Texto: Hip-hop
Brasil
Ele
é tão urbano quanto as grandes construções de concreto e as estações de metrô,
e cada dia se torna mais presente se firmando como a arte que vem das ruas
Por aqui, é a voz cantada dos
presídios, está nos grafites que embelezam ou enfeitam muros e paredes das
grandes cidades e nas roupas da juventude. É um movimento que invade as
metrópoles brasileiras da periferia para o centro. Para muitos jovens, o
Hip-hop vem fazendo a diferença, mudando jeitos de pensar, dando oportunidades
e denunciando a desigualdade social e racial. “O Hip-hop nasceu na periferia
dos bairros pobres de Nova York. Pode ser considerada uma cultura juvenil
urbana”, explica Viviane Melo de Mendonça Magro, psicóloga que estuda o
movimento no Brasil, com ênfase na questão de gênero. “O Hip-hop é formado por
três elementos: a música (rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o
break). No Hip-hop os jovens usam as expressões artísticas como uma forma de
luta e resistência política”, diz a pesquisadora.
Enraizado nas camadas populares
urbanas, o Hip-hop firmou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a
favor dos excluídos, sobretudo dos negros. Não é por acaso que o famoso rapper
Mano Brown teve uma recepção tão calorosa na Febem do Brás, em São Paulo, em um
show realizado em 2003. Os jovens detentos sabiam de cor as letras das músicas
que falavam da realidade dos moradores das periferias. “As histórias do rap são
fictícias ou reais, mais tratam de pessoas que vivem na periferia”, conta Viviane.
Apesar de ser um movimento originário
das periferias norte-americanas, o Hip-hop não encontrou barreiras no Brasil,
onde se instalou com certa naturalidade. “A apropriação de elementos que não
estão necessariamente legitimados na cultura brasileira deu-se de forma mais
natural e tranquila porque estamos em um mundo globalizado”, considera Micael
Herschmann, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
autor do livro “O funk e o hip invadem a cena”. O que, no entanto, não
significa que o Hip-hop brasileiro não tenha influências locais. O movimento no
Brasil é híbrido, com traços evidentes da cultura nacional: no hip-hop
brasileiro tem rap com um pouco de samba, break parecido com capoeira e
grafites de cores muito vivas.
NOVA
GERAÇÃO
Com quase 20 anos de existência no
Brasil, “O Hip-hop ainda é uma criança que está aprendendo a se locomover”,
afirma Rappin’ Hood. Segundo Marcão, rapper do DMN, “Se a gente comparar o
mercado de hoje com o de dez anos atrás, podemos notar que atualmente temos
mais lançamentos e menos casas para tocar”.
Marcão afirma que a cultura precisa de
profissionais de outras áreas, como técnicos de som e assessores de imprensa.
Mas uma nova geração de grupos está surgindo. Em sua maioria, apostas dos
próprios artistas do movimento. Um desses representantes é o CA. GE. BE. Que
tem seu álbum de estreia lançado pelo selo Equilíbrio do DJ KL Jay. Para Cesar
Sotaque, MC do grupo, “hoje temos noção de como comercializar nosso produto”.
Rosana Bronk’s também faz parte dessa nova fase, seu primeiro álbum é um
lançamento da Cosa Nostra, selo do Racionais MC’s. Para Rosana Bronk’s um outro
aspecto a ser discutido é o comportamento dos produtores de eventos. “Os
contratantes deveriam firmar parcerias com grandes empresas”.
HUTÚZ,
o Oscar
Maior evento de hip-hop da América
Latina, o Prêmio Hutúz acontece há sete anos no Rio de Janeiro e já faz parte
do Calendário Turístico e Cultural da cidade. “A ideia era dar qualidade à
produção do hip-hop com uma condição: o próprio hip-hop deveria produzir e
executar o projeto”, revela Celso Athayde. Acabar com os estigmas, sair do
gueto e ganhar o asfalto sem perder a autoridade era a principal motivação. “O
Prêmio Hutúz é válido porque reflete a opinião do povo”, afirma Eduardo,
integrante do grupo Facção Central. “Ainda temos o problema da grande mídia,
que não valoriza o rapper verdadeiro e não divulga o hip-hop”. A tradicional
homenagem do Prêmio Hutúz desta vez foi dedicado ao rapper e produtor Helião.
“O mérito não é só meu, mas acredito que sou merecedor porque aprendi a lição”.
