Romance: A nuvem (fragmento)
[…]
– Vamos embora sozinhos! – disse
Janna-Berta com determinação. – De bicicleta.
Um sorriso iluminou o rosto de Uli.
Adorava andar de bicicleta. Janna-Berta ordenou que ele buscasse a sacola de
plástico com as roupas no porão e vestisse sua jaqueta. […] Já conformada com a
ideia de que Uli não sairia de casa sem ele, autorizou o urso de pelúcia que
ele segurava decididamente nos braços. Fechou rapidamente a porta do terraço,
pegou sua jaqueta e saiu de casa com Uli. Pediu que ele se apressasse.
Desceram correndo a escada e tiraram
suas bicicletas da garagem. Janna-Berta prendeu a sacola de plástico, o urso e
a jaqueta na garupa de Uli. Na dela, colocou a mochila e em seguida partiram.
[…]
Passando as últimas casas, chegaram a
uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para
Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar
aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham
todo para si.
[…]
O caminho ficava cada vez mais
estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli.
Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.
Uli chorava e Janna-Berta também sentia
dificuldades em segurar as lágrimas. Desceram das bicicletas, deixando-as cair
no chão. Janna-Berta arrependia-se por não terem ido com os Jordan. Uli
agarrou-se a ela e Janna-Berta o abraçou. E agora? Voltar à aldeia e procurar
um outro caminho para o norte?
Já eram quase três horas.
De repente escutaram motores vindo de
trás do elevado. Levantaram as bicicletas e arrastaram- -nas para cima do
elevado. Janna-Berta tropeçou e caiu escorregando para baixo. Uli foi o
primeiro a chegar ao topo.
– Janna-Berta – gritou agitado –, lá
embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!
Ela empurrou a bicicleta para cima do
elevado. Viu Uli do outro lado, subindo no selim, e percebeu o ruído de um
carro passando logo abaixo. Enquanto carregava sua bicicleta por sobre os
trilhos, notou o imenso campo de colza em flor, antes escondido de sua vista.
Como brilhava!
Depois, viu ainda como Uli, triunfante,
levantava os braços antes de largar-se declive abaixo, montando em sua
bicicleta.
– Cuidado! – gritou ela. – Você não
pode… pelo cascalho…
Nesse momento, Uli já voava por cima do
guidão e caia sobre o caminho largo, onde um carro se aproximava em alta
velocidade. A bicicleta tinha virado. O urso de pelúcia foi arremessado da
garupa e parou no sopé do declive.
– Uli! – gritou Janna-Berta.
O motorista do carro não freou.
Ouviu-se um baque surdo, e o carro continuou disparado, deixando atrás uma
nuvem de poeira.
Petrificada de espanto, Janna-Berta
permaneceu no elevado. A nuvem de poeira dissipou-se e lá embaixo estava Uli
estendido no chão. Não muito longe dele, o ursinho de pelúcia e a bicicleta.
Apenas o guidão estava amassado. A roda dianteira ainda rodava. A cabeça de
Uli, coberta pelo capuz, parecia estranhamente achatada sobre uma poça de
sangue que aumentava a cada momento. Janna-Berta jogou a bicicleta no chão,
desceu correndo pelo declive e ajoelhou-se ao lado de Uli. Acariciou sua mão,
que ainda estava quente. Ela não se importava com a fila de carros vinda atrás de
si. Ali estava Uli. Por ali ninguém podia passar. Ela permanecia agachada no
meio do caminho.
O primeiro carro freou. Um homem de
barba e uma mulher ruiva desceram. Atrás deles, as buzinas disparavam
furiosamente. O barulho aumentava cada vez mais. A ruiva levantou Janna-Berta:
– Vocês também queriam ir à estação de
Bad Hersfeld, não é?
– Entre! – disse o barbudo. – Vamos
levar você. As crianças se apertam um pouco.
– Uli tem de vir também – disse
Janna-Berta.
– Uli? – perguntou a mulher. – Você
quer dizer…
Janna-Berta jogou a cabeça para trás e
enfrentou a mulher com um olhar furioso.
– Ele é meu irmão! – gritou.
– Você não pode mais ajudá-lo agora –
sussurrou o barbudo.
[…]
Ele jogou a bicicleta de Uli nas
moitas, levantou Uli do chão, entrou alguns passos no campo de colza e o deitou
ali. Quando voltou, sua camisa estava cheia de sangue.
