POEMA - A mulher
que passa
Vinicius de Moraes
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa
Seu dorso
frio é um campo de lírios
Tem sete
cores nos seus cabelos
Sete
esperanças na boca fresca!
Oh! Como
és linda, mulher que passas
Que me
sacias e suplicias
Dentro
das noites, dentro dos dias!
Teus
sentimentos são poesia
Teus
sofrimentos, melancolia.
Teus
belos braços são cisnes mansos
Longe das
vozes da ventania.
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa!
Como te
adoro, mulher que passas
Que vens
e passas, que me sacias
Dentro
das noites, dentro dos dias!
Por que
me faltas, se te procuro?
Por que
me odeias quando te juro
Que te
perdia se me encontravas
E me
encontravas se te perdias?
Por que
não voltas, mulher que passas?
Por que
não enches a minha vida?
Por que
não voltas, mulher querida
Sempre
perdida, nunca encontrada?
Por que
não voltas à minha vida
Para o
que sofro não ser desgraça?
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa!
Eu
quero-a agora, sem mais demora
A minha
amada mulher que passa!
No santo
nome do teu martírio
Do teu
martírio que nunca cessa
Meu Deus,
eu quero, quero depressa
A minha
amada mulher que passa!
Que fica
e passa, que pacifica
Que é
tanto puro como devassa
Que boia
leve como cortiça
E tem
raízes como a fumaça.
MORAES,
Vinicius de. Antologia poética.
São
Paulo: Companhia das Letras, 1992. P. 88-89.
Entendendo
o poema:
01
– Destaque a semelhança entre o poema “A mulher que passa”, de Vinicius de
Moraes, e o poema “Amor”, de Adélia Prado.
Ambos
tratam do sentimento de amor, do desejo por alguém que não está necessariamente
correspondendo a esse sentimento.
02
– Considere a forma como cada autor revelou seus sentimentos. Com qual
deles você se identificou mais? Por quê?
Resposta
pessoal.
03
– Releia o título e o primeiro verso do poema, que trazem a forma
escolhida pelo eu lírico para refletir-se à mulher desejada.
Trata-se,
nesse caso, de uma qualidade permanente. O fato de passar é o que,
principalmente, a caracteriza.
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