sábado, 18 de maio de 2019

TEXTO: CARTA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Carta

        Lorelai:

        Era tão bom quando eu morava lá na roça. A casa tinha um quintal com milhões de coisas, tinha até um galinheiro. Eu conversava com tudo quanto era galinha, cachorro, gato, lagartixa, eu conversava com tanta gente que você nem imagina, Lorelai. Tinha árvore para subir, rio passando no fundo, tinha cada esconderijo tão bom que a gente podia ficar escondida a vida toda que ninguém achava. Meu pai e minha mãe viviam rindo, andavam de mão dada, era uma coisa muito legal da gente ver. Agora, tá tudo diferente: eles vivem de cara fechada, brigam à toa, discutem por qualquer coisa. E depois, toca todo mundo a ficar emburrado. Outro dia eu perguntei: o que é que tá acontecendo que toda hora tem briga? Sabe o que é que eles falaram? Que não era assunto para criança. E o pior é que esse negócio de emburramento em casa me dá uma aflição danada. Eu queria tanto achar um jeito de não dar mais bola pra briga e pra cara amarrada. Será que você acha um jeito pra mim?
        Um beijo da Raquel.
        [...]
                                          Nunes, Lygia Bojunga. A Bolsa Amarela –
                                                      31ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1998.
Entendendo o texto:

01 – Em “Agora  tudo diferente”: a palavra destacada é um exemplo de linguagem:
           a)   Ensinada na escola.
           b)   Estudada nas gramáticas.
           c)   Encontrada nos livros técnicos.
           d)   Empregada com colegas.

02 – O termo em destaque funciona como pronome indefinido em:
a)   “A casa tinha um quintal com milhões de coisas […]”
b)   “[…] eu conversava com tanta gente que você nem imagina […]”
c)   “[…] era uma coisa muito legal da gente ver.”
d)   Que não era assunto para criança.”

03 – “Outro dia eu perguntei: o que é que tá acontecendo que toda hora tem briga?”. Identifique os pronomes indefinidos que compõem essa parte do texto:
      É “outro” e “toda”.

04 – Os pronomes indefinidos, identificados na questão anterior, classificam-se como:
(X) pronomes indefinidos adjetivos
(  ) pronomes indefinidos substantivos

05 – Grife os pronomes indefinidos presentes nas frases a seguir:
a)   “[…] que ninguém achava.”
b)   “Agora, tá tudo diferente […]”
c)   “[…] brigam à toa, discutem por qualquer coisa.”
d)   “E depois, toca todo mundo a ficar emburrando.”

06 – Aponte, entre os pronomes indefinidos grifados acima, aqueles:
a)   Que acompanham os substantivos: 
“Qualquer” e “todo”.

b)   Que foram empregados no lugar dos substantivos: 
“Ninguém” e “tudo”.



CONTO: CONTINHO - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

Conto: CONTINHO
            Paulo Mendes Campos

        Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho. Na soalheira dada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um vigário a cavalo.
        --- Você, aí, menino, para onde vai essa estrada?
        --- Ela não vai não: nós é que vamos nela.
        --- Engraçadinho duma figa! Como você se chama?
        --- Eu não me chamo, não, os outros é que me chamam de Zé.


                                   
    Mendes Campos, Paulo. Para gostar de ler.
                                      Crônicas. São Paulo: Ática, 1996, v. 1 p. 76.
Entendendo o conto:

01 – Há traço de humor no trecho:
          a) “Era uma vez um menino triste, magro”.
          b) “Ele estava sentado na poeira do caminho”.
          c) “Quando passou um vigário”.
          d) “Ela não vai não: nós é que vamos nela”.

02 – Ao copiar o texto, escolha um título para o conto.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O menino na estrada.

03 – O texto é narrativo. Por que é possível fazer essa afirmação?
      É possível afirmar que o texto é narrativo pois há um narrador, que descreve os personagens, o cenário e expõe a situação. Além disso é utilizada a 3ª pessoa do singular na escrita.

