segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

NOTÍCIA: A TRISTE SAGA DE JAYSON BLAIR - OMBUDSMAN - BERNARDO AJZENBERG - COM GABARITO

 Notícia: A triste saga de Jayson Blair – OMBUDSMAN

             BERNARDO AJZENBERG

        A Folha deu pouca bola para o assunto na semana, mas o fato é que, desde domingo, o jornalismo, em especial o norte-americano, levou um brutal soco no estômago.

        Ele foi produzido por uma extensa reportagem do "New York Times" daquele dia sobre erros, fraudes, plágios e invenções contidas em textos produzidos ao longo de cinco meses por um de seus repórteres, Jayson Blair, 27, que deixou o jornal dia 1º.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9UV0BIIoZuQkqxr-NnJ9_s1Vyu-ubNfTsI8akRgTS0XPBxRoTjRidc5sWsolXloFq1JMBpLjQY9NZ-ZjnpA0d7RpB7uA0aBHmlnucTkXbExBGbQ9yXzXr0qmP11cBmMzY7Ff_jj4NZXHJ1NTmHX6l1nFzP34a4UQqV9ahyphenhyphenorGJNPCWtjeVmixaMJRwIE/s320/NOTICIA.jpg

        O levantamento, feito por repórteres, editores e pesquisadores do próprio "Times", ocorreu a partir da constatação de que um texto de Blair publicado em 26/4 sobre a família de um soldado desaparecido no Iraque plagiava reportagem de oito dias antes do "San Antônio Express-News", do Texas.

        Constataram-se ao menos 36 fraudes nas 73 reportagens dele publicadas entre outubro de 2002 e abril último, detalhadas nas quatro páginas que o "Times" usou para o caso domingo.

        Blair fingia mandar matérias de lugares onde não estava, usava fotos para forjar detalhes que não presenciara, inventava declarações. Cerca de 600 reportagens de sua autoria publicadas desde 1998 estão sendo checadas.

        Crise

        O "New York Times", com 152 anos de existência, é considerado o jornal mais influente dos EUA e um dos mais importantes do mundo. Faz parte das instituições que estruturam a democracia naquele país. Publica diariamente uma seção de "Correções", goza uma tradição de independência e credibilidade.

        O próprio fato de ter divulgado o caso com estardalhaço, em evidente tom de mea-culpa, conta, nesse sentido, a seu favor.

        História e transparência, porém, não respondem à questão principal: como foram possíveis tantas fraudes durante tanto tempo num jornal como esse?

        Na quarta-feira, cerca de 500 de seus jornalistas se reuniram por duas horas, com a direção, numa sala de cinema de Nova York para discutir o problema.

        Embora o encontro tenha sido a portas fechadas, relatos da própria mídia norte-americana dão conta de que o clima, ali, foi de tensão e crise declarada, com abertos questionamentos em relação aos mecanismos de controle do jornal, critérios de recrutamento e promoção, subestimação da comunicação interna.

        Questiona-se, inclusive, se não houve excessiva tolerância da cúpula com Blair – sobre quem circulavam advertências quanto a imprecisões e comportamento duvidoso já no início de 2002 – devido ao fato de ele ser negro e de o jornal adotar uma política de recrutamento que valoriza a chamada "ação afirmativa".

        Desde outubro, por exemplo, o jornalista enviara textos supostamente de 20 cidades em seis Estados sem ter submetido à administração um único recibo para prestação de contas.

        Em programa na CNN, o colunista de mídia do "Washington Post", Howard Kurtz, chegou a pôr em dúvida o próprio procedimento do "Times" para apurar os erros de Blair.

        "Acho que esse é um exemplo clássico em que o jornal poderia usar um ombudsman com visão independente, pois, no fim das contas, os editores que, em última instância, estão envolvidos no caso são os mesmos que supervisionam essa investigação", disse o jornalista.

        Alguém fora da estrutura de poder do jornal, argumenta Kurtz, poderia, por exemplo, questionar Howell Raines (editor-executivo) sobre o fato de ele próprio ter congratulado Blair num e-mail sobre sua cobertura no caso do atirador de Washington ano passado.

