POEMA: DE ENCANTAÇÃO
Jorge
de Lima
Arraial d’Angola de Paracatu,
Arraial de Mossâmedes de Goiás,
Arraial de Santo Antônio do Bambe,
vos ofereço quibebê, quiabo, quitanda, quitute, quingombô.
Tirai-me essa murrinha, esse gôgo, esse urufá,
que eu quero viver molecando, farreando, tocando meus
ganzás!

Arroio dos Quilombos de Palmares,
Arroio do Desemboque do Quizongo,
Arroio do Exu do Bodocô,
vos ofereço maconha de pito, quitunde, quibembe, quingombô.
Assim, sim!
Arraial d’Angola de Paracatu,
Arraial do Campo de Goiás,
Arraial do Exu do Aussá,
vos ofereço quisama, quinanga, quilengue, quingombô.
Tomai acaçá, abará, aberém, abaú!
Assim, sim!
Tirai-me essa murrinha, esse gôgo, esse urufá!
Vos ofereço quitunde, quitumba, quelembe, quingombô.
LIMA, Jorge de. Poesia
completa. v. 1. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1974, p. 173-174.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 231.
Entendendo o poema:
01 – Qual é o tema central do
poema "De Encantação"?
O poema "De
Encantação" é uma invocação, um tipo de prece ou encantamento, dirigida a
diversos arraiais (comunidades) de origem africana no Brasil. O eu-lírico
oferece comidas e elementos típicos da cultura africana, pedindo em troca a
cura de males (murrinha, gôgo, urufá) e a permissão para viver livremente,
"molecando", "farreando" e expressando sua cultura através
da música ("tocando meus ganzás").
02 – Quem é o eu-lírico do
poema e qual sua intenção?
O eu-lírico
parece ser alguém que se identifica com a cultura africana e que busca uma
conexão com suas raízes. Sua intenção é clara: através da oferta de elementos
culturais (comidas, instrumentos), ele busca estabelecer uma troca com as
entidades espirituais ou ancestrais africanos, pedindo por saúde, bem-estar e a
possibilidade de viver livremente, celebrando sua cultura.
03 – Quais são os elementos
culturais africanos presentes no poema?
O poema é rico em
referências à cultura africana, tanto na culinária (quibebe, quiabo, quitanda,
quitute, quingombô, acaçá, abará, aberém, abaú) quanto em outros elementos
(ganzá, maconha de pito, quitunde, quibembe, quisama, quinanga, quilengue).
Esses elementos representam a força e a riqueza da cultura africana no Brasil,
bem como sua presença em diversas regiões do país (Paracatu, Goiás, Palmares,
etc.).
04 – O que significam as
palavras "murrinha", "gôgo" e "urufá" no contexto
do poema?
Essas três
palavras se referem a males ou doenças. "Murrinha" pode se referir a
uma doença ou de espírito ruim. "Gôgo" é um termo popular para bócio,
uma doença da tireoide. "Urufá" é uma palavra de origem africana que
se refere a uma doença ou feitiço. Ao pedir para ser liberado desses males, o
eu-lírico busca a cura e o bem-estar.
05 – Qual a importância do
verso "Assim, sim!" que se repete no poema?
O verso
"Assim, sim!" é uma expressão de afirmação e de aceitação. Ele
reforça a intenção do eu-lírico de estabelecer a troca com as entidades
africanas e de receber as bênçãos desejadas. É como se ele estivesse dizendo:
"Sim, é isso que eu quero! É assim que deve ser!". O verso também
evoca a musicalidade e o ritmo do poema, aproximando-o de um cântico ou de uma
reza.
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