Artigo de Opinião: Piratas do Caribe é um hamburgão de fantasia
Luís Antônio Giron
No fim do mundo, terceiro filme da
trilogia, estreia hoje apostando no excesso e efeitos e no talento de Johnny
Depp.
Se há uma palavra para designar a
terceira parte da trilogia Piratas do Caribe esta palavra é excesso. Piratas do
Caribe 3: no fim do mundo abusa dos efeitos visuais, das reviravoltas, traições
sem sentido e das lutas. O diretor Gore Verbinski e o produtor Jerry
Bruckheimer trabalharam com o excesso da imagem e da ação – e, claro, com um
olho fixo na bilheteria.
O filme, que estreia mundialmente hoje
[25 de maio de 2007] – e em 769 salas de cinema só no Brasil –, é todo ele um
acúmulo de elementos. Os dois longas anteriores já arrecadaram 1,8 bilhão de
dólares – e este No fim do mundo pode bater o recorde do anterior, O baú da
morte, que amealhou nada menos que 100 milhões de dólares em apenas dois dias
de exibição. [...]
No fim do mundo dura 165 minutos. Vem
carregado de enredos, que correm paralelos sobre os trilhos do tema da morte. O
roteiro compreende quatro linhas de trama. A primeira é o resgate que os
piratas têm de fazer de dois mortos: o do pai do mocinho Will Turner (Orlando
Bloom), preso no navio Holandês Voador, e o resgate do pirata rebelde Jack
Sparrow (Johnny Depp), desgarrado em uma geleira ártica. A segunda linha está
na fronteira entre o mundo dos vivos, dos mortos e da imaginação. Há, em
terceiro lugar, o amor entre os piratas bonitinhos Will e Elisabeth (Keira
Knightley). E trata, por fim, do confronto entre o Mercantilismo, o Romantismo
e a Natureza. É a melhor linha do longa-metragem.
O capital é encarnado pelo lorde Cutler
Beckett (Tom Hollander), exterminador de piratas a serviço da Companhia das
Índias. Ele diz, com um jeito cândido de Mozart, uma frase emblemática, quando
tenta assassinar Sparrow: “Nada pessoal, Jack Sparrow. É apenas um bom
negócio.” O Romantismo tem duas frentes: Jack Sparrow, o pirata impenitente e
niilista, e a Corte da Irmandade, uma entidade globalizada de bucaneiros, que
se reúne para defender o mar sem fronteiras contra os avanços da Companhia das
Índias.
A Natureza é representada pelo amor
doentio do comandante Davy Jones (Bill Nighy), do Holandês Voador, pela deusa
Calipso (Naomie Harris): o coração de Jones está aprisionado a um baú, ao passo
que ele aprisiona Calipso na masmorra do navio.
Não há profundidade nesse
entrelaçamento de linhas, nem mesmo na mais forte delas. O fato de uma liga
internacional de piratas ser a detentora dos princípios da liberdade, em
contraposição aos negócios (aparentemente legais) da Companhia das Índias, não
é convincente. Nem por que a morte pode ser mais divertida que a vida, como
Sparrow tenta mostrar o tempo todo. Os valores são relativos neste filme, como
em muitos outros produzidos por Hollywood.
Tudo isso leva o espectador que não
acompanhou os outros dois episódios a se perder no maremoto de fantasia de No
fim do mundo. Mas ele é recompensado em pelo menos duas cenas. Pode descansar
na sequência da solidão de Jack Spassow, que contracena com um exército de
caranguejos camuflados de pedra e com o navio Pérola Negra. Aqui prevalece o
talento de clown de Johnny Depp, uma espécie de Carlitos do século XXI. A cena
é despida de efeitos: o pirata sobre o vazio, tentando puxar seu navio por uma
corda. Outra cena que vale o filme é a da baralha entre os piratas e os lordes
durante uma tempestade. Os efeitos especiais são fenomenais e bonitos, numa
sequência que deve durar mais de 20 minutos, com direito a tons cinzentos,
movimentos vertiginosos das naves e uma luta tão brutal quanto fantasiosa. No
olho de todo esse furação, Elisabeth e Will encontram tempo para serem casados
pelo rival de Sparrow, o capitão Barbossa (Geoffrey Rush). Imagem de Zeitgeist:
enquanto o casal se beija (numa temperatura) altíssima para os padrões Disney),
eles decapitam monstros marinhos e matam oficiais ingleses.
Muita rapidez, muito efeito e muitas
histórias compõem No fim do Mundo. É um hamburgão de fantasia. É preciso
reconhecer que o excesso pega bem neste fim de década de 2000. A audiência
contemporânea sente fome de filmes carregados de efeitos e referências.
Certamente o público se excede nas calorias do espírito para compensar a dieta
magra da vida real.
Giron,
Luís Antônio. Época online. Disponível em:
Acesso em: 27 maio 2007. (Fragmento adaptado).
01 – Qual é a finalidade do texto?
Apresentar uma avaliação sobre um filme lançado nos cinemas do mundo
inteiro: Piratas do Caribe 3; no fim do mundo.
a)
Que informações objetivas o leitor pode obter
a partir da leitura do texto?
