, sonho.
Vil: reles, ordinário; desprezível, infame.

Entendendo o texto:

01 – O texto é um soneto com o seguinte esquema de rimas: a, b, b, a/b, a, a, b/c, c, d/ d, d, c. Essa preocupação formal revela vestígios de um estilo que antecedeu o Pré-Modernismo. De que estilo se trata?
       Do Parnasianismo.

02 – O poeta dirige-se a um interlocutor (que pode ser ele próprio), ressaltando a solidão de todo ser humano. Em que versos fica nítida essa ideia?
       Nos dois últimos versos da primeira estrofe.

03 – Há na poesia de Augusto dos Anjos uma referência constante à decomposição da matéria. Transcreva um verso do poema que comprove tal afirmativa.
       “Acostuma-te à lama que te espera.”

04 – O homem, entre feras, também se animaliza. Diante dessa constatação, que conselho o poeta dá ao seu interlocutor?
       O conselho está nos dois últimos versos do poema

POEMA: SOLIDARIEDADE - MURILO MENDES - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


POEMA: SOLIDARIEDADE

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue
Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,
Sou ligado
Aos casais na terra e no ar,
Ao vendeiro da esquina,


Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,
Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,
Ao santo e ao demônio,
Construídos à minha imagem e semelhança.

            MENDES, Murilo. Solidariedade. In:______. O menino Experimental:
                                             Antologia. 1. ed. São Paulo, Summus, 1979. p. 62.

Entendendo o poema:

01 – O poeta se mostra solidário às pessoas e aos seres mais díspares. Cite dois desses elementos que se opõem radicalmente.
       Mártir / assassino; padre / mulher da vida; santo / demônio.

02 – Essa identificação do poeta com todo tipo de pessoa tem uma justificativa. Que justificativa é essa?
       Todos esses seres são feitos à imagem e semelhança do poeta.

03 – O versículo bíblico “criados à minha imagem e semelhança” foi retomado pela poeta, substituindo criados por construídos. Qual pode ser o significado dessa alteração?
       Construir significa “dar estrutura a, fabricar, edificar”. Portanto, neste caso, construídos dá ideia de que os homens vão se identificando com o passar do tempo e não são criados já iguais por Deus.



POEMA: SE NÃO HOUVESSE MONTANHAS! CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

POEMA: SE NÃO HOUVESSE MONTANHAS!
                CECÍLIA MEIRELES


Se não houvesse montanhas!
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhas
E o braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
Como nuvens, sem cadeias,
E os instantes da memória
Fossem vento nas areias!


Se não houvesse saudade,
Solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
Além de breve, perdida!
Eu tinha um cavalo de asas,
Que morreu sem ter pascigo.
E em labirintos se movem
Os fantasmas que persigo.

                         MEIRELES, Cecília. Se não houvesse montanhas!   
                              In:_______. Obra poética. 1. ed. Rio de Janeiro,
                                                                         Aguilar, 1958. p. 905.

Entendendo o poema:

01 – Que conotações teriam, no contexto do poema, os substantivos “montanhas” e “paredes”?
       Esses substantivos poderiam conotar os obstáculos, os empecilhos que a vida oferece.

02 – Cecília Meireles costuma ser apontada pela crítica como escritora neo-simbolista, principalmente no início de sua carreira. Que elementos do Simbolismo podem ser encontrados na segunda estrofe?
       Transparece nessa estrofe um clima vago, indefinido, que é conseguido principalmente pelo emprego do substantivo nuvens e da expressão vento nas areias.

03 – São temas frequentes na poesia de Cecília Meireles a efemeridade da vida e a inutilidade da existência. Transcreva da terceira estrofe dois versos que comprovam essa afirmativa.
       “Se a vida inteira não fosse,
        Além de breve, perdida!”

04 – O que poderia conotar o “cavalo de asas”?
       A fantasia, a imaginação ou até mesmo a liberdade.

05 – Já que seu cavalo alado morreu, o que lhe resta fazer?
      Só lhe resta perseguir os seus fantasmas.


terça-feira, 30 de janeiro de 2018

POEMA: SONETO DE SEPARAÇÃO - VINICIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA: SONETO DE SEPARAÇÃO
                 Vinícius de Moraes

De repente do riso se fez o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

                  MORAES, Vinícius de. Soneto de separação. In:_______.
                                 Poesia completa e prosa. 2. ed. Rio de Janeiro,
                                                                 Nova Aguilar, 1981. p. 226.