04 – Que tipo de narrador conta a história?
      Narrador observador.

05 – Que palavras nos permitem descobrir o foco narrativo escolhido para narrar o continho?
     "Era uma vez"; "ele", "quando passou". Denotam que há alguém, que não é personagem da história, narrando.

06 – Quais são os personagens da história?
      O menino e um vigário a cavalo.

07 – Que tempo verbal foi utilizado pelo narrador? O que isso indica?
      Pretérito Perfeito e Pretérito Imperfeito. O perfeito indica ações que são de momentos, e não são habituais, não são realizadas regularmente. O imperfeito indica uma ação no passado que ainda não foi concluída, ainda não acabou por completo.

08 – Nos diálogos foi utilizado o mesmo tempo verbal? Justifique.
      Não. No diálogo se usa o tempo presente, pois representa a conversa dos personagens naquele exato momento, no presente.

09 – Em que ambiente se passam as cenas?
      Em um tipo de estrada, no sertão de Pernambuco.

10 – No texto foi utilizado o discurso direto ou indireto? Explique.
      Direto. O diálogo se dá por meio do uso de travessões, mostrando exatamente as falas dos personagens, ditas por eles mesmos e não pelo narrador.

11 – Reescreva o conto alterando o discurso usado pelo narrador.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo e perguntou ao menino para onde ia aquela estrada. O menino respondeu que a estrada não ia, as pessoas é que iam nela. O vigário perguntou, então, como o menino se chamava e o chamou de engraçadinho de uma figa, e o menino respondeu que ele não se chamava, os outros é que o chamavam de Zé.


FILME(ATIVIDADES): TROPA DE ELITE - JOSÉ PADILHA - COM SINOPSE E QUESTÕES GABARITADAS

Filme(ATIVIDADES): TROPA DE ELITE

Data de lançamento 12 de outubro de 2007 (1h 55min)
Direção: José Padilha
Gêneros AçãoDramaSuspense
Nacionalidade Brasil

SINOPSE E DETALHES

        1997. O dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.

Entendendo o filme:

01 – O filme mostra a trajetória de dois amigos de infância, Neto e Matias, que entram na polícia e passam, posteriormente, a integrar o BOPE (Batalhão de Operações Especiais).
a)   O que frustra os dois jovens, quando entram como aspirantes na polícia?
A corrupção que existe na polícia.

b)   Justifique sua resposta anterior com exemplos.
O desaparecimento de peças e de motor de carros da polícia; a corrupção de policiais graduados, que tiram dinheiro dos comerciantes, em troca de segurança, e de traficantes, em troca de omissão.

c)   O que acontece com os policiais que tentam mudar esse quadro? Justifique sua resposta.
São colocados em trabalhos considerados inferiores, como a cozinha.

d)   Você considera ética a estratégia de Neto e Matias para conseguir dinheiro a fim de comprar peças para a mecânica da polícia? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

02 – Matias divide-se entre a vida como policial e a vida como estudante de Direito. Num seminário na universidade, entra em conflito com os colegas quando acusam a polícia de ser violenta com os mais pobres e com a classe média. Quem tem razão: Matias ou os demais estudantes? De que lado você ficaria nessa discussão?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – No filme, Maria e seus amigos fazem um trabalho social numa das favelas do Rio de Janeiro. Por outro lado, são consumidores de drogas ilícitas; Duda chega, inclusive, a vender drogas na universidade.
a)   Do ponto de vista do filme, até que ponto é viável a convivência entre universitários voluntários e os traficantes?
Pela ótica do filme, não é viável essa convivência, pois, na prática, mostra-se falsa a afirmativa de que os traficantes têm “consciência social” e aceitam o trabalho voluntário de universitários.

b)   O narrador, o capitão Nascimento, afirma: “Quantas crianças a gente vai ter de perder para o tráfico só pra um playboy enrolar um baseado?”. Como você vê a ação dos universitários na favela, considerando essa frase de Nascimento?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Você concorda com a reação de Matias ao abordar a passeata contra a violência, depois que seu amigo Neto é assassinado pelo tráfico?
Resposta pessoal do aluno.

