Texto: Uma bela lição
Içami Tiba
Ainda pequeno, um dia acompanhei meus
irmãos, que iam treinar judô. Fiquei impressionadíssimo com o professor, um
baixinho muito forte a quem todos os alunos respeitavam. Também quis aprender
judô. Lá fui eu, querendo derrubar o professor Inada de qualquer jeito. A cada
investida minha, ele me desequilibrava com pequenos movimentos e lá ia eu para
o chão. Foi quando Inada-sensei (professor Inada) me deu a primeira lição de
judô: “Primeiro você precisa aprender a cair porque, caindo, você aprende a
derrubar”. Ele dava risada e me dizia que minha afobação em querer derrubar me
deixando mais fraco. Eu tinha que perceber o ponto fraco do adversário e,
quando atacasse, fazê-lo de um só golpe naquele ponto. Naquela época, o que eu
queria era ganhar as lutas, ser forte como ele, que derrubava todo mundo com a
maior facilidade.
Cheguei a São Paulo para fazer o quarto
ano primário junto com o curso de admissão ao ginásio porque em Tapiraí o Grupo
Escolar “Coronel João Rosa” só tinha o primário. Larguei o judô. Só o retomei
quando estava na sétima série do Colégio Estadual e Escola Normal “Fernão Dias
Pais”, em Pinheiros.
Quando estava no curso científico
comecei a dar aulas de judô. Não havia jovem que recusasse um dinheiro extra.
Foi aí que percebi quanto os ensinamentos do Inada-sensei estavam dentro de mim
porque eu fazia exatamente com os meus aluninhos o que ele fez comigo: muito
carinho e cuidado para não ferir as crianças, estimular a descobrir os próprios
pontos fortes para treiná-los, perceber no adversário seus pontos mais
vulneráveis e principalmente saber cair sem se machucar.
Comecei a receber alunos com indicação
médica por ser crianças hipercinéticas (hiperativas), e para eles a noção dos
limites é importantíssima. Eles vinham mais afoitos do que eu ia contra o
Inada-sansei, e lhes era terapêutico aprender o respeito aos limites e ao
próximo. Foi assim que acrescentei uma etapa ao que aprendi: só consegue
derrubar o adversário quem souber cair e levantar. Portanto, para levantar bem
é preciso saber cair sem se machucar. O verdadeiro campeão é aquele que sabe
valorizar quem lhe consagrou a vitória: seu oponente vencido. Saber perder é a
arte de manter a dignidade sem se subestimar nem se destruir, fazendo tudo o
que sabia e podia. Quem não sabe perder também não sabe ganhar. Devo ao Inada-sensei
meu título de campeão brasileiro universitário de judô, lutando pela Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo.
Meu professor
inesquecível. São Paulo, Editora Gente, 1997. Org. Fanny Abramovich.
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 153-4.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Investida: ataque, assalto.
·
Terapêutico: de efeito curativo.
·
Vulneráveis: frágeis, fracos.
·
Oponente: adversário.
·
Hiperativa: que tem excessiva atividade motora.
·
Subestimar: avaliar por baixo.
·
Afoito: precipitado, descuidado.
02 – Em que pessoa o texto
foi narrado? Justifique.
Foi narrado em
primeira pessoa, por alguém que, já adulto, se recorda de um professor
inesquecível.
03 – Como é o professor que
aparece neste texto? Que lição ele ensinou ao narrador?
É um professor de
judô que lhe transmitiu uma importante lição de vida: que é preciso aprender a
cair para aprender a derrubar.
04 – Como você entendeu essa
lição?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: só consegue derrubar o adversário quem souber cair e
levantar, que, se não soubermos “cair sem nos machucar”, não conseguiremos
continuar a lutar: estaremos derrotados antes do final da “luta”.
05 – Pense em uma situação
real de vida em que a lição do professor Inada poderia ajudá-lo a superar
alguma dificuldade.
Resposta pessoal
do aluno.
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