Entendendo o texto:

01 – O poema tem como título “Soneto de Separação”. De que tipo de separação ele trata? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      Trata-se da separação entre um casal, em que as antíteses mostram o impacto da perda do amor na vida das pessoas: o riso torna-se pranto, traz a dor, a tristeza. A tragédia, que provoca o espanto, é constatar que toda essa transformação acontece de repente, em um breve instante.

02 – Chama-se antítese a figura de linguagem que se constrói a partir da oposição de ideias. Identifique no poema pelo menos dois pares de palavras ou expressões que formem antíteses.
      “Riso-pranto”; “Próximo-distante”.

03 – Em uma fase; resuma: como era a vida do eu lírico antes da separação e como é no presente?
      Antes da separação o eu lírico era feliz, realizado, calmo, e no presente é infeliz.

04 – Leia: “De repente da calma fez-se o vento, que dos olhos se desfez da última chama”. Quem “desfez” da última chama?
      O vento.

05 – O substantivo “chama” foi usado com sentido figurado. Explique seu significado.
      Quer mostrar a sensualidade e finitude do amor.   

06 - Por quê esse poema é chamado de soneto?
       Porque é formado por quatorze versos, assim dispostos: dois quartetos e dois tercetos.

07 – Em todo o poema, o autor emprega a antítese como figura de estilo. Com que finalidade?
       O poeta quer enfatizar os conflitos vividos pelo eu-lírico.

08 – O eu-lírico vivencia um conflito que atinge seu ápice num determinado momento do poema. Em que verso isso ocorre? Transcreva a palavra que conota esse clímax.
       Verso 8: “Drama”.

09 – Relacione as antíteses que ocorrem nos sete primeiros versos do poema (modelo: riso X pranto).
       Bocas unidas X espuma; mãos espalmadas X espanto; calma X vento; paixão X pressentimento.

10– Quais as consequências da separação no estado emocional do eu-lírico?
       O eu-lírico sente-se triste, só e instável.

11 – Observe a construção do texto, o tipo de composição, a métrica dos versos, o vocabulário e a sintaxe. Identifique a que representantes da tradição literária – clássicos, românticos, realistas, simbolistas – o poema está ligado, justificando com elementos dos textos.
      O poema está ligado à tradição clássica, uma vez que faz uso do soneto, do verso decassílabo e têm uma sintaxe e um vocabulário apurados.

12 – A beleza do poema se deve, em grande parte, ao emprego de recursos sonoros e de imagens construídas a partir de comparações, metáforas, antíteses e outras figuras.
a)   Destaque da primeira estrofe um exemplo de aliteração e outro de comparação.
Aliteração: branco, bruma, bocas / pranto, espuma, espalmadas, espanto; Comparação: “[...] pranto / Silencioso e branco como a bruma”.

b)   Identifique a figura de linguagem a partir da qual, para estabelecer a oposição entre o passado e o presente, é construído todo o texto.
Antítese.

13 – O texto, reitera a oposição entre como era no passado e como é no presente.
a)   Caracterize cada um desses momentos.
Antes, tudo era bom; havia o riso, o beijo, a paixão, a alegria, etc. O presente é ruim, o oposto do passado: há pranto, espanto, pressentimento, drama, etc.

b)   Além da oposição entre passado e presente, por várias vezes é repetida a expressão “de repente”. Com que finalidade essa expressão foi empregada repetidamente?
Para acentuar o espanto causado pela separação inesperada.

14 – Às vezes, para descrever certos estados emocionais, a linguagem denotativa não é suficiente. O poeta emprega, então, a linguagem figurada, conotativa, poética. As figuras, nesse caso, contribuem para exprimir o que é quase inexprimível. Observe estes versos: “De repente da calma fez-se o vento
              Que dos olhos desfez a última chama.”
             “Fez-se da vida uma aventura errante.”
a)   Qual é a figura de linguagem existente nos trechos destacados? 
A metáfora.

b)   Traduza em linguagem denotativa o sentido dessas figuras.
No 1° fragmento, “o vento” significa a separação; “a última chama dos olhos” se refere ao resto do amor que havia entre os amantes.
No 2° fragmento, “uma aventura errante” sugere que, depois da separação, a vida ficou sem rumo, perdeu o sentido.

