EDITORIAL - PUBLICIDADE POLÊMICA
A
propaganda de produtos infantis precisa respeitar certas regras, mas é melhor a
autorregulamentação do que uma proibição absoluta
É um consenso que o
público infantil é mais vulnerável às investidas publicitárias e deve ser
poupado de apelos consumistas e de mensagens que depreciem valores sociais
positivos, como a solidariedade e a vida em família.
A iniciativa
parlamentar, de dezembro de 2001, serviu como sinal de alerta para a indústria e
as agências de publicidade. Elas perceberam o recrudescimento de reações contrárias
a abusos em anúncios e nos meios de comunicação.
É sintomático que, em
2006, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) tenha
divulgado o documento “Novas Normas Éticas”, que trata da propaganda de produtos
destinados a crianças e adolescentes.
Já em seu início, o
texto reconhecia a “exigência flagrante da sociedade” de que a publicidade se
engajasse “na formação de cidadãos responsáveis e consumidores conscientes”.
Em 2010, a Associação
Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) e a Associação Brasileira de
Anunciantes (ABA) assinaram compromisso público para impor limites à divulgação
de produtos que contribuam para a obesidade e doenças a ela associadas.
Não obstante,
permanecem vivas pressões para que a propaganda destinada a crianças seja
banida. Há várias campanhas contra e a favor, como as intituladas “Somos Todos Responsáveis”
e “Infância Livre de Consumismo”.
É fato que em outros
países há limitações legais. Nos EUA, por exemplo, a publicidade para crianças
e adolescentes é limitada a 20% do total veiculado. Na Suécia, não pode ser exibida
antes das 21h.
São possibilidades
que merecem ser discutidas pelo Conar, dentro do princípio de que a melhor
alternativa é a autorregulamentação. O conselho deveria tomar a iniciativa de
apresentar uma proposta para debate público.
A proibição absoluta
é uma saída drástica, com vezo autoritário. Fere o direito à informação e
confere ao Estado a prerrogativa de substituir os pais na decisão do que pode
ser visto por seus filhos.
Não há dúvida de que
o Conar conquistou o respaldo da sociedade. Ele precisa, no entanto, apertar os
seus controles.
Estudo da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo) mostrou que propagandas de cerveja veiculadas
na TV – exceção questionável à restrição de horário a publicidade de bebidas alcoólicas
– não respeitam 12 das 16 determinações do código de autorregulamentação avaliadas
na pesquisa.
Para consagrar-se, o
salutar princípio da autorregulamentação precisa mostrar-se efetivo.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/36128-
publicidade-polemica.shtml. Acesso em: 24/12/2015.)
Entendendo o texto
1. Os editoriais geralmente abordam um tema do momento,
que está em discussão na sociedade.
a) Qual é o tema abordado pelo editorial em estudo?
A
questão da proibição ou da autorregulamentação da propaganda destinada a
crianças.
b) Por que esse tema estava sendo debatido no Brasil no
momento da publicação do editorial?
Por causa de
iniciativas de parlamentares e de cidadãos com vistas à proibição de
propagandas destinadas ao público infantil e do interesse de órgãos como o Conar,
a Abia e a ABA em regulamentar esse tipo de propaganda.
2. Por meio dos editoriais,
os jornais e revistas expressam seu ponto de vista sobre o tema abordado, seja
para fazer uma crítica ou um elogio a algo ou a alguém, seja para fazer
sugestões ou estimular a reflexão. No editorial lido, o jornal deixa clara a
sua posição.
a) Esse posicionamento é
contra ou a favor da proibição da propaganda dirigida ao público infantil?
É contra.
b) Em que partes do texto esse posicionamento é
apresentado de forma explícita?
No subtítulo e no 10¼ parágrafo, que se inicia
com a afirmação “A proibição absoluta é uma saída drástica, com vezo
autoritário”.
c) Que argumentos são usados para esse posicionamento?
O argumento de que
a proibição fere o direito à informação, o de que ela confere ao Estado a
prerrogativa de substituir os pais na decisão do que pode ser visto pelos
filhos e, por último, os exemplos de outros países.
3. O texto cita
pontos de consenso entre defensores e críticos. Quais são esses pontos?
O público infantil
é mais vulnerável à publicidade; deve ser poupado de apelos consumistas e de
mensagens que depreciem valores sociais positivos, como a solidariedade e a
vida em família.
4. Os editoriais têm
uma estrutura relativamente simples: apresentam uma ideia principal (tese), que
expressa o ponto de vista do jornal ou revista sobre o tema; um desenvolvimento,
constituído por parágrafos que fundamentam a ideia principal; e uma conclusão,
geralmente formulada no último parágrafo do texto. A estrutura do editorial
lido poderia ser esquematizada da forma mostrada a seguir. Complete o esquema,
indicando um argumento e a conclusão.
Ideia principal
A questão da
propaganda dirigida ao público infantil é polêmica, com defensores e críticos.
Desenvolvimento
1º argumento: Embora
haja polêmica, há concordância em alguns princípios básicos quanto à propaganda
para o público infantil.
2º argumento: Entidades como o Conar, a Abia e a ABA apresentaram propostas
de regulamentação dessa propaganda.
Conclusão: A proibição absoluta
fere o direito à informação e transfere para o Estado um papel que é dos pais.
5. O editorial é um
texto que pertence ao grupo dos gêneros argumentativos, ou seja, aqueles que têm
a finalidade de persuadir o leitor e, portanto, precisam apresentar argumentos
consistentes, como relações de causa e consequência, comparações, informações,
depoimentos de autoridades, dados estatísticos de pesquisa, etc. Identifique no
desenvolvimento do editorial lido:
a) relações de causa
e consequência;
“o público infantil é mais vulnerável às
investidas publicitárias”.
b) comparação com
outros países;
Nos EUA, a publicidade para crianças e
adolescentes é limitada a 20% do total veiculado; na Suécia, a exibição é
proibida antes das 21h.
c) estudos e dados
estatísticos.
Estudo da Unifesp mostrou
que propagandas de cerveja veiculadas na TV não respeitam 12 das 16
determinações do código de autorregulamentação proposto pelo Conar.
6. Nos editoriais, a
conclusão geralmente ocorre no último parágrafo e costuma apresentar uma síntese
das ideias expostas ou uma sugestão ou proposta para a solução do problema
abordado.
De que tipo é a
conclusão do editorial lido?
7. Observe a
linguagem empregada no texto, inclusive os verbos e pronomes. Como os
editoriais expressam a opinião do jornal ou revista e não a de um jornalista em
particular, é comum não haver neles a identificação de quem os escreveu.
Além disso, esse gênero
privilegia a impessoalidade, isto é, o autor fala do tema de modo distanciado, sem
se colocar diretamente no texto.
No editorial lido:
a) Que pessoa verbal predomina? O uso dessa pessoa contribui para impessoalizar o texto? Por quê?
Predomina a 3ª pessoa;
seu uso contribui para impessoalizar o texto, permitindo ao autor tratar o
assunto de modo distanciado, sem se colocar diretamente no texto.
b) Em que tempo estão as formas verbais, predominantemente?
No presente do indicativo.
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