Crônica: Uma lição inesperada
João Anzanello Carrascoza
Aos poucos, foi matando a
saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco
dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de
volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu
que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.
Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas.
Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.
Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.
João Anzanello Carrascoza
(Nova Escola, dez 2000.)
Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa –
6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.
Entendendo a crônica
1)
A leitura do texto permite identificar a
expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.
A
palavra que contradiz essa
expectativa é
A) tédio.
B) ansiedade.
C) excitação.
D)
euforia.
E) alegria.
2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”,
considere as afirmativas abaixo:
I - É uma
narrativa que possui como protagonista um menino.
II – É um texto
essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi
matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul
e branco dos uniformes...”
III - Há
predomínio de narrador personagem com características de onisciência.
IV - As ações se
desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente
escolar e de relações interpessoais.
Acerca das
afirmações, observa-se que
A) apenas II é correta.
B) I, II e IV são corretas.
C) I e IV são corretas.
D) II e III são corretas.
E) todas as afirmativas são corretas.
3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se
à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em
A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.
B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.
C) o mulato - um caiçara responsável.
D) o grandalhão – raciocínio rápido.
E) Lilico - mal humorado.
4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio,
além de utilizar a expressão “bicho do
mato” diz que ela ‘comia palavras’.
O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de
A) mostrar a ignorância da menina.
B) demonstrar o medo sentido pela menina.
C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.
D) enfatizar o comportamento dos colegas.
E) precisar o caráter tímido e calado da menina.
5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em
que se desenrola a narrativa é
A) “No último dia de férias...”
B) “De volta à sala de aula, a professora
passou uma tarefa em grupo...”
C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às
pressas...”
D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto
seria bom conhecê-la”
E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano
inteiro?”
6) Em “Sentia-se
como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de
A) em casa.
B) fora de casa.
C) um peixe.
D) desorientado.
E) como o mar.
7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”,
o narrador
A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.
B) exulta as diferenças e sua aceitação no
relacionamento com os colegas.
C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas
relações com os colegas.
D) mostra que o encanto dos colegas não está nas
diferenças.
E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.
8) No trecho:
“Então, mirou a menina do
sítio e pensou no quanto
seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência
semântica em
A) virou, memorizou.
B) refletiu, viu.
C) observou, refletiu.
D) virou, observou.
E) refletiu, memorizou.
9) Lilico descobriu que todos tinham características
positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.
A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para
a turma?
Ensinar
tudo sobre os passarinhos.
B) E o colega alto?
Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar
basquete no time dele.
C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos
meninos da turma?
Ensinar
a todos os segredos de uma boa pescaria.
D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?
Que
não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.
O narrador conta que lilico chega alegre escola. O que o fez sentir-se diferente?
ResponderExcluirPor que ele não ficou com os amigos dele
ResponderExcluirPor isso ele não gostou da sua sala de aula.
Mas de pois ele conheceu eles e viu que não era o que ele pensava que doce ✧◝(⁰▿⁰)◜✧✧◝(⁰▿⁰)◜✧✧◝(⁰▿⁰)◜✧
Oi
ResponderExcluirGostei demais
ResponderExcluirGostei muito obg
ResponderExcluir