quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UMA LIÇÃO INESPERADA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Crônica: Uma lição inesperada

                 João Anzanello Carrascoza

  No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria.

      Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.

      Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. 

      Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.       

       Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

João Anzanello Carrascoza

(Nova Escola, dez 2000.)

Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa – 6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.

Entendendo a crônica

1)   A leitura do texto permite identificar a expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.

A palavra que contradiz essa expectativa é

         A) tédio.

         B) ansiedade.

         C) excitação.

         D) euforia.

         E) alegria.

 

2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”, considere as afirmativas abaixo:

 I - É uma narrativa que possui como protagonista um menino.

 II – É um texto essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes...”

 III - Há predomínio de narrador personagem com características de onisciência.

 IV - As ações se desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente escolar e de relações interpessoais.

 Acerca das afirmações, observa-se que

A) apenas II é correta.

B) I, II e IV são corretas.

C) I e IV são corretas.

D) II e III são corretas.

E) todas as afirmativas são corretas.

 

3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em

A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.

B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.

C) o mulato - um caiçara responsável.

D) o grandalhão – raciocínio rápido.

E) Lilico - mal humorado.

4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio, além de utilizar a expressão “bicho do mato” diz que ela ‘comia palavras’. O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de

A) mostrar a ignorância da menina.

B) demonstrar o medo sentido pela menina.

C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.

D) enfatizar o comportamento dos colegas.

E) precisar o caráter tímido e calado da menina.

 

5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em que se desenrola a narrativa é

A) “No último dia de férias...”

B) “De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo...”

C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas...”

D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la”

E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro?”

 

6) Em “Sentia-se como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de

A) em casa.

B) fora de casa.

C) um peixe.

D) desorientado.

E) como o mar.

7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”, o narrador

A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.

B) exulta as diferenças e sua aceitação no relacionamento com os colegas.

C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas relações com os colegas.

D) mostra que o encanto dos colegas não está nas diferenças.

E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.

 

8) No trecho: “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência semântica em

A) virou, memorizou.

B) refletiu, viu.

C) observou, refletiu.

D) virou, observou.

E) refletiu, memorizou.

9) Lilico descobriu que todos tinham características positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.

A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para a turma?

      Ensinar tudo sobre os passarinhos.

B) E o colega alto?

     Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.

C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos meninos da turma?

    Ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.

D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?

      Que não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.

5 comentários:

  1. O narrador conta que lilico chega alegre escola. O que o fez sentir-se diferente?

    ResponderExcluir
  2. Por que ele não ficou com os amigos dele
    Por isso ele não gostou da sua sala de aula.
    Mas de pois ele conheceu eles e viu que não era o que ele pensava que doce ✧◝(⁰▿⁰)◜✧✧◝(⁰▿⁰)◜✧✧◝(⁰▿⁰)◜✧

    ResponderExcluir