Música(Atividades):
Roda Viva
Chico Buarque
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.
Entendendo a música:
01 – Qual é a ideologia da canção?
A letra trata do sentimento de
um impasse: como ser ativo, participar da construção da sua vida e ao mesmo
tempo ter que carregar as responsabilidades cotidianas nas costas? A roda, na
qual o título já sugere, seria a rotina, sempre circular, repetitiva, às vezes
até tautológica. E a roda é viva, isto é, onipresente.
02 – Os primeiros versos são:
“Tem dias
que a gente se sente
Como quem
partiu ou morreu
A gente
estancou de repente
Ou foi o
mundo então que cresceu.”
Qual é o tipo de sentimento que expressa?
Expressa o sentimento de impotência, como se houvesse vezes em que você
questiona como está sua postura diante do mundo: você partiu, morreu, estancou?
As coisas acontecem e a você aliena-se, fica aquém disto tudo, como se o mundo
crescesse e você não acompanhasse.
03 – Nos versos:
“A gente
quer ter iniciativa
No nosso
destino mandar
Mas eis que
chega roda vida
E carrega o
destino pra lá”.
Estes versos mostram que apesar daquela
impotência, você não desiste de interferir no seu destino, por quê?
Porque sempre tem a iniciativa
de conduzir a sua vida. Porém, a roda viva chega e decide o destino por você.
Em vez de lutar pelo que quer, a roda viva impede. Todo aquele desejo de
participação se esvai.
04 – O refrão, que se repete no final de cada
estrofe justamente para realçar a ideia de repetição, é composto pelos versos:
“Roda
mundo, roda-gigante
Rodamoinho,
roda pião
O tempo
rodou num instante
Nas voltas
do meu coração”.
Por que o eu poético diz que exala a sensação
rotatória?
Além da beleza dos versos, que
reiteram a palavra “roda”, a própria melodia da música exala a sensação
rotatória. O tempo passa rapidamente, num instante, rodando em torno do seu
coração, que bate para sobreviver. Você se mantém vivo e as coisas vão
acontecendo, tão naturais quanto o mundo rodando, a roda-gigante, o moinho e o
peão.
05
– Os versos abaixo:
“A gente
vai contra a corrente
Até não
poder resistir
Na volta do
barco é que sente
O quanto
deixou de cumprir
Faz tempo
que a gente cultiva
A mais
linda roseira que há
Mas eis que
chega a roda viva
E carrega a
roseira pra lá”
O que quer dizer e afirmar?
Mostra
que mesmo com seus pequenos protestos, como alguém remando contra a corrente,
não é suficiente para abalar a ordem, por isso a pessoa percebe o quanto deixou
de cumprir. No fim das contas, na volta no barco, reafirma-se o que se havia
questionado, indo a favor da corrente. Todas as roseiras cultivadas por nós,
aquilo que cuidamos, também é levado pela roda viva, antes que floresça. A roda
nos tira a capacidade de viver, sendo mais viva do que nós mesmos.
06 - Os versos:
“A roda da
saia, mulata
Não quer
mais rodar, não senhor
Não posso
fazer serenata
A roda de
samba acabou”.
São versos muito interessantes, por quê?
Porque
saias que rodam são típicas do samba, o próprio nome da vestimenta é ‘saia
rodada’. Não só acabou a participação política, acabou também o envolvimento
com outras pessoas, a conversa calorosa, acabou o samba.
07 – Quais são os versos que representam a
fraqueza do protesto, o desejo artístico, se a roda não interferisse?
São: “A gente toma a
iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá”.
08 – Nos versos:
“O samba, a
viola, a roseira
Um dia a
fogueira queimou
Foi tudo
ilusão passageira
Que a brisa
primeira levou”
É um apanhado de tudo que foi levantado até então
pela canção. Qual é o desejo do eu poético?
A
vontade de participar, de se voltar contra a ordem supressora, de ter liberdade
etc., são oprimidos. Surge a imagem de que são apenas uma ilusão passageira, um
artefato que a brisa facilmente leva.
09 – Os últimos versos são:
09 – Os últimos versos são:
“No peito a
saudade cativa
Faz força
pro tempo parar
Mas eis que
chega a roda viva
E carrega a
saudade pra lá”
Qual é o sentimento do eu poético?
O
sentimento do eu poético é de sair desta roda. Finalizam muito bem este sentimento.
Quem conhece a frase “Pare o mundo que eu quero descer”? Então, parece muito
com isso.
10
– Por que o eu poético fala de um sentimento confuso, estonteante, fora da
razão, gerado pela ideia absurda de suprimir as massas em prol de um grupo de
militares no poder, gera uma imagem abstrata dos rumos do Brasil?
Porque, primeiro
se sai de uma ditadura do Estado Novo, protagonizada por Getúlio Vargas.
Depois, se tem uma experiência democrática que até trouxe uma esperança ao
país, como JK e a bossa nova. Logo após, a experiência é frustrada pelo golpe
militar de 1964.
11 – A roda vai girando. Remete a uma bagunça. O
desejo de mudar é ignorado. A capacidade de se manifestar é minimizada. O que o
eu poético, utiliza para minimizar essa situação?
Remete
a objetos infantis, como o peão; algo próximo às cantigas de roda, tão
ingênuas. Este lado aparentemente inocente contrasta com a ditadura, prova do
desnorteio ao qual a população estava submetida. Até a saudade é reduzida a uma
bobagem qualquer, assim como a viola e a roseira, ambos queimados pela
fogueira. A ordem escondia, na realidade, uma desordem. A constante roda viva
ocultava a imobilidade dos cidadãos.
12 – Qual a ideia, que os últimos segundos da música são muito bons, nos mostra?
O refrão vai se repetindo, acelerando gradativamente,
reforçando a ideia de uma confusão, de uma roda que vai carregando tudo que se
encontra à frente, não dá chance para respirar, uma bola de neve.
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