Poema: O Domador
Mário de
Andrade
Alturas da Avenida. Bonde 3.
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira
sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde…
As sujidades implexas do urbanismo.
Filés de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo.
Na frente o tram da irrigação,
onde um Sol bruxo se dispersa
num triunfo persa de esmeraldas, topázios e rubis…
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux
nas clausuras sem dragões dos torreões…
Mário, paga os duzentos réis.
São cinco no banco: um branco,
uma noite, um oiro,
um cinzento de tísica e Mário…
Solicitudes! Solicitudes!
Mas… olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens
esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!
e oh cavalos de cólera sanguínea!
Laranja da China, laranja da China, laranja da China!
Abacate, cambucá e tangerina!
Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown,
heroico sucessor da raça heril dos bandeirantes,
loiramente domando um automóvel!
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal imagem que o poema "O Domador" evoca sobre a
cidade?
O poema evoca uma
imagem da cidade como um espaço caótico e contrastante, repleto de movimento,
cores vibrantes e elementos que representam a modernidade e a tradição. A
Avenida, com seus bondes, asfaltos e multidão, é descrita como um palco onde se
misturam o novo e o antigo, o belo e o feio.
02
– Que relação o poema estabelece entre o passado e o presente?
"O Domador"
estabelece uma relação tensa entre o passado e o presente. O eu lírico invoca
os "gaúchos paulistas ancestremente" e seus "cavalos de cólera
sanguínea" para contrastar com a figura do "esfuziante clown"
que "loiramente domando um automóvel". Essa oposição revela uma
nostalgia pelo passado e uma crítica à modernidade, que é vista como uma força
que transforma e descaracteriza a identidade.
03
– Quais as principais características do Modernismo presentes no poema?
"O
Domador" é um poema marcadamente modernista por:
Linguagem coloquial e
experimental: O poema utiliza uma linguagem simples e direta, com
neologismos e expressões coloquiais, rompendo com a tradição poética.
Temática urbana: A
cidade, com suas contradições e modernidade, é o centro do poema, refletindo a
preocupação dos modernistas com a realidade brasileira.
Valorização da identidade
nacional: O poema faz referência à história brasileira, buscando construir
uma identidade nacional a partir da mistura de elementos diversos.
Visão crítica da
modernidade: O poema apresenta uma visão crítica da modernização, que é
vista como uma força que descaracteriza a identidade e aliena o indivíduo.
04
– Qual o significado da figura do "esfuziante clown" no contexto do
poema?
O
"esfuziante clown" representa a figura do homem moderno, que se
adapta às novas tecnologias e à vida urbana. Ele é um sucessor dos
bandeirantes, mas domina um automóvel em vez de um cavalo. Essa figura
simboliza a perda da identidade e a alienação do indivíduo diante das
transformações da sociedade.
05
– Qual a importância da cor na construção do poema?
A cor desempenha
um papel fundamental na construção do poema, criando uma atmosfera vibrante e
intensa. As cores vivas e contrastantes, como o "ouro-rosa-verde" do
céu e as "esmeraldas, topázios e rubis" do sol, reforçam a ideia de
uma cidade caótica e em constante movimento. As cores também são utilizadas
para simbolizar diferentes aspectos da realidade, como a riqueza, a pobreza e a
beleza.
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