História: O povo que inventou o A B C
Monteiro Lobato
De Salomão, Dona Benta pulou para a
Fenícia.
-- No tempo em que ninguém sabia
escrever – disse Dona Benta – porque o alfabeto ainda não fora inventado, vivia
numa aldeia um carpinteiro de nome Cadmo. Era fenício, isto é, natural da
Fenícia, uma nação de comerciantes muito espertos, estabelecida nas costas do
Mediterrâneo. Cadmo estava um dia trabalhando no seu banco de carpinteiro, a
certa distância de casa. Súbito notou a falta duma ferramenta qualquer, que
esquecera de trazer. Fez então uns rabiscos num cavaco de madeira e disse a um
escravo: “Fulano, leve isto à minha esposa e traga o que ela der.” O escravo
levou o cavaco. A mulher de Cadmo leu o sinal escrito, tomou a ferramenta
pedida e disse: “Aqui está o que ele pede”. O escravo abriu a boca, e ainda
mais quando ao entregar a ferramenta ouviu o patrão dizer que era aquilo mesmo.
Seu assombro diante do cavaco mágico foi tamanho que pediu licença a Cadmo para
o trazer pendurado ao peito, como bentinho.
-- Coitado! – exclamou a menina.
-- O que há de verdade nisto, não sei. Mas
o fato é que o alfabeto nos veio da Fenícia, inventado por esse Cadmo ou por
quem quer que seja. Em grego as duas primeiras letras chamavam-se Alfa e Beta –
daí o nome de alfabeto que ficou para o conjunto de todos os sinais ou letras.
Já pensaram vocês, por um minuto, na invenção maravilhosa que foi o alfabeto?
-- Ainda não – disse Pedrinho. – Vamos
começar a pensar nisso de hoje em diante, porque só agora vovó nos abriu os
olhos.
-- Pois pensem. Se não fossem os
fenícios, ou melhor, se o alfabeto não tivesse sido inventado, estaríamos hoje
num grande atraso, talvez ainda usando os hieróglifos ou os caracteres cuneiformes
dos babilônios. Vejam que desgraça.
-- Estou compreendendo, vovó. Estou
compreendendo muito bem a importância da invenção do alfabeto – disse Pedrinho.
– Mas as letras, ou sinais adotados pelos fenícios, eram as mesmas que usamos
hoje?
-- Algumas letras não sofreram mudança, como o A, o E, o O e o Z. Mesmo
assim o A era deitado e o E tinha a abertura voltada para a esquerda. As outras
letras mudaram. Mas isto da forma dos sinais não tem a mínima importância. O
que importa é haver um sinal para cada som, de modo que possamos escrever
milhares de palavras com alguns sinais apenas.
-- Como na música, vovó! – sugeriu
Narizinho.
-- Exatamente. Na música temos set
notas, ou sete sinais. Com esse bocadinho de elementos, os músicos compõem
maravilhosas músicas, desde o “Vem cá, Bitu” até as célebres sonatas de
Beethoven. As sete notas são o alfabeto da música.
-- Quem eram esses tais fenícios, vovó?
Da mesma raça dos gregos?
-- Eram um ramo da raça semita, localizado
perto dos judeus, ao norte. Tiveram um grande rei de nome Hirã que viveu no
tempo de Salomão, do qual foi amigo. Hirã chegou a mandar para Jerusalém muitos
dos melhores operários da Fenícia a fim de trabalharem na construção do grande
templo, apesar de não crer no deus de Salomão.
História do mundo para
crianças. São Paulo, Brasiliense, p. 28-9.
Fonte: Português –
Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder
Rivas – Ed. Saraiva, 2ª ed. 1999, p. 61-3.
Entendendo a história:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Salomão: filho do rei Davi e também rei de Israel, citado na Bíblia,
tornou-se um exemplo de sabedoria.
·
Mediterrâneo: mar que banha o sul da Europa e o norte da África.
·
Súbito:
repentino, inesperado.
·
Babilônio: povo antigo da Babilônia.
· Cuneiforme: em forma de cunha; escrita dos assírios, caracterizada por
elementos em forma de cunha.
·
Beethoven: Ludwig Van Beethoven (1770-1827), músico e compositor alemão.
·
Hieróglifo: designação de cada um dos caracteres de uma escrita dos
antigos egípcios, ainda conservada em inscrições.
·
Sonata: no conceito clássico, forma musical que consiste em três
tempos, distintos no andamento e condicionados entre si pela tonalidade.
02 – Em que sentido as palavras
destacadas nas frases estão sendo empregadas?
a) Isto para mim é grego. Não entendo nada.
Língua grega.
b) Meu vizinho é grego. Nasceu na ilha de Lesbos.
Nascido na Grécia.
c) Estou sem dinheiro, preciso ir ao banco.
Lugar onde se guarda dinheiro.
d) O diretor da escola disse que é nos bancos escolares que se constrói o futuro do Brasil.
Lugar onde se senta.
e) Meu pai trabalha no ramo de calçados.
Área de atividade humana.
f) Veja que belo ramo carregado de frutas.
Parte de uma árvore.
g) Sou um Rivas do ramo de Granada.
Parte de uma família.
03 – Em geral, ao fazer uma
leitura, não vamos ao dicionário à procura de cada palavra que desconhecemos.
Primeiramente tentamos entender seu significado pelo contexto em que ela se
encontra. Vejamos como está a sua habilidade de leitor para fazer esse
reconhecimento. Procure descobrir os significados das palavras retiradas do
texto que você leu, discuta-os com os colegas e depois confirme-os no
dicionário.
a) Fez então uns rabiscos num cavaco de madeira.
No dicionário o aluno vai encontrar dois significados diferentes:
lasca de madeira e bate-papo, conversa. A resposta é lasca de madeira.
b) Seu assombro diante do cavaco mágico foi tamanho...
Espanto, admiração.
04 – Encontre no texto
palavras cognatas, ou seja, que pertencem à mesma família destas. Dizemos que
isso ocorre quando, como os humanos, elas derivam de um mesmo tronco (exemplo:
pedra, pedreira, pedreiro, pedrada).
·
Escrita: escrever.
·
Ferro: ferramenta.
·
Analfabeto: alfabeto.
·
Escravidão: escravo.
·
Comércio: comerciantes.
·
Abertura: abriu.
05 – Apesar da narrativa, o
texto desta unidade tem também o propósito de transmitir informações ao público
leitor. Que informação ele nos transmite por meio da conversa de Dona Benta com
seus netos?
A informação refere-se à invenção do
alfabeto.
06 – De que nacionalidade
era Cadmo, o homem que surpreendeu o escravo com seus “rabiscos mágicos”?
Ele era fenício, isto é, natural da
Fenícia.
07 – Que características
tinha esse povo ao qual Cadmo pertencia?
Os fenícios eram
um povo de comerciantes estabelecidos nas costas do Mediterrâneo.
08 – A que se deve o nome
“alfabeto”?
O nome alfabeto se deve ao fato de as
primeiras letras do alfabeto grego serem Alfa
e Beta.
09 – Qual é a grande
vantagem do alfabeto em relação a outros tipos de registros anteriormente
inventados?
A grande vantagem
é a economia de caracteres, pois com a combinação de algumas letras podemos
formar todos os sons que precisamos reproduzir e em diversas línguas. Essas
letras não reproduzem exatamente o som que falamos, mas chegam bem perto.
10 – Dona Benta compara o
alfabeto com outro tipo de registro. Que comparação é essa?
O alfabeto é comparado à escrita musical,
cuja combinação de sete notas permite escrever todas as músicas.
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