CRÔNICA: FOFOCA, uma obra sem autor
Martha Medeiros
O próprio som da palavra dá a ela um
certo ar de frivolidade. Fofoca, mexerico, coisa sem importância. Difamação é
crime, mas fofoca é só uma brincadeira.
O que seria da vida sem um bom
diz-que-me-diz-que, não?
Não. Dispenso fofocas e fofoqueiros.
Quando alguém se aproxima de mim, segura no meu braço e olha para o lado antes
de começar a falar, já sei que vem aí uma lama que não me diz respeito. Se não
tiver como fugir, deixo que a indiscrição entre por um ouvido e saia pelo
outro, dando assim o pior castigo para o meu interlocutor: não passarei adiante
nem uma palavra.
Não recuso uma olhada na revista Caras,
especialista em entregar quem come quem, quem traiu quem faliu, quem casou,
quem separou. É a única publicação do gênero que passa alguma credibilidade, porque
sei que os envolvidos foram escutados, deram declarações por vontade própria,
deixaram-se fotografar. São fofocas profissionais, consentidas e quase sempre
assinadas. Fofoca anônima é que é golpe baixo.
A fofoca nasce da boca de quem? Ninguém
sabe. Ouviu-se falar. É uma afirmação sem fonte, uma suspeita sem indício, uma
leviandade órfã de pai e mãe. Quem fabrica uma fofoca quer ter a sensação de
poder. Poder o quê? Poder divulgar algo seu, ver seu “trabalho” passado
adiante, provocando reações, mobilizando pessoas. Quem dera o criador da fofoca
pudesse contribuir para a sociedade com um quadro, um projeto de arquitetura,
um plano educacional, mas sem talento para tanto, ele gera boatos.
Quem faz intrigas sobre a vida alheia
quer ter algo de sua autoria, uma obra que se alastre e cresça, que se torne
pública e que seja muito comentada. Algo que lhe dê continuidade. É por isso
que fofocar é uma tentação. Porque nos dá, por poucos minutos, a sensação de
ser portador de uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com
os outros. Na verdade, está-se exercitando uma pequena maldade, não prevista no
Código Penal. Fofocas podem provocar lesões emocionais. Por mais inocente ou
absurda, sempre deixa um rastro de desconfiança. Onde há fumaça há fogo,
acreditam todos, o que transforma toda fofoca numa verdade em potencial. Não há
fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira,
é um tiro pelas costas.
Medeiros,
Martha. Almas gêmeas, 20 set. 1999. Disponível em:
Acesse
em: 7 dez. 2005.
Interpretação do texto:
01 – Para tratar da fofoca,
a autora do texto cria uma metáfora. Qual é ela?
Martha Medeiros diz que a fofoca é uma “obra
sem autor.”
a) Que
argumentos são utilizados, no texto, para justificar essa metáfora?
Para justificar a ausência de autoria de uma fofoca, o argumento
utilizado é o fato de não ser possível identificar a fonte da fofoca. A fofoca
seria gerada pelo desejo de quem a criou de ter uma “obra” sua comentada por
todos, de ter seu “trabalho” divulgado, “provocando reações, mobilizando
pessoas”, assim como ocorre com as obras de arte.
b) Por
que, segundo o texto, a fofoca é tentadora?
Porque daria ao seu autor a sensação de poder, de “ser portador de
uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com os outros.”
c) No
final do terceiro parágrafo, a autora do texto deixa clara a sua opinião sobre
aqueles que produzem fofocas. Qual é ela?
A autora considera os fofoqueiros pessoas sem talento que, incapazes
de contribuir para a sociedade com obras realmente significativas, acabam
produzindo boatos.
02 – Releia:
“Não há fofoca que compense. Se for
mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas.”
a) Nesse
trecho, há outras duas metáforas para a fofoca. Quais são elas?
“Bala perdida” e “Tiro pelas costas”.
b) O
que significa cada uma delas, considerando o contexto?
No primeiro caso, a metáfora faz referência à inutilidade da fofoca
caso o que se conte seja verdade, já que não será uma afirmação fundamentada,
mas sim uma exposição “maldosa” de algo ocorrido com outra pessoa.
A segunda metáfora sugere a relação de semelhança entre a fofoca e
uma traição, um ato covarde, que impossibilita a defesa da vítima.
c) Explique
de que maneira as metáforas destacadas contribuem para fortalecer a crítica da
autora sobre o assunto tratado.
Ao tratar a fofoca como uma “obra sem autor”, uma “bala perdida” e
“um tiro pelas costas”, Martha Medeiros enfatiza o caráter inútil, covarde e
traiçoeiro de criar ou reproduzir fofocas.
muito obrigado,me ajudou muito
ResponderExcluirTHANK YOU VERY MUCH,YOU HELPED ME A LOT
ResponderExcluirMuito bom o texto!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirValeu saite dimais
ResponderExcluirMuito obrigada
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