sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ROMANCE: A NUVEM(FRAGMENTO) - GUDRUN PAUSEWANG - COM GABARITO

 Romance: A nuvem (fragmento)

     […]

        – Vamos embora sozinhos! – disse Janna-Berta com determinação. – De bicicleta.

        Um sorriso iluminou o rosto de Uli. Adorava andar de bicicleta. Janna-Berta ordenou que ele buscasse a sacola de plástico com as roupas no porão e vestisse sua jaqueta. […] Já conformada com a ideia de que Uli não sairia de casa sem ele, autorizou o urso de pelúcia que ele segurava decididamente nos braços. Fechou rapidamente a porta do terraço, pegou sua jaqueta e saiu de casa com Uli. Pediu que ele se apressasse.

        Desceram correndo a escada e tiraram suas bicicletas da garagem. Janna-Berta prendeu a sacola de plástico, o urso e a jaqueta na garupa de Uli. Na dela, colocou a mochila e em seguida partiram.

        […]

        Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.

        Uli chorava e Janna-Berta também sentia dificuldades em segurar as lágrimas. Desceram das bicicletas, deixando-as cair no chão. Janna-Berta arrependia-se por não terem ido com os Jordan. Uli agarrou-se a ela e Janna-Berta o abraçou. E agora? Voltar à aldeia e procurar um outro caminho para o norte?

        Já eram quase três horas.

        De repente escutaram motores vindo de trás do elevado. Levantaram as bicicletas e arrastaram- -nas para cima do elevado. Janna-Berta tropeçou e caiu escorregando para baixo. Uli foi o primeiro a chegar ao topo.

        – Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!

        Ela empurrou a bicicleta para cima do elevado. Viu Uli do outro lado, subindo no selim, e percebeu o ruído de um carro passando logo abaixo. Enquanto carregava sua bicicleta por sobre os trilhos, notou o imenso campo de colza em flor, antes escondido de sua vista. Como brilhava!

        Depois, viu ainda como Uli, triunfante, levantava os braços antes de largar-se declive abaixo, montando em sua bicicleta.

        – Cuidado! – gritou ela. – Você não pode… pelo cascalho…

        Nesse momento, Uli já voava por cima do guidão e caia sobre o caminho largo, onde um carro se aproximava em alta velocidade. A bicicleta tinha virado. O urso de pelúcia foi arremessado da garupa e parou no sopé do declive.

        – Uli! – gritou Janna-Berta.

        O motorista do carro não freou. Ouviu-se um baque surdo, e o carro continuou disparado, deixando atrás uma nuvem de poeira.

        Petrificada de espanto, Janna-Berta permaneceu no elevado. A nuvem de poeira dissipou-se e lá embaixo estava Uli estendido no chão. Não muito longe dele, o ursinho de pelúcia e a bicicleta. Apenas o guidão estava amassado. A roda dianteira ainda rodava. A cabeça de Uli, coberta pelo capuz, parecia estranhamente achatada sobre uma poça de sangue que aumentava a cada momento. Janna-Berta jogou a bicicleta no chão, desceu correndo pelo declive e ajoelhou-se ao lado de Uli. Acariciou sua mão, que ainda estava quente. Ela não se importava com a fila de carros vinda atrás de si. Ali estava Uli. Por ali ninguém podia passar. Ela permanecia agachada no meio do caminho.

        O primeiro carro freou. Um homem de barba e uma mulher ruiva desceram. Atrás deles, as buzinas disparavam furiosamente. O barulho aumentava cada vez mais. A ruiva levantou Janna-Berta:

        – Vocês também queriam ir à estação de Bad Hersfeld, não é?

        – Entre! – disse o barbudo. – Vamos levar você. As crianças se apertam um pouco.

        – Uli tem de vir também – disse Janna-Berta.

        – Uli? – perguntou a mulher. – Você quer dizer…

        Janna-Berta jogou a cabeça para trás e enfrentou a mulher com um olhar furioso.

        – Ele é meu irmão! – gritou.

        – Você não pode mais ajudá-lo agora – sussurrou o barbudo.