        Momento delicado

        Casos assim já ocorreram nos EUA, mas não num veículo tão portentoso, por tanto tempo, com tamanha dimensão – tampouco num momento tão delicado, em que, além de sofrer forte crise econômica, a mídia é questionada por sua quase generalizada subserviência ao "patriotismo" de George W. Bush.

        A Folha, porém, deu ao assunto, segunda-feira, apenas uma notinha em pé de página, diferentemente de concorrentes, que tiveram mais sensibilidade para captar a sua dimensão histórica.

        Na terça, recuperou-se um pouco ao noticiar, com foto de Blair, que o jornal "The Boston Globe", no qual ele também trabalhara por alguns meses, deflagara a sua própria investigação.

        Houve um editorial na edição de quarta e só – ao menos até o fechamento desta coluna.

        Aliás, a ombudsman do "Globe", Christine Chinlund, com quem troquei e-mails, lamenta o ocorrido de modo simples:

        "A saga de Jayson Blair é, acima de tudo, uma saga muito triste. Ela se institui como uma lembrança a todos os jornalistas e editores sobre a necessidade de uma vigilância extrema quanto à exatidão. Não podemos, jamais, abrir mão disso".

        O "Times", o "Globe" e outros jornais dos EUA anunciaram uma revisão de procedimentos internos de checagem e controle.

        No Brasil, revelaram-se até o momento poucos casos de fraude ou plágio. A "triste saga" de Jayson Blair deve servir, no mínimo, como um enorme sinal amarelo.

Folha de São Paulo, 18/5/03, p. A-6.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 184-185.

Entendendo a notícia:

01 – Qual foi o principal impacto do caso Jayson Blair no jornalismo?

      O caso de Jayson Blair abalou profundamente a credibilidade do New York Times, um dos jornais mais respeitados do mundo. Revelou falhas nos sistemas de checagem e controle do jornal, gerando uma crise de confiança e levando a uma revisão dos procedimentos internos em diversas redações.

02 – Quais foram as principais fraudes cometidas por Jayson Blair?

      Jayson Blair cometeu diversas fraudes, como inventar informações, plagiar outros jornalistas, e atribuir a si mesmo a autoria de reportagens que não realizou. Ele também falsificou dados e localizações, enganando tanto os leitores quanto seus colegas de trabalho.

03 – Por que o caso de Jayson Blair gerou tanta repercussão?

      O caso gerou tanta repercussão por diversos motivos: o New York Times é um dos jornais mais influentes do mundo, e a descoberta das fraudes de um de seus repórteres abalou a confiança no jornalismo como um todo. Além disso, o caso levantou questões importantes sobre a ética profissional, a importância da checagem de fatos e os mecanismos de controle nas redações.

04 – Quais as principais consequências do caso para o New York Times?

      O caso levou à demissão de Jayson Blair e de dois altos executivos do jornal. Além disso, o New York Times implementou novas medidas de controle de qualidade e criou a figura do ombudsman, um profissional independente responsável por investigar queixas e garantir a integridade jornalística.

05 – Quais as implicações do caso para o jornalismo brasileiro?

      O caso de Jayson Blair serviu como um alerta para o jornalismo brasileiro, que também precisa estar atento à necessidade de manter altos padrões de qualidade e ética. A história mostrou a importância de mecanismos de checagem rigorosos e da transparência nas redações.

06 – Qual a importância da figura do ombudsman no jornalismo?

      O ombudsman desempenha um papel fundamental no jornalismo, atuando como um defensor dos leitores e garantindo a independência editorial. Ele investiga queixas, analisa o trabalho dos jornalistas e faz recomendações para melhorar a qualidade do jornalismo.

07 – Qual a importância da cobertura desse tipo de caso pela imprensa?

      A cobertura de casos como o de Jayson Blair é fundamental para manter a transparência e a credibilidade do jornalismo. Ao divulgar as falhas e os erros, a imprensa contribui para um debate público sobre a ética profissional e a importância da verdade. Além disso, a cobertura desse tipo de caso pode levar a melhorias nos processos internos das redações e fortalecer a confiança dos leitores.

 

 

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