Texto: O espaço do cidadão – Fragmento
Do indivíduo ao cidadão
[...]
Uma coisa é a conquista de uma
personalidade forte, capaz de romper com os preconceitos. Outra coisa é
adquirir os instrumentos de realização eficaz dessa liberdade. Sozinhos,
ficamos livres, mas não podemos exercitar a nossa liberdade. Com o grupo,
encontramos os meios de multiplicar as forças individuais, me diante a
organização. É assim que nosso campo de luta se alarga e que um maior número de
pessoas se avizinha da consciência possível, rompendo as amarras da alienação.
É também pela organização que pessoas inconformadas se reúnem, ampliando,
destarte, sua força e arrastando, pela convicção e o exemplo, gente já predisposta
mas ainda não solidamente instalada nesses princípios redentores.
[...]
Como categoria política, a cidadania
pode e deve submeter-se a diversas propostas de realização: estamos no terreno
de uma ideia que busca, de um lado, a sua teoria e que, de outro, busca a sua
prática possível. A resposta a essas indagações resultará de um jogo em que à
filosofia até mesmo se podem misturar ou se opor interesses mesquinhos
gastrintestinais. Trata-se, em última análise, de um debate em procura de uma
lei e, por isso, a resposta obtida é única, fixa, estável, permanente, ainda
que seja o fruto de um arranjo apenas momentâneo. Dele podemos discordar
intimamente – e até mesmo exprimir publicamente a nossa inconformidade, mas sua
eficácia durará até que o equilíbrio que a gerou ceda lugar a um outro novo.
[...]
A luta pela cidadania não se esgota na
confecção de uma lei ou da Constituição porque a lei é apenas uma concreção, um
momento finito de um debate filosófico sempre inacabado. Assim como o indivíduo
deve estar sempre vigiando a si mesmo para não se enredar pela alienação
circundante, assim o cidadão, a partir das conquistas obtidas, tem de permanecer
alerta para garantir e ampliar sua cidadania.
Lugar
e valor do indivíduo
“O espaço impõe a cada coisa um
determinado feixe de relações, porque cada coisa ocupa um lugar dado”.
Cada homem vale pelo lugar onde está: o
seu valor como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua localização no
território. Seu valor vai mudando, incessantemente, para melhor ou para pior,
em função das diferenças de acessibilidade (tempo, frequência, preço),
independentes de sua própria condição. Pessoas, com as mesmas virtualidades, a
mesma formação, até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em
que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser
mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde
se está. Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza, um outro lugar
poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso àqueles bens e serviços
que lhes são teoricamente devidos, mas que, de fato, lhe faltam.
[...]
SANTOS, Milton. O
espaço do cidadão. In: SILVA, Elisane; NEVES, Gervásio Rodrigo; MARTINS, Liana
(org.). Milton Santos: O espaço da cidadania e outras reflexões. Porto Alegre:
Fundação Ulisses Guimarães, 2011. p. 159-161.
Fonte: Vivências –
Projeto de vida. Volume único – Ensino médio. Isabella & Sofia. 1ª ed. São
Paulo, 2020. Editora Scipione. p. 128-129.
Entendendo o texto:
01 – Com base no que foi
lido, debatam sobre a diferença entre indivíduo e cidadão.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: É esperado que os alunos compreendam como indivíduo a
pessoa humana e como cidadão o indivíduo que está inserido em um contexto
social e histórico e, por isso, tem suas ações submetidas a sistemas de
justiça.
02 – Milton Santos considera
que o valor do indivíduo enquanto cidadão está diretamente ligado aos espaços
que ele frequenta e habita. Vocês concordam com essa visão? Justifiquem suas
opiniões levando em conta a definição de cidadania apresentada no glossário da
página anterior.
Resposta pessoal
do aluno.
03 – Expliquem a afirmação
“Sozinhos, ficamos livres, mas não podemos exercitar a nossa liberdade”,
considerando o que já sabem de justiça, direito, dever e cidadania.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Espera-se que os alunos compreendam que, sozinhos, podemos
ir contra sistemas que restringem as liberdades, mas nós não teremos força
suficiente para modificar essas estruturas.
04 – Vocês concordam com as
afirmações do autor sobre a luta pela cidadania? Justifiquem.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Incentive os alunos a justificar suas opiniões e a
apresentar exemplos que corroborem seus pontos de vista.
05 – Em quais espaços
podemos exercitar a cidadania?
Em todos os
espaços.
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