04 – O capitão Nascimento, protagonista do filme, é uma personagem complexa, retratada sob diferentes ângulos. Caracterize-o do ponto de vista:
a)   Profissional: Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Profissional dedicado, competente, mas que desrespeita os direitos do cidadão, tanto os da própria polícia quanto os dos criminosos.

b)   Moral: Incorruptível, comprometido com a causa que abraçou.

c)   Pessoal e psicológico: Estressado, em conflito entre a vida familiar e a profissional. Por um lado, mostra-se violento e cruel no exercício da profissão; por outro lado, mostra-se humano e sensível à vida familiar e a alguns fatos do trabalho (como no caso da mãe que lhe pede o corpo do filho morto).

05 – Poucos policiais conseguem chegar ao fim do processo de seleção do BOPE. Do seu ponto de vista, e considerando o contexto apresentado pelo filme, é necessário tanto rigor na escolha? Há exagero nos métodos de seleção? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Tropa de elite teve grande repercussão, fora e dentro do Brasil, por causa do modo como retrata a polícia carioca. O capitão Nascimento comenta no início do filme:
        “--- No Rio de Janeiro, quem quer ser policial tem de escolher: ou se omite, ou vai para a guerra”.
        Na sua opinião, essas opções apresentadas por Nascimento são reducionistas ou são realistas?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Segundo alguns críticos, ao explorar o ledo pessoal, familiar e humano de Nascimento, um policial incorruptível, o filme leva o espectador a se identificar com a personagem e, por consequência, à aprovar os seus comportamentos, inclusive a tortura de traficantes. Na sua opinião, isso realmente ocorre? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

ROMANCE: GRANDE SERTÃO: VEREDAS - (FRAGMENTO) - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

Romance: Grande Sertão: veredas –(fragmento)
                  João Guimarães Rosa

        De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp’ro, não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...


        Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela – já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças – eu digo. Pois não é ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes. ... O diabo na rua, no meio do redemunho...
        Hem? Hem? Ah. Figuração minha, de pior pra trás, as certas lembranças. Mal haja-me! Sofro pena de contar não... Melhor, se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu uma estranhez? A mandioca-doce pode de repente virar azangada – motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas – vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca-brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. E que isso é? Eh, o senhor já viu, por ver, a feiura de ódio franzido, carantonho, nas faces duma cobra cascavel? Observou o porco gordo, cada dia mais feliz bruto, capaz de, pudesse, roncar e engolir por sua suja comodidade o mundo todo? E gavião, corvo, alguns, as feições deles já representam a precisão de talhar para adiante, rasgar e estraçalhar a bico, parece uma quicé muito afiada por ruim desejo. Tudo. Tem até tortas raças de pedras, horrorosas, venenosas – que estragam mortal a água, se estão jazendo em fundo de poço; o diabo dentro delas dorme: são o demo. Se sabe? E o demo – que é só assim o significado dum azougue maligno – tem ordem de seguir o caminho dele, tem licença para campear?! Arre, ele está misturado em tudo.
        Que o que gasta, vai gastando o diabo de dentro da gente, aos pouquinhos, é o razoável sofrer. E a alegria de amor – compadre meu Quelemém, diz. Família. Deveras? É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é ... Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, e é bom amigo-de-seus-amigos! Sei desses. Só que tem os depois – e Deus, junto. Vi muitas nuvens.

                                          15. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982. p. 11-2.
Entendendo o romance:

01 – De acordo com o romance, qual o significado das palavras abaixo:

·        Abrenúncio: do latim abrenuntio, interjeição que tem o sentido de “credo”, “Deus me livre”.

·        Manaíba: do tupi, muda de mandioca.

·        Assisado: que tem siso, juízo; ajuizado.

·        Moquém: grelha feita de varas usada para secar ou assar carne e peixe.