        […]

        Ele jogou a bicicleta de Uli nas moitas, levantou Uli do chão, entrou alguns passos no campo de colza e o deitou ali. Quando voltou, sua camisa estava cheia de sangue.

        – Não! – gritou Janna-Berta. – Não!

        Ela tentou correr para o campo de colza, mas a mulher a segurou. Janna-Berta quis se soltar batendo para todos os lados, até que o barbudo deu-lhe uma sonora bofetada. Aí ela desmoronou e se deixou levar para o carro, sem resistência.

        Assustadas, as três meninas espremeram-se no banco de trás.

        – Rápido! – gritou a ruiva. – Senão eles vêm para cima da gente.

        O homem e a mulher pularam em seus assentos, bateram à porta e partiram, seguidos pela fila de carros. A parada não consumiu mais que três minutos. Os dois adultos ficaram em silêncio. As crianças também. Janna-Berta não registrava mais nada. Apenas levantou a cabeça quando pararam num gramado ao lado do rio Fulda e a mulher tirou as meninas do carro. Por perto havia algumas casas. Isso deveria ser Bad Hersfeld. Ouviam-se trovões.

        […]

PAUSEWANG, Gudrun. A nuvem. São Paulo: Global, 2002.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 44-6.

Entendendo o romance:

01 – Que sentimentos esse texto despertou em você?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Releia os três primeiros parágrafos para responder às questões a seguir:

a)   Nesse trecho inicial da história, são narradas várias e sucessivas ações das personagens de forma bastante breve. Que efeito isso produz, considerando o contexto vivido por Janna-Berta e seu irmão?

As ações narradas dessa forma transmitem a pressa, a ansiedade e o desespero dos irmãos ao tentar sair logo de casa.

b)   Uli sorri ao saber que ele e a irmã fugirão de bicicleta e insiste em levar seu ursinho de pelúcia. O que esses fatos revelam sobre ele?

Que ele ainda é uma criança pequena, bastante inocente, e que não tem noção do risco que ele e a irmã estão correndo.

03 – Onde Janna-Berta e Uli pretendiam chegar?

      A uma estação de trem de Bad Hersfeld.

04 – Releia:

        “Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.”

a)   Por que Janna-Berta decidiu não ir pela estrada e sim por uma trilha paralela?

Porque imaginou que os carros não conseguiriam passar por ali, deixando o caminho só para ela e Uli, que seguiam de bicicleta.

b)   O que foi acontecendo com a trilha, conforme os dois irmãos seguiram por ela?

A trilha foi se estreitando, diminuindo, perdendo-se em meio ao pasto e terminando em um morro.

05 – Na sequência do texto, o que fez Janna-Berta e Uli sentirem vontade de chorar?

      O fato de perceberem que o caminho em que seguiam havia acabado em um morro, deixando-os amedrontados.

06 – Ao ouvirem barulho de motores, o que os dois irmãos concluíram sobre o que havia do outro lado do elevado?

      Concluíram que havia uma estrada, já que carros estavam passando por ali.

07 – Releia este trecho:

        “– Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!”

• Considerando o contexto, conclui-se que a agitação de Uli era positiva ou negativa?

      Era positiva, pois ele viu que havia um caminho por onde poderiam prosseguir.

08 – Explique como foi a morte de Uli.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uli decidiu descer o declive de bicicleta, mas o morro estava coberto de cascalho. Ele escorregou da bicicleta e caiu na estrada, onde um carro passou por cima de sua cabeça.

09 – Ao assistir ao que aconteceu ao irmão, Janna-Berta ficou “petrificada de espanto”. O que isso significa?

      Significa que ela ficou sem reação, paralisada.

10 – Ao aproximar-se do irmão morto, Janna-Berta ficou agachada ao seu lado, no meio da estrada.

• Por que as pessoas buzinavam furiosamente, ignorando o fato?

      Porque Janna-Berta estava impedindo o caminho.

11 – Por que o homem barbudo deu uma bofetada em Janna-Berta?

      Porque ela estava agitada com a morte do irmão e era preciso controlá-la para todos saírem dali com urgência.

• Qual é a sua opinião sobre essa atitude do homem?

      Resposta pessoal do aluno.

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