15 – Aliteração é um recurso de linguagem construído a partir da repetição de um mesmo fonema consonantal. Releia a 1ª estrofe da poesia e verifique se nela há aliteração. Se houver, indique quais são os fonemas consonantais que se repetem.
      Sim. Há aliteração; do fonema /p/: pranto, espuma, espalmadas, espanto; do fonema /b/: branco, bruma, bocas; do fonema /R/: repente, riso; e do fonema /r/: pranto, branco, bruma.

16 – Observe nas colunas abaixo os elementos que existiam antes e os que passaram a existir depois da separação:
Antes                           X            Agora
Riso                              X            pranto.
Bocas unidas               X            espuma.
Mãos espalmadas       X            espanto.

a)   As palavras e expressões da primeira coluna correspondem a elementos que faziam parte do estado de espírito em que se encontrava o eu lírico antes da separação. Qual é esse estado de espírito?
Alegria.

b)   As palavras da segunda coluna, por sua vez, correspondem a elementos que passaram a fazer parte do estado de espírito do eu lírico após a separação. Qual é esse estado de espírito?
Tristeza.

c)   Qual é a figura de linguagem que sugere, por meio das partes (riso, bocas, mãos), o todo?
A metonímia.

17 – O trecho “fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma” apresenta uma figura de linguagem.
a)   Qual é a figura existente na parte destacada?
Comparação.

b)   Lido sem a parte destacada, esse trecho se torna menos ou mais forte, concreto e expressivo?
Torna-se menos forte, menos concreto, menos expressivo.

18 – Em quase todo o texto, o poeta faz uso da figura chamada inversão, que consiste no uso dos termos de uma oração em uma direta correspondente:
“De repente do riso fez-se o pranto” – O pranto fez-se do riso de repente.
“Que dos olhos desfez a última chama” – Que desfez a última chama dos olhos.
“Fez-se de triste o que se fez amante” – O que se fez amante fez-se de triste.
Considerando-se que a poesia é construída com base na oposição entre a vida do eu lírico antes e depois da separação, que relação há entre a inversão e as duas situações retratadas?
      Também o eu lírico se encontra numa situação inversa à que vivia antes.

19 – Observe que a expressão de repente é empregada quatro vezes em início de verso. A esse tipo de repetição, chamamos anáfora. Considerando-se as ideias gerais da poesia, o que essa repetição revela quanto ao modo como o eu lírico se sente?
      O eu lírico parece não aceitar o fato de que tudo o que existia – amor intenso, amizade, paixão, harmonia, etc. – acabou de repente, num único instante, o instante da separação. A repetição enfatiza essa expressão.

20 – Se quiséssemos resumir as principais ideias da poesia em linguagem denotativa, teríamos um enunciado mais ou menos assim:
       Antes, com a pessoa amada, tudo era alegria e harmonia. Depois, sozinho, tudo virou tristeza e desolação.

Compare a poesia com esse enunciado e indique qual ou quais das afirmações seguintes são verdadeiras quanto ao papel das figuras de linguagem na construção de um texto poético.
(X) O texto figurado é mais carregado de emoções do que o texto denotativo.
(X) As figuras de linguagem criam imagens que aguçam a imaginação do leitor.
(X) As figuras de linguagem criam uma atmosfera envolvente, que faz o leitor se aproximar mais do texto.
(X) O texto figurado é fruto de um trabalho artístico, que não visa apenas informar, mas também envolver, emocionar o interlocutor.




ARTIGO DE OPINIÃO: A FADIGA DA INFORMAÇÃO - GILBERTO DIMENSTEIN - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: A FADIGA DA INFORMAÇÃO
                                         Gilberto Dimenstein

