Texto: Ei! Eu também quero!
João Baptista Cintra Ribas
Praticamente todo mundo faz parte de
uma turma, de uma galera. Como é importante ter uma galera! Pertencer a um
grupo ajuda a gente a ter amigos e a fazer novas amizades.
Mas há aqueles que não conseguem se
enturmar e, então, se isolam. Uns por serem muito tímidos. Outros por acharem
que, tendo uma restrição no corpo, talvez não possam brincar, correr, nadar,
paquerar, se divertir como todos os seus colegas. Existem ainda aqueles pais
que acham melhor para o filho, que eles consideram limitado, não se arriscar a
ficar muito tempo na rua. Isso porque — acreditam eles — a criança pode piorar
o seu estado.
Muitos artistas conhecidos têm
procurado escrever historinhas, acompanhadas de ilustrações, que retratam a
vida cotidiana de personagens portadores de restrições no corpo ou de
deficiências. Entre essas histórias, podemos citar algumas famosas: O pirata da
perna de pau, de Leyguarda Ferreira; Pinocchio, de Carlo Collodi; Peter Pan, de
James Barrie. Todos os personagens desses livros têm suas restrições: o pirata,
porque lhe falta uma parte do corpo; Pinocchio, porque é uma marionete de
madeira; Peter Pan, porque não quis crescer, limitando-se à sua infância.
Porém, todos eles fazem parte de uma turma e se metem em aventuras conjuntas. Aqui
no nosso caso não tem importância se são bons ou maus. O mais interessante é
que, participando de aventuras fascinantes, vivem rodeados de companheiros.
[...]
Um outro autor muito famoso que
escreveu e ilustrou um livro importantíssimo foi Ziraldo. A pedido da
Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), do
Ministério da Justiça do Governo Federal, Ziraldo criou um personagem muito
simpático. É um menino que começa sua história dizendo: “É isso: eu não posso
andar”. Mas, em seguida, diz: “Por favor, não fiquem tristes; olhem, eu não
quero falar de coisas que causam mágoas ou que nos fazem chorar. Olhem só: eu
não sou triste, eu gosto de conversar.” Pouco a pouco, ele vai contando sua
vida, sua maneira de lidar com o fato de não poder andar como aqueles que não
são portadores de deficiência, seus gostos e aptidões, para, enfim, orgulhar-se
de si próprio, afirmando: “Ninguém, meu caro, é perfeito!” Mais ainda: mostra,
o tempo todo, o quanto ele pode viver de maneira integrada com seus amiguinhos
da mesma idade.
Outro personagem que não pode ser
esquecido é aquele criado para uma série de três livros intitulada Meu amigo
Down, com texto de Claudia Werneck e ilustrações de Ana Paula. Cada um dos
livros foi escrito para contar a convivência de um menino portador de síndrome
de Down (popularmente conhecida como mongolismo), em três situações diferentes:
na rua, na escola e em casa. Num deles, os amiguinhos o veem como diferente,
como um aluno que desenha mal e, às vezes, erra no dever. Mas o veem também
como alguém que brinca legal, nada bem, recorta certinho. No meio disso tudo,
enfatiza-se que ele tem um número grande de amiguinhos. Um deles conta como foi
a visita a seu amigo Down, que tinha ficado doente. E faz um relato da visita
da forma como ele o vê: “Seu quarto era bagunçado que nem o meu. Sua tosse era
que nem aquela que eu tive. Todas as crianças ficam resfriadas do mesmo jeito,
conclui. Sua mãe queria que ele comesse tudo para ficar bom depressa. Insistia
igualzinho à minha. O remédio da febre, eu vi, era o mesmo vidro que o meu. Até
seu irmão menor era chato, como o meu. O que ele tinha que eu não tinha? Tudo
era tão igual, mas eu sabia que meu amigo Down era diferente. Nem pior nem
melhor, apenas um amigo diferente.”
Pois é. Essas histórias de ficção — mas
que retratam fielmente a realidade — mostram que todos nós, apesar das
diferenças, podemos fazer parte de uma turma e de uma galera. Se você tem uma
restrição no corpo ou uma deficiência (por mais leves ou mais severas que
sejam) por que não pertencer a um grupo de amigos? Afinal, todos nós — com os
mais variados limites — podemos e devemos pertencer a uma galera. Se você não
enxerga direito, os amigos o ajudarão a ver melhor. Se você não ouve direito,
os amigos o ajudarão a ouvir melhor. Se você não pode ficar em ambientes muito
fechados, os amigos poderão escolher outro ambiente mais arejado para todos
irem juntos. Se você tem dificuldades para subir uma escada, os amigos o
ajudarão a subir. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda. Envergonhado deve ficar
quem não quer participar de uma turma e se isola só porque tem uma restrição no
corpo ou uma deficiência. [...]
Percebendo as diferenças, as
especialidades e, sobretudo, as potencialidades, toda e qualquer criança pode
conviver em todo e qualquer grupo ou galera. Só assim poderá se integrar de
fato, se divertir e viver.
Viva
a diferença: convivendo com nossas restrições e diferenças. São Paulo, Moderna,
1995. P. 85-95.
Fonte: Português – Linguagem &
Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª
edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 165-7.
Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F462041242995994384%2F&psig=AOvVaw2qlNYYXl9vWipuKA7JcuS8&ust=1609164801302000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMCNrpus7u0CFQAAAAAdAAAAABAP
Entendendo o texto:
01 – Este texto também fala
da importância da turma, das amizades. Que “ingrediente” acrescenta ao tema do
texto?
A importância dos amigos para as pessoas
que possuem qualquer restrição no corpo ou deficiência.
02 – Qual a ideia que o
autor do texto pretende transmitir?
Percebendo as
diferenças, as especificidades, as potencialidades de cada um, toda e qualquer
pessoa pode conviver em grupo, pois só assim poderá se integrar de fato,
divertir-se, viver.
03 – O que o autor pretende
ao citar histórias de ficção em seu texto?
Pretende mostrar que, como as personagens
dessas histórias – que são diferentes –, portadores de deficiência podem
aprender a conviver com ela e viver de maneira integrada com amigos da mesma
idade.
04 – Quem se respeita tende
a respeitar os outros; quem não se respeita tende a diminuir os outros –
justamente para sentir-se momentaneamente,
de alguma forma, superior a eles. Associe esse pensamento ao que é dito no
texto. Como podemos entender a afirmação feita à luz do que diz o autor?
Resposta pessoal
do aluno.
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