·        Azougue: do árabe, pessoa muito viva e esperta.

·        Peçonha: veneno.

·        Campear: andar pelo campo, procurar.

·        Carantonho: cara grande e feia.

·        Quicé: do tupi, o mesmo que “faca velha”.

02 – Riobaldo, o narrador, conta sua história a um interlocutor que está presente, mas cuja voz não se manifesta explicitamente na narrativa.
a)   Identifique um trecho do texto em que a fala de Riobaldo leva em conta a presença do interlocutor.
“O senhor vê”; “Explico ao senhor”; etc.

b)   No trecho: “Hem? Hem? Ah. Figuração minha [...]”, o que o interlocutor deve ter perguntado a Riobaldo?
Deve ter perguntado o que foi que Riobaldo disse. (Riobaldo deve ter tido uma fantasia e dito “O diabo na rua, no meio do redemunho...”).

03 – Riobaldo afirma que, antes, quando era jagunço, não tinha tempo para fantasiar, mas agora, aposentado (de “range rede”), dera para especular ideias. Qual é o assunto que lhe interessa?
      A existência ou não do demônio.

04 – O excerto lido, embora narrativo, apresenta uma estrutura dissertativo-argumentativa, isto é, o narrador desenvolve uma ideia central com argumentos e, no final, chega a uma conclusão.
a)   Qual é a tese ou ideia central – apresentada no 2° parágrafo – que o narrador pretende desenvolver?
A de que o diabo vive dentro dos homens (e das coisas), é o lado sombrio de cada um.

b)   O exemplo da mandioca fundamenta a tese adequadamente? Por quê?
Sim, pois sendo ela uma mandioca-doce, boa para comer, pode tornar-se uma mandioca venenosa, o que prova que o mal está dentro das coisas e das pessoas.

05 – Segundo o 3° parágrafo, o mal está nas coisas: nas aves, nos animais, nas pedras, está misturado em tudo.
a)   De acordo com o último parágrafo, o que pode combater o mal?
O sofrimento e o amor.

b)   “Tudo é e não é ...”. Que sentido tem essa frase no contexto? Os argumentos expostos fundamentam essa afirmação?
Para o pensamento dialético de Riobaldo, tudo é relativo, depende do ponto de vista – o que fica claro com o exemplo da cachoeira. Os demais argumentos também comprovam a relatividade do bem e do mal.

c)   Compare a conclusão com a tese. Há coincidência ou contradição entre elas?
Há coincidência. Para Riobaldo o diabo vige nos crespos do homem, isto é, o mal e o bem estão dentro de cada ser.

06 – Não a chega a ficar claro em Grande sertão se Riobaldo fizera ou não um pacto com o demônio. A própria personagem tem dúvida se houve ou não o pacto.
a)   Considerando a etapa da vida em que se encontra Riobaldo, por que essa questão lhe interessa tanto?
Porque, como Riobaldo já tem uma idade avançada, se o demônio existe, ele em breve levará sua alma.

b)   Pela conclusão a que chega, Riobaldo tem motivos para continuar se preocupando?
Não, pois, de acordo com a tese da personagem, o diabo não existe como pessoa, mas se manifesta no lado ruim de cada ser.

c)   Na sua opinião, Riobaldo acredita em seus próprios argumentos?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Talvez não, pois, se acreditasse, não teria necessidade de argumentar sobre seu ponto de vista e querer saber a opinião do interlocutor.

07 – A linguagem regionalista de Guimarães Rosa é um dos traços da originalidade da obra.
a)   O excerto lido é uma narração oral ou escrita? Identifique no texto marcas que justifiquem sua resposta.
Trata-se de uma narração oral, conforme as marcas de oralidade: “e pois?”; “explico”; “Não?”; “Ah”; “Hem? Hem?”; etc.

b)   Com a ajuda do glossário apresentado no final do texto, comente a linguagem do autor, levando em conta a seleção vocabular, a estruturação sintática e a melodia das frases.
A linguagem do autor se caracteriza por apresentar um vocabulário de origem diversa, expressões regionais, prosódia típica do homem sertanejo.

