Soneto: História natural
Paulo Henriques Britto
Primeira pessoa do singular:
a forma exata da sombra difusa.
Quem fala sou sempre eu a falar.
A máscara é sempre de quem a
usa.

No entanto, é preciso dizer-se —
mesmo
que a moda agora mande (e a moda
manda,
e muito) acreditar que o eu é o
esmo,
o virtual, o quase extinto, o
panda
desgracioso da história do
Ocidente,
a devorar o alimento cru
que já não sabe como digerir.
Leitor amigo: Pára. Pensa.
Sente.
Conheces bem o gosto do bambu,
o ardor nas entranhas. Tenta não
rir.
Paulo
Fernando Henriques Britto – Rio de Janeiro RJ 1951.
Entendendo o soneto:
01
– Qual é o tema central do soneto "História natural" de Paulo
Henriques Britto?
O tema central do
soneto é a reflexão sobre a identidade do "eu" na poesia e no mundo
contemporâneo. O eu-lírico questiona a validade e a relevância do
"eu" como sujeito poético em um contexto cultural que tende a negar
ou relativizar a individualidade.
02
– Que recursos poéticos o autor utiliza para expressar a relação entre o
"eu" e a máscara?
O autor utiliza a
metáfora da máscara para expressar a relação complexa entre o "eu" e
a sua representação. A frase "A máscara é sempre de quem a usa"
sugere que a identidade individual é construída e performada, sendo a máscara a
forma visível e reconhecível do "eu".
03
– Qual é a crítica presente na referência à "moda" que manda
acreditar que o "eu" é "o virtual, o quase extinto, o panda
desgracioso da história do Ocidente"?
Essa referência
critica a tendência contemporânea de negar ou relativizar a importância do
"eu" como sujeito individual e autônomo. A comparação com o
"panda desgracioso" ironiza a imagem de um "eu"
fragilizado, deslocado e incapaz de se adaptar ao mundo moderno.
04
– O que significa o verso "a devorar o alimento cru / que já não sabe como
digerir"?
Esse verso
expressa a dificuldade do "eu" em lidar com a complexidade e a
sobrecarga de informações do mundo contemporâneo. O "alimento cru"
representa a experiência bruta e não processada, que o "eu" não
consegue assimilar ou integrar de forma significativa.
05
– Qual é o significado do chamado ao leitor nos versos finais "Leitor
amigo: Pára. Pensa. Sente. / Conheces bem o gosto do bambu, / o ardor nas
entranhas. Tenta não rir"?
Esse chamado ao
leitor convida-o a uma reflexão profunda sobre a própria identidade e sobre a
sua relação com o mundo. A referência ao "gosto do bambu" e ao
"ardor nas entranhas" sugere uma experiência visceral e pessoal, que
o leitor é convidado a reconhecer em si mesmo. O tom irônico do último verso
("Tenta não rir") adverte para o risco de banalizar ou ridicularizar
a experiência do "eu" em sua busca por sentido e autenticidade.
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