sexta-feira, 22 de abril de 2022

POEMA: NA RUA DO SABÃO - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

 Poema: Na rua do sabão

             Manuel Bandeira


Cai cai balão

Cai cai balão

Na Rua do Sabão!


O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!

Quem fez foi o filho da lavadeira.

Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.

Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs os gomos oblongos...

Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.

Ei-lo agora que sobe, – pequena coisa tocante na escuridão do céu.

 

Levou tempo para criar fôlego.

Bambeava, tremia todo e mudava de cor.

A molecada da Rua do Sabão

Gritava com maldade:

Cai cai balão!


Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou das mãos que o tenteavam.

E foi subindo...

                                      para longe...

                                                                    serenamente...

Como se o enchesse o soprinho tísico do José.

 

Cai cai balão!

A molecada salteou-o com atiradeiras

                                              assobios

                                              apupos

                                              pedradas.

Cai cai balão!

Um senhor advertiu que os balões são proibidos pelas posturas municipais.

Ele foi subindo...

                               muito serenamente...

                                                                      para muito longe...

Não caiu na Rua do Sabão.

Caiu muito longe... Caiu no mar, – nas águas puras do mar alto.

Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 195-6.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 152-4.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Apupo: vaia, gritos e assobios.

·        Arrancar: desprender(-se), soltar(-se).

·        Atiradeira: estilingue, bodoque.

·        Enfunar-se: encher-se de vento; tornar-se bojudo; inflar.

·        Entesar: tornar direito, reto; esticar, endireitar.

·    Morrão de pez: pedaço de corda ou mecha com breu ou piche em que se coloca fogo.

·        Oblongo: que tem mais comprimento que largura; alongado.

·        Saltear: atacar de repente.

·        Tentear: apalpar, dirigir.

·        Tísico: aquele que sofre de tuberculose pulmonar.

02 – O início do poema refere-se a uma cantiga de nosso folclore.

a)   Em que época do ano e em que tipo de festividade ela é cantada?

No início do inverno, em junho, nas festas juninas.

b)   Que fatos citados no poema se relacionam com essa festa?

Crianças cantarem a cantiga Cai cai balão e o menino soltar balão.

03 – José arranjou o balãozinho de papel com dificuldade. Qual é a condição social do menino? Justifique sua resposta.

      O menino é de uma classe social desfavorecida; é pobre. Ele é filho da lavadeira e trabalha na composição de um jornal.

04 – Enquanto o balão vai, aos poucos, ganhando altura e subindo, a molecada muda de atitude gradativamente.

a)   Como a molecada reage enquanto o balão ganhava fôlego?

A molecada gritava com maldade “Cai cai balão”, torcendo para que ele caísse.

b)   E quando ele começou a subir?

Atacou o balão com atiradeiras (estilingues) e pedradas, assobiando e vaiando.

05 – A tuberculose é uma doença contagiosa, causada pelo bacilo de Koch, e se localiza frequentemente nos pulmões. Até o início do século XX não tinha cura. Comparando a tuberculose com a Aids, doença que atualmente também é contagiosa e incurável, como você imagina que as pessoas agiam naquela época em relação a um tuberculoso?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Em razão do medo de se contagiarem ou por falta de informação a respeito da doença, as pessoas excluíam socialmente os doentes, tinham preconceito.

06 – No poema, podemos comparar José com o balãozinho.

a)   Que semelhanças há entre o comportamento do balão tentando subir e i que José apresentava em razão da sua condição física de menino tuberculoso?

O balãozinho levou tempo para criar fôlego. Bambeava, tremia e mudava de cor. Do mesmo modo, José, tuberculoso, tinha dificuldade para respirar, tossia muito, tremia, perdia o fôlego e mudava de cor.

b)   Ao agredirem o balão, quem na verdade os meninos pretendiam agredir? Justifique sua resposta.

Eles pretendiam agredir José, pois tinham preconceito em relação ao garoto, pelo fato de ele ter contraído uma doença contagiosa e incurável. Ou então porque sentiam inveja de José.

07 – Apesar da maldade dos moleques, o balãozinho subiu muito serenamente e caiu muito longe, “nas águas puras do mar alto”.

a)   Comparando novamente José com o balão, qual seria, na sua opinião, o sonho do menino que o balãozinho conseguiu realizar?

O sonho de sair da prisão representada pela doença, o desejo de conhecer o mundo, de ser livre, de ser aceito, etc.

b)   Considerando que José estava doente, infectado pela tuberculose, o que podem representar as “águas puras” do mar alto?

Podem representar a purificação de José, o fim de sua doença.

 





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