O texto informa que o filme é o terceiro em uma trilogia denominada
Piratas do Caribe; que foi lançado mundialmente no dia 25 de maio de 2007 e em
769 salas de cinema só no Brasil; que dura 165 minutos; que desenvolve quatro
linhas de trama: o resgate de dois mortos, a fronteira entre o mundo dos vivos,
dos mortos e da imaginação, o amor entre Will e Elisabeth, e o confronto entre
o Mercantilismo, o Romantismo e a Natureza.
b)
Em um dos parágrafos iniciais, o autor faz um
breve resumo da obra para os leitores. Que parágrafo é esse?
O breve resumo é apresentado no 3° parágrafo.
02 – Observa-se que os
parágrafos de 2 a 4 caracterizam-se por sua natureza mais informativa. Os
demais parágrafos apresentam uma característica diferente. Qual é ela?
Os demais parágrafos (1-5-7) são
claramente avaliativos, porque revelam a opinião do autor do texto sobre o
filme.
a)
No 1º parágrafo que marcas linguísticas
explicitam essa característica?
Os trechos “Se há uma palavra para designar a terceira parte da
trilogia Piratas do Caribe, esta palavra é excesso”; “Piratas do Caribe 3 [...]
abusa dos efeitos visuais, das reviravoltas, traições sem sentidos [...]”; “O
diretor [...] e o produtor [...] trabalham com o excesso da imagem e da ação
explicitam a opinião geral de Luís Antônio Giron sobre Piratas do Caribe 3.
03 – Como o leitor do texto
deve lidar com cada uma dessas sequências de parágrafos? Explique.
Os parágrafos que
apresentam uma avaliação do filme podem ser questionados pelo leitor, pois
representam o ponto de vista do autor do texto. Tal avaliação é, portanto,
subjetiva. Os parágrafos mais informativos são objetivos, porque apresentam
fatos. Por esse motivo, não devem ser objeto do questionamento do leitor.
04 – Embora o 4º parágrafo
tenha natureza informativa, em alguns trechos a opinião do autor do texto
começa a se manifestar. No caderno, transcreva esses trechos.
“Ele diz, com um jeito cândido de
Mozart”; “Jack Sparrow, o pirata impenitente e niilista [...]”; “A Natureza é
representada pelo amor doentio do comandante Davy Jones [...] pela deusa
Calipso.”
a)
Por que esses trechos revelam a opinião do
autor do texto?
Em todos eles, o que se vê é a explicitação de um julgamento feito
por Luís Antônio Giron sobre personagens do filme e seus comportamentos. Nessas
passagens, o leitor encontra imagens criadas por Giron, que não correspondem ao
que se vê no filme, mas às associações criadas pelo crítico quando o viu. Um
exemplo claro é a comparação entre o lorde inglês Cutler Beckett e o compositor
Wolfgang Amadeus Mozart, provavelmente desencadeada pela vestimenta
característica do século XVIII. Podemos supor que pouquíssimas pessoas fariam a
mesma comparação, o que evidencia seu caráter subjetivo, pessoal.
05 – Segundo Luís Antônio
Giron, quais são os pontos negativos de Piratas do Caribe 3? E os positivos?
Giron critica a falta de profundidade na
articulação das quatro linhas da trama, que tornam pouco convincentes duas das
principais ideias defendidas no filme. Também considera negativa a dificuldade
que alguém que não tenha assistido aos dois filmes anteriores da trilogia terá
para acompanhar o enredo de No fim do mundo.
Giron elogia algumas cenas do filme, que
podem divertir a audiência. A primeira ocorre quando Jack Sparrow contracena
com um exército de caranguejos camuflados de pedra e merece destaque pela
atuação de Johnny Depp, caracterizado pelo autor como “uma espécie de Carlitos
do século XXI”. A outra cena é a da batalha final entre os piratas e os lordes
ingleses, na qual se destacam efeitos especiais qualificados por Giron como
“fenomenais e bonitos”. A conclusão final sobre o filme também é positiva: “é
preciso reconhecer que o excesso pega bem neste fim de década de 2000.
06 – No último parágrafo, o
autor recorre a algumas imagens para resumir a sua avaliação sobre o filme. Que
imagens são essas?
As imagens apresentadas pertencem a um
mesmo campo semântico: fome de filmes, calorias do espirito, dieta magra da
vida real.
a)
As imagens permitem concluir que a avaliação
do autor a respeito do filme é negativa ou positiva? Por quê?
A avaliação é positiva. O autor afirma que o “excesso pega bem neste
fim de década de 2000”. E explora a ideia de excesso por meio da imagem de um
hamburgão, do filme “carregado” de efeitos e referências e do excesso de
“calorias do espírito”.
b)
Por que, no contexto em que foram usadas,
tais imagens têm um valor argumentativo?
Porque são usadas para convencer os leitores de que o filme é bom
por meio da analogia com um sanduíche que costuma ser apreciado por muitas
pessoas.
07 – Como pode ser
interpretação o título do texto?
Quando chega ao fim do texto, o leitor
entende por que Luís Antônio Giron apresenta Piratas do Caribe 3 como um
“hamburgão de fantasia”. A avaliação que faz do filme é a de que ele exagera em
alguns pontos, mas esse exagero encontra eco na audiência carente de diversão
descompromissada. Nesse sentido, a imagem do título – um hamburgão da fantasia
– resume o aspecto central da opinião do autor sobre Piratas: é uma diversão
altamente “calórica” porque sacia a fome provocada por uma realidade carente de
emoções e de fantasia.
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