terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: ASSASSINOS DE RODAS - GILBERTO DIMENSTEIN - COM GABARITO

 Texto: Assassinos de rodas

          GILBERTO DIMENSTEIN

    É como se três vezes por semana caísse um Boeing lotado de passageiros no Brasil.

    Um dossiê montado na Presidência da República a partir de dados do Departamento Nacional de Trânsito, SUS e Polícia Rodoviária revela um massacre nas ruas e estradas.

        Foram 750 mil acidentes no ano passado. Além das 36.503 mortes, 323 mil pessoas saíram feridas – 193 mil delas com alguma lesão permanente.

        A imensa maioria das vítimas tem entre 18 e 34 anos, auge do período produtivo.

        Tabulado pelo Gerat (Grupo Executivo de Redução de Trânsito), ligado diretamente ao presidente Fernando Henrique Cardoso, é o retrato estatístico da selvageria nacional.

        Aproximadamente 90% dos acidentes são provocados, segundo o dossiê, por falha humana. Detalhe espantoso: 51% ocorrem em estrada reta, com dia claro, envolvendo apenas um carro.

        Entre as principais causas, álcool e drogas. Traduzindo: desleixo.

        "Não temos, na verdade, um problema de trânsito. Mas um problema de cidadania", afirma José Roberto Souza, coordenador do Gerat.

        Segundo ele, o elevado número de acidentes é provocado, em boa parte, porque os criminosos não são devidamente punidos – e também porque não existe um processo de educação sobre civilidade no trânsito.

        Basta comparar: em países mais ricos, com as leis cumpridas com mais rigor, a exemplo dos EUA, a proporção é de duas mortes para cada 10 mil veículos; no Brasil, é cinco vezes maior.

        Esses dados servem de combustível para uma das mais interessantes campanhas sociais lançadas no Brasil – Natal sem morte.

        No período natalino, governo e sociedade civil fariam um esforço conjunto para reduzir todos os tipos de mortes violentas.

        Mensagem: se podemos num dia reconquistar o espaço público, podemos sempre.

        "Nossa estratégia é simples. Vamos, de um lado, educar para que os motoristas sejam mais responsáveis. E, de outro, usar a nova lei, que vai dar status de assassino ao motorista que provocou mortes", garante José Roberto.

        PS – O novo código de trânsito vai ser sancionado em 7 de setembro, Dia Nacional dos Direitos Humanos. Apropriado.

 Folha de São Paulo, 27 ago. 1997.

      Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 182-3.

Entendendo o texto:

01 – Qual é a situação do trânsito em nosso país?

      É péssima. Em 1996, além das 36.503 mortes, 323 mil pessoas saíram feridas – 193 mil delas com lesão permanente.

02 – Qual é a grande causa dos acidentes nas ruas e estradas brasileiras?

      É a falha humana, o desleixo, o descompromisso dos motoristas.

03 – Qual é a consequência da falta de punição para os criminosos do trânsito?

      É o aumento do número de acidentes.

04 – O texto é narrativo ou dissertativo? Por quê?

      O texto é dissertativo porque apresenta o ponto de vista do autor sobre o tema abordado.

05 – Qual é a ideia do texto, para você? Fundamente sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O texto mostra a consequências do descompromisso, da falta de preocupação com o outro, da falta de consciência sobre o que seja ser cidadão. Aponta o individualismo como o principal fator a comprometer o espaço público.

     

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