Crônica: A carroça dos cachorros
Lima Barreto Quando de manhã cedo, saio da minha
casa, triste e saudoso da minha mocidade que se foi fecunda, na rua eu vejo o
espetáculo mais engraçado desta vida.
Amo os animais e todos eles me enchem
do prazer natureza.
Sozinho, mais ou menos esbodegado, eu,
pela manhã desço a rua e vejo.
O espetáculo mais curioso é o da
carroça dos cachorros. Ela me lembra a antiga caleça dos ministros de Estado,
tempo do império, quando eram seguidas por duas praças de cavalaria de polícia.
Era no tempo da minha meninice e eu me
lembro disso com as maiores saudades.
-- Lá vem a carrocinha! - dizem.
E todos os homens, mulheres e crianças
se agitam e tratam de avisar os outros.
Diz Dona Marocas a Dona Eugênia:
-- Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda
o Jupi!
E toda a “avenida" se agita e os
cachorrinhos vão presos e escondidos.
Esse espetáculo tão curioso e especial
mostra bem de que forma profunda nós homens nos ligamos aos animais.
Nada de útil, na verdade, o cão nos dá;
entretanto, nós o amamos e nós o queremos.
Quem os ama mais, não somos nós os
homens; mas são as mulheres e as mulheres pobres, depositárias por excelência
daquilo que faz a felicidade e infelicidade da humanidade – o Amor.
São elas que defendem os cachorros dos
praças de polícia e dos guardas municipais; são elas que amam os cães sem dono,
os tristes e desgraçados cães que andam por aí à toa.
Todas
as manhãs, quando vejo semelhante espetáculo, eu bendigo a humanidade em nome
daquelas pobres mulheres que se apiedam pelos cães.
A lei, com a sua cavalaria e guardas
municipais, está no seu direito em persegui-los; elas, porém, estão no seu
dever em acoitá-los.
Lima
Barreto
Entendendo a crônica:
01 – A partir a leitura da
crônica, o adjetivo “pobres” caracteriza:
a)
As mulheres.
b)
Os policiais.
c)
Os sentimentos do cronista.
d)
Os cães.
02 – A crônica é narrada em
1ª ou em 3ª pessoa? Destaque do texto elementos que justifiquem o foco
narrativo escolhido.
É narrada em 1ª pessoa, conforme este
trecho: “— Quando de manhã cedo, saio...”.
03 – O narrador participa da
história ou apenas observa?
Não, apenas observa.
04 – Onde e quando se passa
a história?
Na rua onde mora
o narrador e o fato acontece de manhã, cedo.
05 – No trecho: “E toda a
“avenida” se agita e os cachorrinhos vão presos e escondidos”, as aspas na
palavra avenida foram utilizadas com propósito:
a)
Expressivo figurativo.
b)
Apenas de chamar a atenção para a passagem da
carrocinha.
c)
De marcar ironia.
d)
De indicar que se trata de palavra de língua
estrangeira.
06 – Transcreva do texto
adjetivos e/ou locuções adjetivas que se referem:
a)
Aos sentimentos do cronista.
Triste, saudoso, solitário, esbodegado.
b)
Aos cachorros.
Tristes, desgraçados.
07 – No trecho: “São elas que defendem os cachorros
dos praças de polícia e dos guardas municipais; são elas que amam os cães sem dono, os tristes e desgraçados
cães que andam por aí à toa.”, as palavras destacadas se referem a:
a)
Vizinhas.
b)
Às mulheres.
c)
Dona Marocas e Dona Eugênia.
d)
Às mulheres e às mulheres pobres.
08 – Em:
“E
todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros.
Diz Dona Marocas a Dona Eugênia:
-- Vizinha! Lá vem a carrocinha!
Prenda o Jupi!”.
A transformação correta do trecho
sublinhado no texto para o discurso indireto no pretérito está na alternativa:
a)
Dona Marocas disse à vizinha que
está vindo a carrocinha e que ela prende o Jupi!
b)
Dona Marocas disse à vizinha que está vindo a
carrocinha e que ela devesse prende o Jupi!
c)
Dona Marocas disse à vizinha que virá a
carrocinha e que Dona Eugênia deve prender o Jupi.
d)
Dona Marocas dizia à vizinha que aqui viria a
carrocinha e que Dona Marocas deverá prender o Jupi.
09 – São características da
crônica:
I – A presença de heróis e
seres sobrenaturais.
II – Explicar acontecimentos
misteriosos e sobrenaturais nos quais a natureza tem papel marcante.
III – Gênero narrativo
marcado pela brevidade, narra fatos históricos em ordem cronológica.
IV – Gênero narrativo
publicado em jornal ou revista, destina-se à leitura diária ou semanal, pois
trata de acontecimentos cotidianos.
V – Ausência de autor
conhecido, em razão de sua origem muito antiga e oral.
Após analisar as afirmativas acima,
marque a única alternativa correta.
a)
I e II.
b)
I e III.
c)
IV e V.
d)
I e V.
e)
III e IV.
10 – O texto apresenta um
fato que faz parte do cotidiano das pessoas de uma rua. Que fato é esse?
O fato de uma
vizinha ter avisado a outra que era para esconder seu cachorro que a carrocinha
estava passando. Ser solidário com outro vizinho.
11 – Das alternativas a
seguir, qual a que melhor sintetiza a crônica de Lima Barreto?
a)
O cronista está saudoso de sua mocidade, portanto
escreve um texto sobre os cachorros.
b)
Em sua crônica, Lima Barreto faz uma crítica
severa à carroça dos cachorros, que torna a vida das pessoas mais simples, um
transtorno.
c)
Lima Barreto demonstra, em sua crônica, que
as pessoas são mais solidárias com os cachorros que com outras pessoas.
d)
O olhar do cronista, quase ingênuo,
observa um episódio corriqueiro, a passagem da carroça dos cachorros, e o
transforma em um tributo à natureza humana.
e)
O episódio da passagem da carroça dos
cachorros leva o cronista a refletir sobre questões cruciais para a realidade
do Brasil, como a segurança, por exemplo.