Poema: Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando
Pessoa, in 'Cancioneiro'
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o poema,
é específico do processo de criação literária o fato de o poeta:
I – Escrever não o que
pensa, mas aquilo que deveras sente.
II – Ser capaz de captar e
expressar os sentimentos dos leitores.
III – Transformar um
elemento extraliterário, como a dor, em objeto estético.
Está certo o que se afirma
apenas em:
a)
I.
b)
II.
c)
III.
d)
I e II.
e)
I e III.
02 – Qual é o tema desse
poema?
O tema é a criação do poema como resultado
do fingimento poético. Se trata de uma reflexão sobre o fazer poético por meio
da metalinguagem, que consiste em criar um poema por meio do qual se discute o
próprio processo de construção.
03 – A palavra título indica
que:
a)
O texto apresentará a visão do eu lírico
sobre os outros com quem convive.
b)
O poema tecerá considerações sobre
a subjetividade do próprio eu lírico.
c)
O texto discutirá a formação do leitor.
d)
O poema dialogará com os leitores em
potencial.
e)
O poema tecerá considerações sobre o amor.
04 – Qual o significado de
autopsicografia?
Exprime a noção
de próprio, de si próprio, por si próprio. Diz respeito a uma pessoa, no caso,
o poeta Fernando Pessoa, que faz a descrição da sua própria alma, do fazer
literário do poeta.
05 – Qual é o impasse
vivenciado pelo poeta no processo de criação?
O impasse
consiste em fingir que está sentindo o que sente de verdade.
06 – Qual é a alternativa que
NÃO se relaciona ao poema?
a)
Uso de redondilhas menores, forma
poética popular em Portugal.
b)
A primeira estrofe apresenta a relação entre
autor e obra.
c)
A segunda estrofe apresenta a relação entre
leitor e obra.
d)
A terceira estrofe mostra a consequência da relação
entre autor, leitor, obra, emoção e razão.
e)
O mundo fictício criado pelo poeta é
percebido pelo leitor como verdade.
07 – Que alternativa NÃO está de acordo com o poema.
a)
O poema expressa os sentimentos
reais imediatos vivenciados pelo poeta.
b)
O poema é fruto da criação e do trabalho de
linguagem elaborado pelo poeta.
c)
“Autopsicografia” é um poema metalinguístico,
pois tematiza o processo de criação.
d)
Há um diálogo entre eu do escritor (Ser
criador, real) e o eu poético (personalidade fictícia).
e)
Cada leitor vivencia a dor fingida pelo poeta
de acordo com sua experiência pessoal.
08 – Qual é a unção dos
versos que vêm após o primeiro: “O poeta é um fingidor”?
Eles têm a função
de explicar e confirmar o tema do fingimento poético.
09 – A que se referem os
termos a seguir, extraídos ao poema?
a)
“Calhas de roda”:
Refere-se à razão, ao intelecto, ao raciocínio, ao juízo. Na
terceira estrofe, a “razão” está relacionada ao trabalho intelectual, ao ato de
pensar (com lógica), à criação do poema por meio da linguagem.
b)
“Comboio de corda”:
Refere-se ao coração, às sensações, aos sentimentos reais e
inventados. Na terceira estrofe, o coração simboliza a imaginação, as sensações
(de dor, por exemplo) que podem motivar o ato criativo.
10 – Em língua portuguesa de
Portugal, “Calhas de roda” são trilhos e “Comboio de corda” é um trem de
brinquedo. Ambas as expressões são utilizadas pelo poeta na última estrofe.
Releia-a e responda: o que
gira nos “calhas de roda”?
a)
A dor.
b)
O coração.
c)
A poesia.
d)
A palavra.
e)
A razão.
11 – Leia atentamente o
trecho: “E os que leem o que escreve / Na dor lida sentem bem / Não as duas que
ele teve / Mas só a que eles não têm”. (2ª estrofe). Qual o sujeito das formas
verbais destacadas?
a)
Poetas.
b)
Eu lírico.
c)
Leitores.
d)
Corações.
e)
Razão e coração.
12 – O poema apresenta como
tema a criação artística, desenvolvendo-o em três planos ou em três níveis,
demarcados pelas estrofes. De que trata cada uma das estrofes?
A 1ª estrofe trata do poeta e da criação
literária.
A 2ª estrofe trata do leitor e de sua
relação com o texto literário.
A 3ª estrofe trata do jogo entre a razão
e emoção, existente no fenômeno literário.
13 – Levando em conta que o
poeta é um fingidor, levante hipóteses: Por que, de acordo com a 1ª estrofe, o
poeta “chega fingir que é dor / A dor que deveras sente”?
No jogo
literário, experiência e imaginação se fundem, construindo uma nova realidade,
a do texto.
A emoção contida no texto nem sempre
corresponde a emoção real; esta pode servir de base para a “emoção fingida”,
que se torna real no poema.
14 – De acordo com a 2ª
estrofe:
a)
A que dores se refere o texto no verso “Não
as duas que ele teve”?
As duas dores do poeta: a vivida e a fingida.
b)
Os leitores não sentem as duas dores do
poeta, “Mas só a que eles não têm”. Levante hipóteses: Que dor pode ser essa
sentida pelos leitores?
Com uma visão moderna sobre a recepção do texto. Pessoa abre espaço
para a imaginação do leitor, que não é visto aqui como elemento passivo no jogo
literário, mas como coadjuvante da escritura do texto, pois é ele que atribui o
sentido final à sua leitura.
15 – Na última estrofe, são
aproximados dois elementos que, historicamente, são a base da criação artística
em todos os tempos, ora com o predomínio de um, ora com o predomínio de outro.
a)
Quais são esses elementos?
Razão e emoção.
b)
Que importância têm esses elementos no jogo
da criação literária?
Historicamente, sempre houve predomínio de um ou de outro. Depreende-se
que, para Fernando Pessoa, a criação literária é a confluência da emoção (ligada
à experiência), da razão (ligada à consciência e à técnica) e da imaginação.
16 – O poema tem como título
“Autopsicografia”. O termo psicografia
significa relação mediúnica estabelecida entre dois seres humanos, um morto e
um vivo, sendo este o meio pelo qual aquele se manifesta por escrito; o prefixo
auto significa “por si
mesmo”. Levando em conta esses dados e considerações sobre realidade,
imaginação ou fingimento observadas no poema, dê uma interpretação coerente ao
título do poema.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: O título sugere que a criação literária parte de um eu e
transforma a experiência vivida em “experiência fingida” imaginada. Nesse
processo de recriação, atuam três elementos: razão, emoção e imaginação. Essas
relações, que ocorrem no plano da expressão, se repetem no momento da recepção,
da leitura.
excelente atividade!!! parabéns!
ResponderExcluirgostei muito
ResponderExcluirmuito bom!
ResponderExcluirAtividade show. Obrigada
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