domingo, 27 de dezembro de 2020

TEXTO: EI! EU TAMBÉM QUERO! JOÃO BAPTISTA CINTRA RIBAS - COM GABARITO

 Texto: Ei! Eu também quero!

           João Baptista Cintra Ribas

        Praticamente todo mundo faz parte de uma turma, de uma galera. Como é importante ter uma galera! Pertencer a um grupo ajuda a gente a ter amigos e a fazer novas amizades.

        Mas há aqueles que não conseguem se enturmar e, então, se isolam. Uns por serem muito tímidos. Outros por acharem que, tendo uma restrição no corpo, talvez não possam brincar, correr, nadar, paquerar, se divertir como todos os seus colegas. Existem ainda aqueles pais que acham melhor para o filho, que eles consideram limitado, não se arriscar a ficar muito tempo na rua. Isso porque — acreditam eles — a criança pode piorar o seu estado.

        Muitos artistas conhecidos têm procurado escrever historinhas, acompanhadas de ilustrações, que retratam a vida cotidiana de personagens portadores de restrições no corpo ou de deficiências. Entre essas histórias, podemos citar algumas famosas: O pirata da perna de pau, de Leyguarda Ferreira; Pinocchio, de Carlo Collodi; Peter Pan, de James Barrie. Todos os personagens desses livros têm suas restrições: o pirata, porque lhe falta uma parte do corpo; Pinocchio, porque é uma marionete de madeira; Peter Pan, porque não quis crescer, limitando-se à sua infância. Porém, todos eles fazem parte de uma turma e se metem em aventuras conjuntas. Aqui no nosso caso não tem importância se são bons ou maus. O mais interessante é que, participando de aventuras fascinantes, vivem rodeados de companheiros. [...]

        Um outro autor muito famoso que escreveu e ilustrou um livro importantíssimo foi Ziraldo. A pedido da Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), do Ministério da Justiça do Governo Federal, Ziraldo criou um personagem muito simpático. É um menino que começa sua história dizendo: “É isso: eu não posso andar”. Mas, em seguida, diz: “Por favor, não fiquem tristes; olhem, eu não quero falar de coisas que causam mágoas ou que nos fazem chorar. Olhem só: eu não sou triste, eu gosto de conversar.” Pouco a pouco, ele vai contando sua vida, sua maneira de lidar com o fato de não poder andar como aqueles que não são portadores de deficiência, seus gostos e aptidões, para, enfim, orgulhar-se de si próprio, afirmando: “Ninguém, meu caro, é perfeito!” Mais ainda: mostra, o tempo todo, o quanto ele pode viver de maneira integrada com seus amiguinhos da mesma idade.

        Outro personagem que não pode ser esquecido é aquele criado para uma série de três livros intitulada Meu amigo Down, com texto de Claudia Werneck e ilustrações de Ana Paula. Cada um dos livros foi escrito para contar a convivência de um menino portador de síndrome de Down (popularmente conhecida como mongolismo), em três situações diferentes: na rua, na escola e em casa. Num deles, os amiguinhos o veem como diferente, como um aluno que desenha mal e, às vezes, erra no dever. Mas o veem também como alguém que brinca legal, nada bem, recorta certinho. No meio disso tudo, enfatiza-se que ele tem um número grande de amiguinhos. Um deles conta como foi a visita a seu amigo Down, que tinha ficado doente. E faz um relato da visita da forma como ele o vê: “Seu quarto era bagunçado que nem o meu. Sua tosse era que nem aquela que eu tive. Todas as crianças ficam resfriadas do mesmo jeito, conclui. Sua mãe queria que ele comesse tudo para ficar bom depressa. Insistia igualzinho à minha. O remédio da febre, eu vi, era o mesmo vidro que o meu. Até seu irmão menor era chato, como o meu. O que ele tinha que eu não tinha? Tudo era tão igual, mas eu sabia que meu amigo Down era diferente. Nem pior nem melhor, apenas um amigo diferente.”

        Pois é. Essas histórias de ficção — mas que retratam fielmente a realidade — mostram que todos nós, apesar das diferenças, podemos fazer parte de uma turma e de uma galera. Se você tem uma restrição no corpo ou uma deficiência (por mais leves ou mais severas que sejam) por que não pertencer a um grupo de amigos? Afinal, todos nós — com os mais variados limites — podemos e devemos pertencer a uma galera. Se você não enxerga direito, os amigos o ajudarão a ver melhor. Se você não ouve direito, os amigos o ajudarão a ouvir melhor. Se você não pode ficar em ambientes muito fechados, os amigos poderão escolher outro ambiente mais arejado para todos irem juntos. Se você tem dificuldades para subir uma escada, os amigos o ajudarão a subir. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda. Envergonhado deve ficar quem não quer participar de uma turma e se isola só porque tem uma restrição no corpo ou uma deficiência. [...]

        Percebendo as diferenças, as especialidades e, sobretudo, as potencialidades, toda e qualquer criança pode conviver em todo e qualquer grupo ou galera. Só assim poderá se integrar de fato, se divertir e viver.

                              Viva a diferença: convivendo com nossas restrições e diferenças. São Paulo, Moderna, 1995. P. 85-95.

         Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 165-7.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F462041242995994384%2F&psig=AOvVaw2qlNYYXl9vWipuKA7JcuS8&ust=1609164801302000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMCNrpus7u0CFQAAAAAdAAAAABAP

Entendendo o texto:

01 – Este texto também fala da importância da turma, das amizades. Que “ingrediente” acrescenta ao tema do texto?

       A importância dos amigos para as pessoas que possuem qualquer restrição no corpo ou deficiência.

02 – Qual a ideia que o autor do texto pretende transmitir?

      Percebendo as diferenças, as especificidades, as potencialidades de cada um, toda e qualquer pessoa pode conviver em grupo, pois só assim poderá se integrar de fato, divertir-se, viver.

03 – O que o autor pretende ao citar histórias de ficção em seu texto?

      Pretende mostrar que, como as personagens dessas histórias – que são diferentes –, portadores de deficiência podem aprender a conviver com ela e viver de maneira integrada com amigos da mesma idade.

04 – Quem se respeita tende a respeitar os outros; quem não se respeita tende a diminuir os outros – justamente para sentir-se momentaneamente, de alguma forma, superior a eles. Associe esse pensamento ao que é dito no texto. Como podemos entender a afirmação feita à luz do que diz o autor?

      Resposta pessoal do aluno.

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