Helião, formador do extinto RZO, prometeu a volta do grupo. Sobre o atual
cenário do hip-hop brasileiro, ele acredita que falta coragem para inovar nas
produções, “temos que buscar coisas novas”.
Se o futuro do rap é se unir aos ritmos
brasileiros, MV Bill já está fazendo sua parte. No seu mais recente trabalho, O
bagulho é doido, o rapper utilizou elementos de funk carioca. O show de
lançamento desse álbum no Hutúz foi aplaudido e a performance de sua irmã
K-Milla surpreendeu. Para MV Bill, a maior parte dos rappers não valorizam sua
própria raiz. “Quando Snoop Dogg ou Dr. Dre utilizarem samples de música
brasileira é que a rapaziada vai perceber que isso acontece no nosso quintal”.
Sobre o hip-hop. MV Bill diz que teve um momento em que a música
norte-americana explodiu no Brasil. “Nessa época estavam na moda as festas
‘black’, que na realidade só tocavam rap internacional”, revela. “Chamar de
‘black’ era uma maneira de aliviar o fato de que a palavra rap está relacionada
às pessoas de comunidade”. Para o MV da Cidade de Deus, é o racismo musical que
se estende ao social.
COMEÇANDO
A ENTENDER
O grupo Pavilhão 9, que se apresentou
no Hutúz Rap Festival, lançou seu primeiro trabalho em 1992. Rossi, um de seus
integrantes, defende a profissionalização, “o rap nacional deveria ganhar
dinheiro como o rock ou a MPB”. Japão, MC do brasiliense Viela 17, acredita que
“para o hip-hop realmente acontecer, os rappers devem investir em si mesmos e
não depender de grandes gravadoras”. Uma porta pela qual o hip-hop brasileiro
ainda não entrou é a internet, talvez porque a cultura de modo geral ainda seja
resistente a este veículo. “Fora do Brasil, rappers fazem lançamentos
exclusivos em seus sites, e o rap nacional ainda não enxergou isso”, afirma
Japão. O Viela 17 disponibilizou algumas faixas de seu álbum O Alheio chora seu
dono para download gratuito na internet. Hoje, o hip-hop brasileiro busca a
profissionalização e começa a tomar consciência de suas necessidades.
Para Marcelo, integrante do grupo
carioca Dughettu, “a gente está começando a entender o profissionalismo”.
Cabal, rapper paulista que faturou um
Grammy em 2006, não precisamente nessa categoria, acredita que o hip-hop
deveria lidar melhor com outros segmentos do mercado. Mas esse diálogo do
hip-hop com as grandes empresas, de um modo geral, ainda é um desafio a ser
superado. “Eu espero que a gente tenha condições de preparar terreno para os
que ainda virão”. Afirma o mensageiro da verdade, MC Bill.
Atualmente, o hip-hop é uma expressão
popular muito mais evidente que o funk, e já cruzou as fronteiras de todos estados.
Para a psicóloga Viviane, sejam brancos ou negros, muitos jovens brasileiros
têm encontrado no movimento uma esperança. “O hip-hop tem um lado político
forte, de conscientização. Eles se organizam cada vez mais para que possam
criar alternativas para os jovens da periferia não caírem na criminalidade, nas
drogas”, conclui.
Revista Raça Brasil.
Entendendo o texto:
01 – Qual é o assunto da
reportagem que você leu? Em seu caderno, sintetize-o em uma frase.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É a
afirmação do hip-hop como expressão artística urbana.
02 – Na abertura desta
unidade, afirmamos que divulgar assuntos de interesse público é um dos
propósitos da imprensa. Pensando nisso, responda:
a)
Por que o assunto da reportagem “Hip-hop
Brasil” seria de interesse público?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Trata-se de mostrar o
crescimento, no Brasil, de uma manifestação cultural.
b)
Quem seria o público leitor das matérias
publicadas em Raça Brasil?
Pessoas que se interessam por temas e notícias ligados à comunidade
negra brasileira.
c)
Relacionando as respostas que você deu aos
itens a e b, explique: por que uma matéria sobre o hip-hop é matéria da revista
Raça Brasil?
O hip-hop surgiu na periferia de grandes cidades norte-americanas,
nas quais há prevalência da população negra. Ao chegar ao Brasil, essa
manifestação cultural trouxe elementos ligados aos negros. Daí o suposto
interesse dos leitores de Raça Brasil pelo tema.
