Pesquisa: O fim do mito
Pesquisa
exclusiva ISTO É/Brasmarket mostra que os brasileiros assumem o preconceito
racial e derrubam a tese da convivência pacífica entre negros e brancos, apesar
da liderança de Celso Pitta na disputa da prefeitura paulista
Carla Gullo e Rita
Moraes
A maior cidade do país pode ter seu
primeiro prefeito negro eleito pelo voto. Celso Pitta, ex-secretário de
Finanças de Paulo Maluf, não para de subir nas pesquisas e causa surpresa aos
analistas de plantão. Não pelo seu currículo ilustrado nos Estados Unidos e na
Inglaterra, mas pelo comportamento do eleitorado tradicionalmente conservador.
O poder, em princípio, sempre pertenceu aos brancos. O fato de em 442 anos de
existência São Paulo nunca ter feito um prefeito negro é um sintoma de uma
doença muito mais profunda que se espalha por todo o território nacional. O
Brasil sofre de um intenso e silencioso racismo, especialmente contra o negro.
O mito da democracia racial começa a
cair por terra. No entanto, este é o segundo maior país de descendentes afros
do mundo, com mais de 65 milhões de negros e mestiços. Só perde para a Nigéria,
com uma população de 112 milhões de habitantes. A ascensão de Pitta não
significa a derrubada da barreira do preconceito. Para muitos especialistas se
o candidato fosse de uma classe mais baixa, não tivesse estudo e o
apadrinhamente de Paulo Maluf, jamais alcançaria índices tão elevados nas
pesquisas. “Esses itens superam a rejeição”, diz a historiadora Maria Luiza
Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, autora do livro O racismo na
história do Brasil, da editora Ática. Embora o preconceito de cor e classe seja
mudo, a população sabe que este País discrimina. “O brasileiro tende a ser
politicamente correto e tem dificuldade de assumir o racismo. Mas reconhece o
problema, nem que seja no outro”, afirma o sociólogo Carlos Hasenbalg, do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Pesquisa exclusiva ISTO
É / Brasmarket confirma a tese dos analistas. Um levantamento realizado em 11
capitais mostrou que 83% dos entrevistados acreditam que existe segregação em
relação aos negros. A discriminação aos pobres também foi citada: 90,3% acham
que há preconceito contra as classes mais baixas.
Em São Paulo, esses índices são de 84%
e 74,8%. Do total de entrevistados, 36% dizem que a discriminação acontece mais
no convívio social que no trabalho (18,2%) ou na escola (3,5%). Quase 220% dos
brasileiros, contudo, acham que a discriminação contra o negro se dá em todas
as áreas. Na capital paulista, os nordestinos são rejeitados. Para 58,9% dos
paulistanos é importante tomar medidas que desestimulem a vinda deles para o
Sul e o Sudeste e 37,7% acham que essa migração agrava os problemas da cidade.
“O nordestino representa o mestiço. Por isso a discriminação se estende a
eles”, afirma a historiadora Maria Luiza. O preconceito, mesmo que indiretamente,
acaba respingando em Luiza Erundina, apesar de ela ser a segunda colocada na
disputa em São Paulo. Ela não é negra, mas vem de uma classe mais baixa, é
mulher e, não bastasse, nordestina. “Esse último atributo é o pior a ser
vencido”, acredita a candidata. Erundina furou o cerco em 1988, quando foi
eleita prefeita da cidade. Ironicamente, na época, sua vitória foi atribuída a
uma reação anti-malufista. Hoje, Paulo Maluf refez sua imagem e reconquistou
seu eleitorado. “Na rasteira, ele leva milhares de nordestinos mais pobres que
tentam imitar a classe média”, explica a antropóloga Terezinha Bernardo, da PUC
de São Paulo. “A classe média, por sua vez, não tem ideias próprias. Ela se
espalha na elite e muitas vezes é ainda mais conservadora”, acredita. A
senadora negra Benedita da Silva, que disputou a Prefeitura do Rio em 1992 com
o prefeito César Maia, não teve a mesma sorte de Pitta. “Faziam gestos de
macaco para mim e diziam que eu ia plantar bananeira no Palácio”, lembra ela.
“Eu era discriminada por ser negra, favelada e mulher”.
Revista ISTO É, 4
set. 1996. p. 74-6.
Fonte: Português –
Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder
Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 185-6.
Entendendo a pesquisa:
01 – De acordo com o texto,
de que se trata?
Trata-se do
preconceito racial. Embora tenha como ponto de partida a eleição de Celso
Pitta.
02 – Qual é o tipo do texto
quanto à forma?
É um texto jornalístico que apresenta
dados reais e comenta comportamentos e atitudes de brasileiros realmente
existentes.
03 – Qual foi o
acontecimento que provocou a pesquisa ISTO É / Brasmarket?
Foi a
possibilidade de São Paulo ter o primeiro prefeito negro da sua história.
04 – Por que o problema do
racismo é importante em nosso país?
É importante
porque vivem no país mais de 65 milhões de negros. O Brasil é o segundo país de
descendentes afros do mundo.
05 – Além dos negros, segundo
o texto, quem mais é vítima de discriminação no nosso país?
Também são
discriminados os nordestinos e os mais pobres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário