Crônica: O Celular
Lucy Carvalhar
1990. Eu estava assistindo
ao telejornal e vi uma reportagem sobre o telefone do próximo milênio, um
aparelho de telefone chamado “celular”.
“Celu, o quê?” – pensei.
- Celular – repetiu a jornalista.
Fui dormir pensando no
assunto. Aprendi, em biologia celular, que as células são as menores unidades
dos seres vivos, com formas e funções definidas. Então, por que celular? Será
que ele também é composto por células? Será que está surgindo uma nova organização
celular no planeta?
Como naquele tempo, eu não
tinha internet, perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que
era feito um celular, e o porquê deste nome. Mas eles também não sabiam, e não
conseguindo encontrar a resposta, resolvi cuidar da minha vida e de coisas mais
importantes.
1993. No banheiro da
faculdade, vi minha amiga Susana segurando o tal celular. Quando ela me viu,
disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal. Então, pensei que
ela estivesse se referindo às suas necessidades fisiológicas, e perguntei se
ela estava passando bem. Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que
estava bem, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo. Fiquei sem
graça e, naquele momento, entendi que a caixa postal se tratava da caixa de
mensagens do estranho aparelho chamado “celular”. “Que vergonha!” – pensei, mas
não falei nada. Fiquei apenas observando aquele objeto, que estava nas mãos da
minha amiga e que recebia ligações.
Procurei uma desculpa para
me livrar da vexatória situação.
- Susana, já volto. Vou até
o orelhão, preciso falar com minha mãe. Susana, muito solícita, entregou-me o
seu celular, para que eu não precisasse ficar na fila do telefone público. Eu
aceitei e fiquei alguns minutos com aquele objeto no meu ouvido, até que ela
perguntou: - Você não vai apertar as teclas para ligar para sua mãe? - Não tem
linha...está mudo – respondi.
A moça não aguentou, deu uma
gargalhada, e disse:
- Você só tem que apertar as
teclas com o número do telefone da sua mãe!
“Mais uma vergonha com o tal
aparelho”, pensei, com o rosto enrubescido.
Então, apertei as teclas do
tal aparelho e falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular.
Claro, que ela não entendeu nada e, mesmo assim, continuei a falar.
Os anos passaram. Um novo
século chegou. A tecnologia evoluiu e, com ela, surgiram redes sociais,
inúmeros aplicativos de mensagens.
Hoje, convivemos fiel e obsessivamente
com a presença desse aparelho, que tem sua caixa postal sendo descarregada não
somente nos banheiros, mas em todos os lugares.
Não pesquisei a origem do
nome “celular”, mas sei que, atualmente, ele se tornou a unidade fundamental
para o convívio de todos os seres humanos da nossa sociedade tecnológica.
Viva o CELULAR!
Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1192085.Adaptado. Acesso em: 30
jun. 2020.
Fonte: SP FAZ ESCOLA-Caderno do Professor - Língua Portuguesa - Ensino Fundamental - 6º Ano - Vol. 4 - p. 21-24.
Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fgartic.com.br%2Fkamillalovatic%2Fdesenho-livre%2Fcelular&psig=AOvVaw1QcIrtsMsCRfTfVPG8uzPd&ust=1608413825612000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOC398y-2O0CFQAAAAAdAAAAABAD
1 – Você acabou de ler uma
crônica. Vamos ver as suas características? Observe o quadro a seguir:
Relata
fatos do cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e até prevemos o
desenrolar dos fatos.
Pode
conter elementos descritivos.
Mescla
a tipologia narrativa com trechos reflexivos e, em alguns casos,
argumentativos.
A
crônica também se utiliza da ironia, humor e, às vezes, do sarcasmo.
Possui marcadores espaciais e temporais.
O foco narrativo pode ser em primeira ou
terceira pessoa.
O tempo é cronológico.
Pode
haver o uso do discurso direto, discurso indireto ou discurso indireto livre.
(Elaborado por Lucifrance Elias Carvalhar
especialmente para esse material.)
2 - O texto “O celular” é
uma crônica porque
a) possui clímax.
b) relata
situações do cotidiano.
c) apresenta um conflito.
d) nenhuma das alternativas
anteriores.
3 – O texto “O celular”
retrata uma situação vivida pela personagem. O foco narrativo está em:
( x ) primeira
pessoa
( ) terceira pessoa
Explique. A personagem relata uma situação que foi vivenciada por ela e
utiliza o pronome “eu”.
4 - Se a crônica “O celular”
tivesse sido narrada em 3ª. pessoa e o narrador não soubesse sobre os
sentimentos das personagens, ele seria chamado de narrador- observador.
5 – A protagonista ficou
esperando o celular dar linha. A que ela o associou?
Ela associou o
celular ao telefone fixo, que possui linha.
6 – No texto, em cinco
momentos, aparecem discursos indiretos: três, na fala da protagonista e dois,
na fala de Susana. Grife e passe-os para o discurso direto. Lembre-se de
utilizar o travessão, os dois-pontos e o ponto final.
Discurso indireto (protagonista):
Perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que era feito um
celular, e o porquê deste nome.
Discurso direto
(protagonista): Perguntei para alguns colegas de classe: - Vocês sabem do que é
feito um celular e por que ele recebe este nome?
Discurso indireto (protagonista):
“Perguntei se ela estava passando bem.”
Discurso direto
(protagonista): Perguntei para Susana: - Você está passando bem?
Discurso indireto (protagonista):
“Falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular.
Discurso direto
(protagonista): Falei para minha mãe: - Estou usando um celular.
Discurso indireto (Susana): “Susana
disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal.”
Discurso direto:
Susana disse: - Acabei de descarregar a minha caixa postal.
Discurso indireto (Susana):
“Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que estava bem, e que na
caixa postal não havia recados de seu noivo.”
Discurso direto
(Susana): Susana respondeu: - Não entendi a sua pergunta, mas estou bem! Na
caixa postal não tem recados do meu noivo.
7 – No quarto parágrafo há
três frases com ponto de interrogação. De acordo com o texto, por que a autora
utilizou este ponto?
A autora utilizou
o ponto de interrogação porque desconhecia o que era um celular.
8 – Na frase “Que
vergonha!”, foi utilizado o ponto de exclamação. Por quê?
O ponto de
exclamação foi utilizado porque a protagonista expressou-se de forma vexatória
diante do fato, sentindo-se envergonhada por não saber o que era a caixa postal
de um celular.
9 – Observe: “- Não tem
linha...está mudo.” Nessa frase houve o emprego das reticências, marcando uma
suspensão da frase. Essa suspensão na frase aconteceu porque:
a) a personagem estava com
dúvidas sobre como teclar no celular. b) a personagem
estava esperando a linha do celular para teclar os números.
c) a personagem estava com
vergonha de falar que não sabia usar o celular.
d) a personagem estava
cansada de segurar o celular.
1- Que elementos estão presentes nesta crônica que a caracterizam como gênero narrativo?
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