03 – Defina, com suas
palavras, o que é o hip-hop.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: O texto informa que é uma manifestação cultural compósita,
que combina música, arte visual e dança.
04 – Segunda a reportagem, o
hip-hop é “um discurso em favor dos excluídos, sobretudo dos negros:
a)
Explique a relação entre as palavras
excluídos e negros, que a reportagem estabelece.
Considera-se muitas vezes que a população negra atual é herdeira de
uma situação de exclusão social pelo fato de os negros terem sofrido com a
escravidão, até o final do século XIX.
b)
Além dos negros, o hip-hop atinge também
outros públicos. Segundo a reportagem, que públicos são esses?
No Brasil, seria a população empobrecida que vive, sobretudo, em
condições precárias nas grandes cidades, como ocorre nas favelas.
05 – Na reportagem,
afirma-se que o hip-hop teve sua origem em bairros pobres da cidade de Nova
York. Mesmo sendo uma manifestação de origem estrangeira, o hip-hop se adaptou
bem no Brasil.
a)
O que teria permitido essa adaptação?
Segundo a reportagem, isso se dá porque o hip-hop é uma manifestação
cultural de um mundo globalizado e, portanto, expressa características que se
aclimatariam facilmente fora do seu local de origem.
b)
Você considera que a explicação dada na
reportagem para o sucesso do hip-hop no Brasil é convincente? Justifique sua
opinião.
Resposta pessoal do aluno.
06 – Além do hip-hop, outros
elementos culturais de origem estrangeira são citados na reportagem. Segundo o
texto, o que permite que esses elementos sejam incorporados e façam sucesso no
Brasil?
A semelhança
entre as condições que há em outros países e aquelas que existem no Brasil.
07 – N reportagem, em alguns
trechos, são empregados conceitos opostos. Para isso, a autora utiliza (ou
deixa subentendido) pares de antônimos como excluídos/incluídos,
brancos/negros, cultura estrangeira/cultura brasileira, entre outros.
a)
Copie no caderno alguns trechos em que isso
ocorre.
Algumas possibilidades de resposta: “Grafites que embelezam ou
enfeitam muros e paredes”; “Apesar de ser um movimento originário das
periferias norte-americanas, o hip-hop não encontrou barreiras no Brasil [... O
movimento no Brasil é híbrido, com traços evidentes da cultura nacional...”,
etc.
b)
Na sua opinião, por que ela emprega conceitos
opostos?
Resposta pessoal do aluno.
08 – A partir do que você
observou sobre conceitos opostos empregados no texto, responda:
a)
O que esses antônimos podem revelar a
respeito do ponto de vista de quem escreve a reportagem e, por extensão, a
revista? Justifique sua opinião.
Por se tratar de uma matéria que comenta um movimento cultural
surgido junto à população pobre e negra de grandes cidades, não pode deixar de
refletir as questões enfrentadas por essas pessoas. A publicação, sendo voltada
para um público específico deve ter característica de linguagem que se afinem
com esse público.
b)
Para acentuar esses conceitos opostos e
mostrar que no Brasil essas oposições não funcionam de forma tão simples como
em outros lugares, que recurso a autora do texto usa? Explique.
Ela convoca a palavra dos especialistas, que mostram que oposições
estritas como brancos/negros ou excluídos / incluídos não dão conta da situação
brasileira. Além disso, ela consegue ressaltar a especificidade do hip-hop
brasileiro.
09 – Algumas palavras e
expressões utilizadas no texto remetem ao universo do hip-hop.
a)
Copie em seu caderno algumas dessas
expressões e tente explica-las com suas palavras, valendo-se do contexto.
Rapper (cantor e ou compositor de rap). MC (músico que lidera uma
banda de hip-hop). Black (estilo musical divulgado nos anos 1980). Break (dança
de rua que acompanha as manifestações de rap), são alguns exemplos.
b)
Os nomes dos grupos e artistas de hip-hop
brasileiros são compostos, muitas vezes, de jogos de palavras que procuram lhes
dar certo ar estrangeiro: Dughettu, K-Milla, MC Bill, entre outros. Explique
por que isso ocorre, considerando as informações que o texto fornece sobre a
cultura hip-hop.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque essa forma de se
autodesignar está ligada, possivelmente, à origem norte-americana da cultura
hip-hop.