REPORTAGEM: SEMPRE JUNTOS, SEMPRE FORTES
Ter um amigo inseparável para partilhar segredos ajuda o adolescente a ter mais segurança
Rose
Guirro
É fácil identificar aqueles dois amigos
inseparáveis. Eles se encontram diariamente, têm uma espécie de linguagem cifrada,
vivem trocando segredos e participam dos mesmos programas. Um sempre está na
casa do outro. Taís Guedes e Alethea Kounrouyan são assim. Inseparáveis. Ou,
para quem vê a amizade de fora, um verdadeiro grude.
As garotas, que têm 17 anos, se
conhecem desde os 9 anos e garantem que, apesar de se falarem diariamente,
nunca brigaram. “Temos gostos parecidos e, por isso, nunca discutimos”, garante
Thaís. Alethea confirma. “Não há confusão nem mesmo quando nós duas ficamos
interessadas no mesmo garoto”, explica ela. Para evitar atritos, as amigas têm
uma estratégia para esses casos. Quando as duas querem só ficar com o menino,
não há problema: cada dia uma tem esse privilégio. Se a coisa for mais séria,
basta falar para a amiga. “Aí, a outra cai fora”, garante Thaís.
Aline Alonso e Juliana Monteiro, ambas de
20 anos e estudantes de Jornalismo na PUC, também não têm segredos. “Todas as
minhas dúvidas são divididas com a Juliana”, jura Aline. Juliana explica que as
duas têm gostos diferentes para quase tudo, mas uma afinidade muito grande no
modo de pensar. “Por isso, nos damos superbem”, justifica.
Contar segredos e compartilhar as
angústias e medos é uma característica presente apenas na amizade feminina, explica
a psicóloga Maria Clara Heise, especializada em adolescentes. "Entre os
meninos, a amizade é sempre mais superficial", analisa Maria Clara. As
meninas, garante a psicóloga, não têm problema em mostrar suas angústias para a
amiga. Já os meninos sentem medo de parecer inseguros. "Por isso, quando
se encontram falam mais de futebol, política e de meninas", diz.
"Há rapazes, no entanto, que contam
seus problemas para os amigos. Esse é o caso, por exemplo, de Pedro Paulo
Pimenta, 21 anos, estudante de Filosofia, e Arnaldo Junqueira Ribeiro, de 21
anos, que estuda Jornalismo e História. “Mas só falo sobre os assuntos mais
íntimos quando não dá para segurar a barra sozinhos," explica Pedro, que
conheceu Arnaldo há quatro anos. Arnaldo conta que prefere falar sobre assuntos
pessoais com Juliana, sua namorada há cinco anos. “Mas quando tenho alguma
briga com ela, procuro o Pedro para desabafar”, diz.
De
acordo com o psicólogo Dráusio Martins Ribeiro, os homens são mais competitivos
e, por isso, evitam ficar em desvantagem na frente dos amigos. "Entre os
garotos, a preocupação com a autoimagem é muito grande", explica. Entre as
meninas, isso não acontece. "Elas contam seus sentimentos e expõem suas
dúvidas porque sabem que a amiga vai entender seus problemas", acredita.
Seja como for, uma coisa é certa: a
amizade é muito importante para o desenvolvimento dos jovens. "Nessa fase,
os adolescentes começam a questionar os valores e os gostos dos pais e procuram
pessoas que tenham pensamentos iguais aos seus", explica Maria Clara. Mas
os especialistas acreditam, contudo, que a amizade também pode trazer problemas
se um não desgrudar do outro por nada nesse mundo. "Se um dos amigos tiver
a personalidade muito dominante, o outro pode ir anulando a sua personalidade
para ficar parecido com o amigo e, desse modo, não perder a sua estima",
ensina Maria Clara. De acordo com a psicóloga, a melhor coisa a fazer é ter um
grande amigo, mas, ao mesmo tempo, não seguir a cabeça dos outros.
Afinal, não há nada melhor do que
contar com a solidariedade dos amigos. Vitor Marin, por exemplo, não pôde
assistir ao filme Meu Primeiro Amor,
com o Ator-mirim Macaulay Culkin, no dia em que seus amigos Danilo Doratiotto,
Théo Chiarella e Bruno Chiarella, todos com 13 anos, foram ao cinema. Na semana
passada, Vitor reclamou que não tinha visto o filme e os outros três decidiram
vê-lo novamente. “Amigo é para essas coisas”, brincam os garotos.
Fonte: O Estado de
São Paulo, 27 fev. 1992.
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 162-5.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Identificar: reconhecer.
·
Privilégio: vantagem, regalia.
·
Cifrada: em código; que só alguns entendem.
·
Afinidade: semelhança, identidade.
·
Atritos: brigas, desavenças.
·
Compartilhar: dividir; ter ou tomar parte de.
·
Estratégia: modo de realizar algo; conjunto de táticas utilizado para
alcançar objetivos específicos.
·
Questionar: colocar em dúvida, discutir.
·
Solidariedade: sentimento que leva as pessoas a ajudar umas às outras.
02 – Copie os temas explorados
no texto, colocando-os na ordem em que aparecem:
a)
A explicação do psicólogo sobre amizade
masculina. (4).
b)
Exemplos de amizade masculina. (3).
c)
Importância e riscos da amizade. (5).
d)
Exemplos de amizade feminina. (1).
e)
A explicação da psicóloga sobre amizade
feminina. (2).
f)
Exemplo de solidariedade entre meninos. (6).
03 – O texto desenvolve uma
ideia central. Qual?
Entre os
adolescentes é comum e bastante benéfico existir uma forte amizade,
principalmente entre as meninas.
04 – Copie a alternativa correta. Segundo a psicóloga Maria
Clara Heise:
a)
A amizade masculina é mais sólida porque os
homens são mais sinceros.
b)
A amizade feminina é mais profunda
porque as meninas compartilham medo e angústia.
c)
Na adolescência, meninos e meninas têm formas
semelhantes de se relacionar com seus pares.
05 – Por que os meninos
falam mais de futebol, de política e de meninas?
Porque eles têm
medo de parecer inseguros, falando de si mesmos.
06 – O psicólogo Dráusio
Martins Ribeiro afirma que os meninos são mais competitivos. Em que essa
atitude interfere no relacionamento entre eles?
Resposta pessoal
do aluno.
07 – Por que a amizade é
especialmente importante na adolescência?
Os adolescentes
procuram apoio de pessoas que pensam como eles para evitar atritos e solidão.
08 – Qual o problema que a
amizade pode trazer aos adolescentes?
Se um dos
adolescentes for mais autoritário, poderá dominar o outro.
09 – “... a melhor coisa a
fazer é ter um grande amigo, mas, ao mesmo tempo, não seguir a cabeça dos
outros.” Como isso é possível?
O jovem deve
manter a independência, o modo próprio de pensar, apesar da amizade.
10 – Como podemos
caracterizar o texto “Sempre juntos,
sempre fortes”? Copie a alternativa adequada:
a)
É uma reportagem sobre o comportamento
dos jovens, contendo opiniões de psicólogos.
b)
É a história de uma longa amizade entre
adolescentes.
c)
É uma exposição teórica sobre a adolescência.
11 – Na sua opinião, o texto
traça um bom retrato da amizade entre adolescentes? Faltou alguma coisa nesse
retrato? O quê?
Resposta pessoal
do aluno.
Muito bom
ResponderExcluirMuito obrigado
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