sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

POEMA: O QUE HÁ EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: O que há em mim é sobretudo cansaço

             Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcL1kq20C7VNHPasLHSREwrCWEjY9D7AIeIJmd6TEnctAo5v54NSaPNz93DYy7Cdpar3YdnReOGxkjBD_lZs49g8bXN_tZtYVltq84yi5z8Y1HlSioIdtPsaRidlpjTh5TD_bpD5ptf8QutrFMlz1lCxOB5qbgR9YP-2aKt_c9s4Oe0WFIFqtAlXTlyZM/s1600/CANSA%C3%87O.jpg


 

A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto em alguém,

Essas coisas todas —

Essas e o que falta nelas eternamente —;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.

 

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada —

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...

 

E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,

Íssimo, íssimo, íssimo,

Cansaço...

PESSOA, Fernando. Obra poética. (Poesias de Álvaro de Campos). Rio de Janeiro: José Aguillar, 1969, p. 393-394.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 94-95.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal emoção transmitida pelo poema?

      O poema transmite, principalmente, um profundo sentimento de exaustão e desilusão. O "cansaço" é apresentado como uma condição existencial, resultado de uma vida marcada por paixões intensas, desejos inalcançáveis e a busca por algo que sempre parece estar além do alcance.

02 – O que significa o "cansaço" para o eu lírico?

      O "cansaço" para o eu lírico vai além da fadiga física. Ele representa um estado de espírito, uma sensação de vazio e frustração diante da vida. É o resultado de uma busca incessante por algo que nunca é encontrado, de paixões que se esgotam e de desejos que não se realizam.

03 – Qual a relação entre o "cansaço" e as paixões e desejos do eu lírico?

      As paixões e os desejos do eu lírico são a causa do seu cansaço. A busca incessante por sensações intensas, por amores perfeitos e por experiências únicas levam a um desgaste emocional e existencial. O eu lírico se sente exausto por ter vivido intensamente, mas sem encontrar a felicidade plena.

04 – Como o eu lírico se diferencia dos outros idealistas?

      O eu lírico se diferencia dos outros idealistas por não se prender a ideias abstratas como o infinito ou o impossível. Ele busca o prazer no momento presente, valoriza o finito e reconhece a importância de desejar o que é possível. No entanto, mesmo com essa postura mais realista, ele ainda sente um profundo cansaço.

05 – Qual o significado da repetição da palavra "cansaço" no poema?

      A repetição da palavra "cansaço" enfatiza a intensidade desse sentimento e a sua centralidade no poema. Ela cria um ritmo hipnótico e reforça a ideia de que o cansaço é uma condição constante e inevitável para o eu lírico.

06 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é a reflexão sobre a condição humana e a busca por significado na vida. O eu lírico expressa a frustração diante da impossibilidade de encontrar a felicidade plena e a sensação de que a vida é marcada pela busca incessante por algo que sempre está além do alcance.

07 – Como o poema se relaciona com a obra de Fernando Pessoa?

      O poema "O que há em mim é sobretudo cansaço" é um exemplo da heteronímia de Fernando Pessoa. Através do heterônimo Álvaro de Campos, o poeta expressa um sentimento de angústia e desilusão diante da vida moderna, marcada pela busca por prazer e pela valorização do individualismo. Esse poema, assim como outros de Álvaro de Campos, revela a complexidade da obra de Fernando Pessoa e a sua capacidade de explorar diferentes facetas da condição humana.

 

 

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