Texto: Assassinos de rodas
GILBERTO DIMENSTEIN
É como se três vezes por semana caísse
um Boeing lotado de passageiros no Brasil.
Um dossiê montado na Presidência da
República a partir de dados do Departamento Nacional de Trânsito, SUS e Polícia
Rodoviária revela um massacre nas ruas e estradas.
Foram 750 mil acidentes no ano passado.
Além das 36.503 mortes, 323 mil pessoas saíram feridas – 193 mil delas com
alguma lesão permanente.
A imensa maioria das vítimas tem entre
18 e 34 anos, auge do período produtivo.
Tabulado pelo Gerat (Grupo Executivo de
Redução de Trânsito), ligado diretamente ao presidente Fernando Henrique
Cardoso, é o retrato estatístico da selvageria nacional.
Aproximadamente 90% dos acidentes são
provocados, segundo o dossiê, por falha humana. Detalhe espantoso: 51% ocorrem
em estrada reta, com dia claro, envolvendo apenas um carro.
Entre as principais causas, álcool e
drogas. Traduzindo: desleixo.
"Não temos, na verdade, um
problema de trânsito. Mas um problema de cidadania", afirma José Roberto
Souza, coordenador do Gerat.
Segundo ele, o elevado número de
acidentes é provocado, em boa parte, porque os criminosos não são devidamente
punidos – e também porque não existe um processo de educação sobre civilidade
no trânsito.
Basta comparar: em países mais ricos,
com as leis cumpridas com mais rigor, a exemplo dos EUA, a proporção é de duas
mortes para cada 10 mil veículos; no Brasil, é cinco vezes maior.
Esses dados servem de combustível para
uma das mais interessantes campanhas sociais lançadas no Brasil – Natal sem
morte.
No período natalino, governo e
sociedade civil fariam um esforço conjunto para reduzir todos os tipos de
mortes violentas.
Mensagem: se podemos num dia
reconquistar o espaço público, podemos sempre.
"Nossa estratégia é simples.
Vamos, de um lado, educar para que os motoristas sejam mais responsáveis. E, de
outro, usar a nova lei, que vai dar status de assassino ao motorista que
provocou mortes", garante José Roberto.
PS – O novo código de trânsito vai ser
sancionado em 7 de setembro, Dia Nacional dos Direitos Humanos. Apropriado.
Folha de São Paulo, 27 ago.
1997.
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 182-3.
Entendendo o texto:
01 – Qual é a situação do
trânsito em nosso país?
É péssima. Em
1996, além das 36.503 mortes, 323 mil pessoas saíram feridas – 193 mil delas
com lesão permanente.
02 – Qual é a grande causa
dos acidentes nas ruas e estradas brasileiras?
É a falha humana,
o desleixo, o descompromisso dos motoristas.
03 – Qual é a consequência
da falta de punição para os criminosos do trânsito?
É o aumento do
número de acidentes.
04 – O texto é narrativo ou
dissertativo? Por quê?
O texto é
dissertativo porque apresenta o ponto de vista do autor sobre o tema abordado.
05 – Qual é a ideia do
texto, para você? Fundamente sua resposta.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O
texto mostra a consequências do descompromisso, da falta de preocupação com o
outro, da falta de consciência sobre o que seja ser cidadão. Aponta o
individualismo como o principal fator a comprometer o espaço público.
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