sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

CRÔNICA: NATAL - FRAGMENTO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: NATAL – Fragmento

              Luís Fernando Veríssimo

Natal é uma época difícil para cronistas. Eles não podem ignorar a data e ao mesmo tempo não há mais maneiras originais de tratar do assunto. Os cronistas, principalmente os que estão no métier há tanto tempo, que ainda usam a palavra métier – já fizeram tudo que havia para fazer com o Natal. Já recontaram a história do nascimento de Jesus de todas as formas: versão moderna (Maria tem o bebê numa fila do SUS), versão coloquial (“Pô, cara, aí Herodes radicalizou e mandou apaga as pinta recém-nascida, baita mauca”), versão socialmente relevante (os três reis magos são detidos pela polícia a caminho da manjedoura, mas só o negro precisa explicar o que tem
no saco) versão on-line (
jotace@salvad.com.bel conta sua vida num chat site), etc.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEoaItyMrl7Z2Ia3FGtIKpnYXDCh_672Je2b9Nv1CmvVpyD-Fn4C_m0wNN3Jut19ktEG6FHxMMEv_rGmObOVsadnufoIcUHr8flJTgWdxU7qticNaPvvg_gS2S0rkfR8E7K6ae_rAlpV7xBHwIf88JaO3MGC-qvat8crQtLDVI2rMaZ7QaC1qapmQZwWY/s320/aurora_boreal_papai_noel_capa-635x435.jpg


        Papai Noel, então, nem se fala. Eu mesmo já escrevi a história do casal moderno que flagra o Papai Noel deixando presentes sob a árvore de Natal, corre com o Papai Noel e não conta nada da sua visita para o filho porque querem criá-lo sem qualquer tipo de superstição várias vezes. Poucos cronistas estão inocentes de inventar cartas fictícias com pedidos para o Papai Noel: patéticas (paz para o mundo, bom senso para os governantes), políticas (“Só mais um mandato e eu juro que acerto, ass. Fernando”) ou práticas (“Algo novo para escrever sobre o Natal, por amor de Deus!”).

        Já fomos sentimentais, já fomos amargos, já fomos sarcásticos e blasfemos, já fomos simples, já fomos pretensiosos – não há mais nada a escrever sobre o Natal! Espera um pouquinho. Tive uma ideia. Uma reunião de noéis! Noel Rosa, Noel Coward e Papai Noel. Acho que sai alguma coisa. Noel Rosa, Noel Coward e Papai Noel estão reunidos… onde? Na mesa de um bar? Papai Noel não frequenta bares para não dar mau exemplo. Pelo menos não com a roupa de trabalho. No Polo Norte? Noel Coward, acostumado com o inverno de Londres, talvez aguentasse, mas Noel Rosa congelaria. Não interessa onde é o encontro. Uma das primeiras lições da
crônica é: não especifica. Noel Rosa, Noel Coward e Papai Noel estão reunidos em algum lugar.

        [...]

        Noel Coward e Papai Noel se entreolham. Papai Noel cofia a barba. Ninguém sabe, exatamente, o que é “cofiar”, mas é o que Papai Noel faz, enquanto Noel Coward olha em volta com evidente desgosto por estar em algum lugar. Preferia estar em outro. Ninguém encontra o que dizer, nem eu.

        [...]

        Esquece. Não há mais nada a escrever sobre o Natal.

        [...].

Correio Braziliense, Brasília, 19/12/99.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 21.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal dificuldade enfrentada pelos cronistas ao escrever sobre o Natal, segundo Veríssimo?

      A principal dificuldade é a falta de originalidade. Os temas natalinos já foram explorados exaustivamente, tornando difícil encontrar novas perspectivas ou abordagens.

02 – Que tipos de abordagens sobre o Natal já foram exploradas pelos cronistas, de acordo com o texto? Cite alguns exemplos.

      Veríssimo cita diversas abordagens, como: versões modernas e coloquiais da história de Jesus, críticas sociais, humor sarcástico e blasfemo, sentimentalismo, e até mesmo o uso de cartas fictícias ao Papai Noel.

03 – Qual a ideia original que Veríssimo apresenta para fugir do lugar-comum sobre o Natal?

      A ideia original é reunir três figuras históricas com o nome "Noel" em um mesmo lugar: Noel Rosa, Noel Coward e Papai Noel. A intenção é criar uma situação inusitada e gerar um diálogo improvável entre esses personagens.

04 – Por que a ideia da reunião entre os três Noéis não funciona, segundo o autor?

      A ideia não funciona porque os personagens são muito diferentes e não há um contexto natural para a reunião. Além disso, o autor reconhece que não consegue encontrar diálogos e situações interessantes para essa cena.

05 – Qual a conclusão a que Veríssimo chega sobre a possibilidade de escrever algo novo sobre o Natal?

      Veríssimo conclui que, após explorar todas as possibilidades e perceber as dificuldades de criar algo original, não há mais nada a escrever sobre o Natal.

 



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