terça-feira, 2 de outubro de 2018

CRÔNICA: O TRISTE SONO SEM MÃE - FRITZ UTZERI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Crônica: O triste sono sem mãe
                       
                       Fritz Utzeri


        Na manhã fria de Ipanema, o menino dorme um sono profundo. Estaria sonhando? Enrolado numa manta, encolhido para proteger-se do frio, falta algo àquele menino sem nome no dia de festa. O Dia das Mães. Quem será a mãe do menino? Por que não estão juntos nesse dia, como tantos filhos e tantas mães, de todas as idades, que brincam na praia e fazem grandes filas em churrascarias, exibindo presentes? Como ele, centenas de meninos, milhares de meninos, em todo o Brasil, não tiveram a alegria de ver as mães em seu dia.
        Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia-a-dia e acaba por matar.
        O que esperar desse menino que dorme? O que cobrar dele mais tarde? Provavelmente a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um adulto. Que tipo de adulto? Inocente e indefeso, dorme o menino. Está só, todos passamos indiferentes por ele quando o vemos em sinais, vendendo doces, limpando vidros, pedindo esmola.
        Por que tem de ser assim? Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar sua cria à própria sorte? Nem os animais fazem isso, mas as circunstâncias, muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos. O que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse menino não seria consequência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?
        Dorme o menino, na frieza dura da pedra, e se pudesse sonhar, sonharia com o calor macio do regaço materno, com uma canção de ninar, cheia de carinho. Dorme o menino, dorme com frio... 
  
Autor: Fritz Utzeri – Jornal do Brasil, 1º caderno, 15/05/2000 (Agência MultimídiA) in Soares, MAGDA. Uma proposta para o letramento.  
Entendendo a Crônica:
01 – Que tipo de fato é narrado nesse texto: um fato corriqueiro ou algo ficcional?
      É um fato corriqueiro.

02 – Qual seria a temática central do texto lido?
      Seria a comemoração: O Dia das Mães.

03 – O texto é engraçado, irônico ou crítico?
      É um texto crítico.

04 – Como podemos perceber pela leitura, o texto trata de questões humanas como tema geral.  Qual tema específico o texto aborda?
      Aborda o abandono das crianças por algumas mães.

05 – O texto traz como personagem central um menino. Este menino representa uma centena de outros meninos que vivem na mesma situação do garoto do texto. Que situação é essa?
      Vivem nas ruas, sem ter um lar para voltar, ou uma família.

06 – Releia: “Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia a dia e acaba por matar.”.   
a) O que o autor quis dizer com a expressão “Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro (...)”?
      Que os meninos não tem a menor ideia do que os especialistas estão fazendo.

b) O que, segundo o autor, a droga provoca nos meninos que a consomem?   
      Ao mesmo tempo que alivia, que ajuda a fugir da tristeza do dia-a-dia, pode a vir a matar.

07 – Veja: “(...) Provavelmente a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um adulto.”     
a) pelo contexto, tente identificar o significado das palavras “repulsa” e “repressão”.
      - Repulsa: ato ou efeito de repelir ou repulsar.
      - Repressão: ação de reprimir, castigo, punição.

b) Que sorte o menino precisará ter para chegar a ser um adulto?   
      A sorte de conseguir se livrar deste estado em que vive, e lutar para a sua mudança.

08 – O autor faz esta pergunta no texto: “Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar sua cria à própria sorte?”. Ele responde que “(...) as circunstâncias, muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos”. Na sua opinião, que circunstâncias são essas?  
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Situação financeira, falta de conhecimento, falta de amor e carinho, etc. 

09 – Observe: “O que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse menino não seria consequência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?”.     
Com que objetivo o autor faz esses questionamentos?   
      Com o objetivo de tentar fazer os governantes e a humanidade a prestar mais atenção para essa situação.

10 – Após a leitura e compreensão do texto, responda:   
a) O que podemos dizer sobre a intenção comunicativa do texto? Com que objetivo ele é escrito?
      O objetivo da sociedade num todo procurar tentar resolver essa situação, ou seja, pelo menos diminuir.

b) Há nesse texto alguma crítica ou denúncia social? Que crítica seria essa?
      Uma crítica. Ao governantes e políticos para dar mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas.





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