POEMA: A CASA DO BERÇO AZUL - CORA CORALINA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: A Casa do Berço Azul
           Cora Coralina

“Dona Marcionilha e seu Chico Fiscal.

Era a casa deles.
Gostavam de flores, de vasos e de roseiras.
Um quintal muito grande de fruteiras fartas e escolhidas.


Criação de lebres e de coelhos, da meninada.
Gaiolas dependuradas.
Alçapões. Balanços pelos galhos.
Meninos brincando.
Meus e deles.
Passarinhos.
Frutas maduras pelos galhos, pelo chão.
Geração passada...

A Casa do Berço Azul...
Minha casa amiga...

De dois em dois anos descia do alto da parede da despensa,
onde ficava ancorado, o barquinho de uma nova vida,
prestes a chegar.
Vinha para a terra o pequenino barco.
Seu Chico tomava de um pincel e uma lata de tinta
e repintava o berço, sempre de azul. Renovava o pequeno colchão,
o pequeno travesseiro cheio de paina fina e nova.
Pela casa, panos macios, flanelas,
claros agasalhos, camisinhas, bordados delicados,
rendas, e sempre ela tricotando um xaile de lã azul,
que mostrava sorrindo e feliz às suas amigas.”

Cora Coralina. Meu livro de cordel. São Paulo: Global, 1996.
Entendendo o poema:
01 – Como o eu lírico compõe as lembranças trazidas pela memória?
      Por meio da narração dos fatos passados e da descrição dos elementos, pessoas e objetos, que faziam parte dessa geração a antiga.

02 - Além do saudosismo, que outros sentimentos o poema evoca no leitor?
      O texto nos transmite uma sensação de nostalgia e melancolia, ao lembrar um passado feliz e distante, que hoje parece inalcançável. Restam as doces recordações e, a partir delas, também um sentimento de perda ante a realidade.

03 – Que objetos se destacam, no poema, como elementos evocadores de memória? Por quê?
      A casa e o berço. A casa representa o mundo feliz e seguro da infância, e o berço guarda a essência, a semente de vida que alegrava essa casa, povoada de lembranças ternas do passado.

04 – A cor azul apresenta alguma simbologia no texto? Esclareça sua resposta.
      Sim. O berço e o xaile azul parecem envolver a criança recém-nascida, como o céu azul enlaçando os anjos.

05 – De que forma se criou uma imagem bem viva e real do passado?
      Ao compor gradativamente as cenas passadas, a autora enumerou as pessoas e os objetos, verso por verso, e foi montando aos poucos o ambiente familiar, produzindo assim uma visão bem próxima e fotográfica de um lar abençoado.

06 – Retire do texto alguns  substantivos.
         Casa - flores - vasos - roseiras - lebres - coelhos - gaiolas - alçapões - passarinhos - frutas - barco.

07 – Explique por que o texto pode ser chamado um “poema substantivo”. Transcreva trechos que comprovem sua resposta.
      Os versos são formados, na maioria, por palavras ou frases substantivas (ou nominais), que não têm verbo, em que se destacam nomes de pessoas ou de objetos: “Dona Marcionilha e seu Chico Fiscal”, “gaiolas dependuradas”, “passarinhos”, “geração passada”, etc.

08 – O emprego dos nomes de pessoas e de objetos foi importante para a criação do poema. Por meio deles, Cora Coralina idealizou um mundo poético, vivido no passado. Identifique alguns nomes que contêm maior significado dentro desse contexto.
      Sugestões: Dona Marcionilha, Chico Fiscal, meninada, meninos, passarinhos, amigas, casa, quintal, balanços, berço, barquinho. (Ainda: flores, roseiras, lebres, coelhos, gaiolas, agasalhos, bordados, renda, xaile, terra, pincel, lata, tinta, colchão, travesseiro, etc.)