        Há uma nova doença no mundo: a fadiga da informação. Antes mesmo da internet, o problema já era sério, tantos e tão velozes eram os meios de informação existentes, trafegando nas asas da eletrônica, da informática, dos satélites. A internet levou o processo ao apogeu, criando a nova espécie dos internautas e estourando os limites da capacidade humana de assimilar os conhecimentos e os acontecimentos deste mundo. Pois os instrumentos de comunicação se multiplicaram, mas o potencial de captação do homem – do ponto de vista físico, mental e psicológico – continua restrito. Então, diante do bombardeiro crescente de informações, a reação de muitos tende a tornar-se doentia: ficam estressados, perturbam-se e perdem em eficiência no trabalho.
        Já não se trata de imaginar que esse fenômeno possa ocorrer. Na verdade, a síndrome da fadiga da informação está em plena evidência, conforme pesquisa que acaba de ser feita, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países, junto a 1.300 executivos. Entre os sintomas da doença apontam-se a paralisia da capacidade analítica, o aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para decisões equivocadas e até levianas.
        Nada avançou tanto no mundo como as comunicações. Pouco durou, historicamente, para que saíssemos do isolamento para a informação globalizada e instantânea. Essa revolução teria inegavelmente de gerar, ao lado dos efeitos mágicos e benfazejos, aqueles que provocam respostas de perplexidade no ânimo público e das pessoas em particular. Choques comportamentais e culturais surgem como subprodutos menos estimáveis desse impacto modernizador, talvez por excessiva celeridade no desenrolar de sua evolução.
        Curiosamente, a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação. Recebíamos antes a notícia do dia e podíamos ruminá-la durante horas. Hoje temos a notícia renovada e modificada a cada segundo, acompanhando em tempo real o desdobramento dos fatos e das decisões, o que rapidamente envelhece a informação transmitida e nos deixa sem saber, afinal, qual a versão mais próxima da realidade no momento. As agências noticiosas não dispõem de tempo para maturar o seu material, há que lança-lo logo ao consumo – mesmo sob o risco de uma divulgação incompleta ou deformada, avizinhada do boato.
        Há 30 anos, o então estreante Caetano Veloso perguntava numa das estrofes de sua famosa canção Alegria, alegria: “Quem lê tanta notícia?”. Presentemente a oferta de informações, só nas bancas de jornais, deixaria ainda muito mais intrigado o poeta do tropicalismo. Além da televisão aberta, a TV por assinatura põe o telespectador diante da opção de centenas de canais. Há emissoras nacionais e estrangeiras, de rádio e de TV, dedicadas exclusivamente a transmitir notícias. O CD-ROM ampliou consideravelmente a dimensão multimídia do computador. O fax e o correio eletrônico deixaram para trás o telefone, o telegrama e todos os meios de comunicação postal.
        A massa de informações gerais ou especializadas contida na imprensa diária exigiria um super-homem para absorvê-la. E, a cada dia, jornais e revistas se enriquecem de suplementos e de encartes pedagógicos e culturais.
        É claro que esse processo não vai estancar e muito menos regredir. A informação não poderia estar à margem do mercado competitivo. Não há dúvida, porém, de que precisamos aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de público-alvo. A eletrônica e a informática estão a nosso serviço, mas não substituem as limitações orgânicas, cerebrais e emocionais do homem. A informação nos faz sentir as dores do mundo, onde quer que ocorram sob a forma de calamidades, tragédias, adversidades coletivas ou individuais. Ou buscamos um equilibrado “modus vivendi” com as pressões da prodigiosa tecnologia da comunicação, ou o feitiço vira contra o feiticeiro. O oxigênio da informação, sem o qual no passado recente não conseguiríamos respirar, terá de ser bem inalado para não nos ameaçar com a asfixia, o estresse, as neuroses e, quem sabe, o infarto.
                                 
                 Revista da Comunicação, ano 12, n. 46, p. 20. nov. 1996.
MARZAGÃO, Augusto. In: DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Editora Ática, 1999.

Entendendo o texto:

01 – Quais são as causas da chamada fadiga da informação? Como ela se manifesta nas pessoas?
       As causas da fadiga da informação: principalmente o desenvolvimento dos meios de informação eletrônicos, informáticos, por satélites. A internet, em especial.
       As pessoas com fadiga da informação tendem a ficar estressadas, perturbam-se e perdem em eficiência no trabalho. Pesquisas feitas em vários países mostram que entre os sintomas da doença estão a paralisia da capacidade analítica, o aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para decisões equivocadas e até levianas.

02 – Por que a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação?
       4º parágrafo – A sobrecarga de informações leva à desinformação porque não temos mais tempo para ruminar as informações que recebemos em tempo real. A informação envelhece rapidamente e, com isso, ficamos sem saber a versão mais próxima da realidade do momento.

03 – O autor analisa os impactos da sobrecarga de informações no mundo moderno: aponta seus efeitos negativos, mas não deixa de ressaltar seus efeitos positivos. Localize afirmações do texto em que ele valoriza a disseminação da informação.
       Estão no 5º parágrafo as afirmações dele que valorizam a disseminação da informação permitida pelo desenvolvimento da tecnologia.

04 – Considerando que esse processo de disseminação acelerada das informações só tende a aumentar, como devemos proceder para que ele não nos asfixie?
       Precisamos aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de público-alvo.