Texto: O
FUTURO DO TRABALHO
Admita: você também não gosta de trabalhar. Passar o dia inteiro sob luzes
fluorescentes, tomando café ruim, sentado em uma cadeira desconfortável e
usando um computador velho certamente não faz parte do sonho de infância de
ninguém. Admita. E não se sinta culpado. Nossos ancestrais – que nem conheciam
as torturas de um escritório – também não eram muito chegados a essa história
de trabalho.
Para gregos e romanos, colocar a mão na massa era considerada tarefa das
classes inferiores e escravos. Domenico de Mais, professor de Sociologia do
Trabalho na Universidade La Sapienza de Roma e autor do livro O ócio criativo,
que defende uma abordagem mais lúdica do trabalho, apontou um ponto de
convergência em todas as religiões: em nenhuma delas se trabalha no Paraiso.
“Tenha o Paraiso sido criado por Deus, tenha sido inventado pelos homens, se o
trabalho fosse um valor positivo, no Paraiso se trabalharia”, afirma. Ou seja,
alguma coisa está errada, e não é de hoje.
Felizmente, nunca houve tantas ferramentas disponíveis para mudar o modo como
trabalhamos e, consequentemente, como vivemos. E as transformações estão
acontecendo. A crise despedaçou companhias gigantes tidas até então como
modelos de administração. Em vez de grandes conglomerados, o futuro será
povoado de empresas menores reunidas em torno de projetos em comum. Os próximos
anos também vão consolidar mudanças que vêm acontecendo há algum tempo: a busca
pela qualidade de vida, a preocupação com o meio ambiente e a vontade de nos
realizarmos como pessoas também em nossos trabalhos. “Falamos tanto em
desperdício de recursos naturais e energia, mas e quanto ao desperdício de
talentos”? diz o filósofo e ensaísta suíço Alain de Botton em seu novo livro
The pleasures and sorrows of woks (Os prazeres e as dores do trabalho, ainda
inédito no Brasil).
Para começar, esqueça essa história de emprego. Em dez anos, emprego será uma
palavra caminhando para o desuso. O mundo estará mais veloz, interligado e com
organizações diferentes das nossas. Novas tecnologias vão ampliar ainda mais a
possibilidade de trabalhar ao redor do globo, em qualquer horário. Hierarquias
flexíveis irão surgir para acompanhar o poder descentralizado das redes de
produção. Será a era do trabalho freelance, colaborativo e, de certa forma,
inseguro. Também será o tempo de mais conforto, cuidado com a natureza e
criatividade.
A globalização e os avanços tecnológicos (alguns deles já estão disponíveis
hoje) vão tornar tudo isso possível. E uma nova geração que vai chegar ao
comando das empresas, com uma presença feminina cada vez maior, vai colocar em
xeque antigos dogmas. Para que as empresas vão pedir nossa presença física
durante oito horas por dia se podem nos contatar por videoconferência a
qualquer instante? Para que trabalhar com clientes ou fornecedores apenas do
seu país se você pode negociar sem dificuldades com o mundo inteiro? Imagine as
possibilidades e verá que o mercado de trabalho vai ser bem diferente em 2020.
O emprego vai acabar. Vamos ter que nos adaptar. Mas o que vai surgir no lugar
dele é mais racional, moderno e, se tudo der certo, mais prazeroso.
LOIOLA, Rita. O futuro do trabalho. Galileu,
Rio de Janeiro,
Ed.
216, p. 48, jul. 2009.
01 – Segundo o texto, qual é o futuro do
trabalho?
De acordo com o texto, o modelo de
trabalho será transformado. As hierarquias e os horários serão mais flexíveis e
os grandes conglomerados darão lugar a empresas menores reunidas em torno de
projetos em comum. Essas mudanças propiciarão mais qualidade de vida, maior
cuidado com o meio ambiente e a possibilidade de mais conforto, criatividade e
realização pessoal.
02 – Você trabalha? Em caso afirmativo,
responda: gosta do que faz? Por quê? O ambiente em que trabalha é parecido com
o que é descrito no texto?
Resposta pessoal.
03 – Releia este trecho: “Os próximos anos
também vão consolidar mudanças que vêm acontecendo há algum tempo: a busca pela
qualidade de vida, a preocupação com o meio ambiente e a vontade de nos
realizarmos como pessoas também em nossos trabalhos”.
a)
Em sua opinião, é possível conciliar trabalho e qualidade de vida?
Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.
b)
De que maneira o trabalho pode contribuir para a realização
pessoal?
Resposta pessoal.
04 – De acordo com o texto, “Felizmente,
nunca houve tantas ferramentas disponíveis para mudar o modo como trabalhamos
e, consequentemente, como vivemos”. Que ferramentas seriam essas?
Pelo contexto, pode-se perceber que o
texto se refere à globalização e às novas tecnologias. Se preciso, esclareça
aos alunos que globalização é um termo econômico e político que se refere à
união dos mercados de diferentes países e à quebra das fronteiras entre esses
mercados.
05 – Encontre no texto os argumentos que a
autora utiliza para comprovar a seguinte ideia: “Para começar, esqueça essa
história de emprego. Em dez anos, emprego será uma palavra caminhando para o
desuso”.
Ela afirma que o “mundo estará mais
veloz, interligado e com organizações diferentes das nossas. Novas tecnologias vão
ampliar ainda mais a possibilidade de trabalhar ao redor do globo, em qualquer
horário. Hierarquias flexíveis irão surgir para acompanhar o poder
descentralizado das redes de produção.
06 – Converse com um colega sobre o texto
e discutam esta questão: O trabalho do futuro será mais humano e
prazeroso? Anotem suas conclusões. Depois, ouçam o que as outras duplas
pensam sobre o assunto.
Resposta pessoal.
Visto
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