terça-feira, 12 de outubro de 2021

CRÔNICA: A FOTO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A Foto

   Luís Fernando Veríssimo

        Foi numa festa de família, dessas de fim de ano. Já que o bisavô estava morre não morre, decidiram tirar uma fotografia de toda a família reunida, talvez pela última vez. A bisa e o bisa sentados, filhos, filhas, noras, genros e netos em volta, bisnetos na frente, esparramados pelo chão. Castelo, o dono da câmara, comandou a pose, depois tirou o olho do visor e ofereceu a câmara a quem ia tirar a fotografia. Mas quem ia tirar a fotografia?

        – Tira você mesmo, ué.

        – Ah, é? E eu não saiu na foto?

        O Castelo era o genro mais velho. O primeiro genro. O que sustentava os velhos. Tinha que estar na fotografia.

        – Tiro eu – disse o marido da Bitinha.

        – Você fica aqui – comandou a Bitinha.

        Havia uma certa resistência ao marido da Bitinha na família. A Bitinha, orgulhosa, insistia para que o marido reagisse. “Não deixa eles te humilharem, Mário Cesar”, dizia sempre. O Mário Cesar ficou firme onde estava, do lado da mulher. A própria Bitinha fez a sugestão maldosa:

        – Acho que quem deve tirar é o Dudu…

        O Dudu era o filho mais novo de Andradina, uma das noras, casada com o Luiz Olavo. Havia a suspeita, nunca claramente anunciada, de que não fosse o filho do Luiz Olavo.

        O Dudu se prontificou a tirar a fotografia, mas Andradina segurou o filho.

        – Só faltava essa, o Dudu não sair.

        E agora?

        – Pô, Castelo. Você disse que essa câmara só faltava falar. E não tem nem timer!

        O Castelo impávido. Tinham ciúmes dele. Porque ele tinha um Santana do ano. Porque comprara a câmara num duty free da Europa. Aliás, o apelido dele entre os outros era “Dutifri”, mas ele não sabia.

        – Revezamento – sugeriu alguém – Cada genro bate uma foto em que ele não aparece, e…

        A ideia foi sepultada em protestos. Tinha que ser toda a família reunida em volta da bisa. Foi quando o próprio bisa se ergueu, caminhou decididamente até o Castelo e arrancou a câmara da sua mão.

        – Dá aqui.

        – Mas seu Domício…

        – Vai pra lá e fica quieto.

        – Papai, o senhor tem que sair na foto. Senão não tem sentido!

        – Eu fico implícito – disse o velho, já com o olho no visor. E antes que houvesse mais protestos, acionou a câmara, tirou a foto e foi dormir.

               VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 124-130.

Entendendo a crônica:

01 – Comente com seus colegas e professor sobre as hipóteses levantadas por você antes da leitura:

a)   Que situações engraçadas ou embaraçosas ao se tirar uma foto de família você havia imaginado?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Uma ou mais dessas situações imaginadas por você foram tratadas na crônica?

Resposta pessoal do aluno.

02 – Leia as informações a seguir sobre o narrador da crônica e indique a alternativa correta. Que elementos do texto permitem justificar a sua resposta?

I – O narrador, em 1ª pessoa, é Castelo, portanto o texto é um relato pessoal dele.

II – O narrador, em 3ª pessoa, apenas relata o que observa na reunião de família.

III – O narrador, em 1ª pessoa, é Domício e conta tudo com distanciamento.

IV – O narrador, em 3ª pessoa, conhece conflitos da família de Domício.

a)   Somente a afirmação I é correta.

b)   Somente a afirmação III é correta.

c)   Somente a afirmação IV é correta.

d)   As afirmativas II e IV estão corretas.

Justificativa: Trata-se de um narrador observador que não participa da história, o que pode ser comprovado pela utilização dos verbos na 3ª pessoa (tirou, ofereceu, sustentava, etc.).

03 – No texto, não há menção a datas, contudo é possível reconhecer a época em que a história está ambientada.

a)   Em que época a história se passa?

A história não se passa nos dias atuais, mas num passado próximo.

b)   O que permite essa constatação?

A utilização de uma máquina fotográfica que não tem a função de selfie e ninguém dispõe de um aparelho celular com essa função. Além disso, Castelo tem um Santana, carro que não é fabricado desde 2008.

04 – Embora curto, o texto tem vários personagens de uma mesma família. Ligue os nomes ao grau de parentesco de cada personagem.

I – Castelo.                                 a) Filho de Andradina.

II – Bitinha.                                 b) Marido da Bitinha

III – Mário Cesar.                       c) Nora de seu Domício.

IV – Andradina.                         d) Genro de seu Domício.

V – Dudu.                                  e) Esposa de Mário Cesar.

VI – Luiz Olavo.                         f) Filho de seu Domício.

      I – d. II – e. III – b. IV – c. V – a. VI – f.

05 – Na crônica, os personagens decidem tirar uma foto de toda a família.

a)   Por quê?

Pelo fato do bisavô, Domício, “estar morre não morre”, esta talvez fosse a última oportunidade de registrar todos os membros da família juntos.

b)   E na sua família, há álbum de fotos?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Em geral, como são feitos e publicados os álbuns de família hoje em dia?

De modo geral, os álbuns são feitos digitalmente e publicados em redes sociais.

d)   Em sua opinião, quais são os efeitos positivos e negativos desse tipo de produção e publicação?

Resposta pessoal do aluno.

06 – Tirar foto da família de seu Domício gerou um problema.

a)   Qual?

A família não entrava em um acordo sobre quem tiraria a foto, pois quem a tirasse não seria fotografado.

b)   Se a foto simboliza toda a família, o que esse problema representa?

Como a foto simboliza toda a família, não sair nela é como não pertencer à família.

c)   Se você fizesse parte dessa família, resolveria o problema de outra forma? Qual?

Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia o trecho:

        “[...] A própria Bitinha fez a sugestão maldosa:

        – Acho que quem deve tirar é o Dudu…

        O Dudu era o filho mais novo de Andradina, uma das noras, casada com o Luiz Olavo. Havia a suspeita, nunca claramente anunciada, de que não fosse o filho do Luiz Olavo.”

               VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

a)   Por que a sugestão da Bitinha foi maldosa?

Porque, como havia a suspeita d que Dudu não era filho de Luiz Olavo, ele poderia tirar a foto e, consequentemente, não sair nela, já que muito provavelmente não pertencia à família.

b)   Essa maldade é compreendida apenas pelo narrador? Explique.

Não. O narrador conta essa suspeita ao leitor e dá a entender que ela é compartilhada pela família. Portanto, é uma suspeita coletiva, mas, segundo o narrador, nunca claramente anunciada.

08 – Releia o trecho:

        “O Castelo impávido. Tinham ciúmes dele. Porque ele tinha um Santana do ano. Porque comprara a câmara num duty free da Europa. Aliás, o apelido dele entre os outros era “Dutifri”, mas ele não sabia.”

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 19-20.

a)   Faça uma breve pesquisa e explique o tipo de estabelecimento comercial que caracteriza o duty free. Se necessário, consulte um dicionário inglês-português.

Duty free é um estabelecimento comercial presente apenas em aeroportos internacionais e cujos produtos são isentos de impostos (duty: imposto; free: sem).

b)   Castelo frequenta lojas duty free e tem um Santana do ano. O que isso revela sobre seu poder aquisitivo?

São indícios de um bom poder aquisitivo.

c)   O apelido “Dutifri” dado ao Castelo é carinhoso ou pejorativo? Explique com base no contexto.

O apelido é pejorativo, pois revela, da parte de quem deu esse apelido, inveja em relação à condição financeira de Castelo ou a impressão de que ele é esnobe ao viver ostentando suas aquisições.

09 – A leitura do boxe sobre interjeição, permite afirmar que nem toda interjeição vem acompanhada do ponto de exclamação. Observe o trecho:

        “– Pô, Castelo. Você disse que essa câmara só faltava falar. E não tem nem timer!”.

 VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.P. 20

a)   Com base nessa explicação, identifique a interjeição que se encaixa nessa afirmação.

A interjeição, nesse trecho, é .

b)   No contexto, que sentimento é expresso por essa interjeição?

Essa interjeição expressa decepção, já que a câmera é incapaz de tirar uma foto sem alguém acionar o botão.

10 – No final do texto, o cronista provoca uma surpresa no leitor.

a)   Qual?

Seu Domício decide tirar a foto, apesar da resistência de muitos.

b)   Essa surpresa concretiza ou frustra o propósito da foto?

Essa surpresa frustra o propósito da foto, já que ela foi motivada exatamente pela presença de seu Domício, que “estava morre não morre”.

11 – Por que seu Domício reagiu dizendo “Eu fico implícito”? O que essa fala sugere?

      Reagiu com essa fala em resposta à afirmação de que não teria sentido ele não estar na foto. Essa fala sugere que, embora a imagem de seu Domício não aparecesse na foto, ele seria lembrado por ter participado da reunião familiar em que ela foi produzida.

12 – O que você achou da tomada de decisão de seu Domício? Comente com seus colegas e professor.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

 

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