CRÔNICA: DIÁLOGO FINAL
Carlos Drummond de Andrade
- É tudo que tem a me dizer? - perguntou ele.
- É - respondeu ela.
- Você disse tão pouco.
- Disse o que tinha pra dizer.
- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Alguma
coisa.
- Você queria que eu repetisse?
- Não. Queria outra coisa.
- Que coisa é outra coisa?
- Não sei. Você que devia saber.
- Por que eu
deveria saber o que você não sabe?
- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não
sabe.
- Eu só sei o que eu sei.
- Então não vai mesmo me dizer mais nada?
- Mais nada. - Se você quisesse ...
- Quisesse o quê?
- Dizer o que você
não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em
amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.
- Mas tudo acabou entre nós.
- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou.
Você não me diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.
(Carlos
Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. p.
70.)
Fonte:
Livro: Conecte : interpretação de textos : volume único/ William Roberto
Cereja, Ciley Cleto. - 2. ed. - São Paulo : Saraiva, 2013. p. 33/35.
01. O texto "Diálogo final" apresenta frases curtas, linguagem truncada, e esse traço formal pode estar relacionado com o conteúdo do texto.
a) Que
situação, vivida pelo casal, o texto aborda?
O fim do
relacionamento amoroso.
b) Que
relação pode haver entre essa situação e o modo como as personagens travam o
diálogo?
A linguagem truncada reforça o clima tenso, a falta de comunicação,
as dificuldades do relacionamento.
c) O
que supostamente o homem gostaria que a mulher dissesse?
Provavelmente gostaria que ela explicasse
o rompimento amoroso.
d) Qual
é a verdadeira intenção do homem ao insistir nas perguntas?
Manter o diálogo com ela e, assim, discutindo e esclarecendo o que
não deu certo, talvez continuar o relacionamento.
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