– Não! – gritou Janna-Berta. – Não!
Ela tentou correr para o campo de
colza, mas a mulher a segurou. Janna-Berta quis se soltar batendo para todos os
lados, até que o barbudo deu-lhe uma sonora bofetada. Aí ela desmoronou e se deixou
levar para o carro, sem resistência.
Assustadas, as três meninas
espremeram-se no banco de trás.
– Rápido! – gritou a ruiva. – Senão
eles vêm para cima da gente.
O homem e a mulher pularam em seus
assentos, bateram à porta e partiram, seguidos pela fila de carros. A parada
não consumiu mais que três minutos. Os dois adultos ficaram em silêncio. As crianças
também. Janna-Berta não registrava mais nada. Apenas levantou a cabeça quando
pararam num gramado ao lado do rio Fulda e a mulher tirou as meninas do carro.
Por perto havia algumas casas. Isso deveria ser Bad Hersfeld. Ouviam-se
trovões.
[…]
PAUSEWANG, Gudrun. A
nuvem. São Paulo: Global, 2002.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 44-6.
Entendendo o romance:
01 – Que sentimentos esse
texto despertou em você?
Resposta pessoal
do aluno.
02 – Releia os três
primeiros parágrafos para responder às questões a seguir:
a) Nesse trecho inicial da história, são narradas várias e sucessivas ações das personagens de forma bastante breve. Que efeito isso produz, considerando o contexto vivido por Janna-Berta e seu irmão?
As ações narradas dessa forma transmitem a pressa, a ansiedade e o
desespero dos irmãos ao tentar sair logo de casa.
b) Uli sorri ao saber que ele e a irmã fugirão de bicicleta e insiste em levar seu ursinho de pelúcia. O que esses fatos revelam sobre ele?
Que ele ainda é uma criança pequena, bastante inocente, e que não
tem noção do risco que ele e a irmã estão correndo.
03 – Onde Janna-Berta e Uli
pretendiam chegar?
A uma estação de trem de Bad Hersfeld.
04 – Releia:
“Passando
as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado
paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o
elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais
para os carros, eles o tinham todo para si.
[…]
O caminho ficava cada vez mais
estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli.
Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.”
a) Por que Janna-Berta decidiu não ir pela estrada e sim por uma trilha paralela?
Porque imaginou que os carros não conseguiriam passar por ali,
deixando o caminho só para ela e Uli, que seguiam de bicicleta.
b) O que foi acontecendo com a trilha, conforme os dois irmãos seguiram por ela?
A trilha foi se estreitando, diminuindo, perdendo-se em meio ao
pasto e terminando em um morro.
05 – Na sequência do texto,
o que fez Janna-Berta e Uli sentirem vontade de chorar?
O fato de
perceberem que o caminho em que seguiam havia acabado em um morro, deixando-os
amedrontados.
06 – Ao ouvirem barulho de
motores, o que os dois irmãos concluíram sobre o que havia do outro lado do elevado?
Concluíram que
havia uma estrada, já que carros estavam passando por ali.
07 – Releia este trecho:
“–
Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto
uma estrada!”
• Considerando o contexto,
conclui-se que a agitação de Uli era positiva ou negativa?
Era positiva,
pois ele viu que havia um caminho por onde poderiam prosseguir.
08 – Explique como foi a
morte de Uli.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uli
decidiu descer o declive de bicicleta, mas o morro estava coberto de cascalho.
Ele escorregou da bicicleta e caiu na estrada, onde um carro passou por cima de
sua cabeça.
09 – Ao assistir ao que
aconteceu ao irmão, Janna-Berta ficou “petrificada de espanto”. O que isso
significa?
Significa que ela ficou sem reação, paralisada.
10 – Ao aproximar-se do
irmão morto, Janna-Berta ficou agachada ao seu lado, no meio da estrada.
• Por que as pessoas
buzinavam furiosamente, ignorando o fato?
Porque
Janna-Berta estava impedindo o caminho.
11 – Por que o homem barbudo
deu uma bofetada em Janna-Berta?
Porque ela estava agitada com a morte do
irmão e era preciso controlá-la para todos saírem dali com urgência.
• Qual é a sua opinião sobre
essa atitude do homem?
Resposta pessoal
do aluno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário