Poema: HINO
NACIONAL
Carlos Drummond de Andrade
Precisamos
descobrir o Brasil!
Escondido
atrás das florestas,
Com a
água dos rios no meio,
O Brasil
está dormindo, coitado.
Precisamos
colonizar o Brasil.
O que
faremos importando francesas
Muito
louras, de pele macia,
Alemãs
gordas, russas nostálgicas para
Garçonetes
dos restaurantes noturnos.
E virão
sírias fidelíssimas.
Não
convém desprezar as japonesas...
Precisamos
educar o Brasil.
Compraremos
professores e livros,
Assimilaremos
finas culturas,
Abriremos
dancings e subvencionaremos as elites.
Cada
brasileiro terá sua casa
Com fogão
e aquecedor elétricos, piscina,
Salão
para conferências científicas.
E
cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos
louvar o Brasil.
Não é só
um pais sem igual.
Nas
revoluções são bem maiores
Do que
quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas
virtudes? A terra das sublimes paixões...
Os
Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...
Precisamos
adorar o Brasil!
Se bem
que seja difícil caber tanto oceano e tanta solidão
No pobre
coração já cheio de compromissos...
Se bem
que seja difícil compreender o que querem esses homens,
Por que
motivo eles se ajuntaram e qual a razão de seus sofrimentos.
Precisamos,
precisamos esquecer o Brasil!
Tão
majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
Ele quer
repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil
não quer! Está farto de nós!
Nosso
Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum
Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Carlos Drummond de Andrade
Entendendo o poema:
01 – No
texto de Drummond, o tratamento dado ao nacionalismo ufanista é:
a) Apoiá-lo socialmente.
b) Criticá-lo ironicamente.
c) Adotá-lo no título do poema.
d) Assimilá-lo em finas culturas.
02 –
“Precisamos descobrir o Brasil”
Este verso inicial é repetido no poema de Drummond cinco outras vezes,
trocando-se o verbo descobrir, respectivamente, por colonizar, educar, louvar,
adorar e esquecer. Há ainda, na última delas, a repetição da forma verbal
precisamos, buscando enfatizar o apelo do poema.
Tal estrutura poética, que consiste em repetir versos inteiros com pequenas
alterações vocabulares, é caracterizada como:
a) Recurso formal de valor
expressivo.
b) Intenção crítica de finalidade
social.
c) Paralelismo tipicamente
modernista.
d) Estribilho reiterativo das mesmas
afirmativas.
03 –
Analisando o texto, é correto afirmar que uma de suas características
estruturais é:
a) A simetria das estrofes.
b) O ritmo de seus versos.
c) A forma fixa de soneto.
d) O emprego de rimas emparelhadas.
04 - Que análise podemos fazer do primeiro verso da primeira estrofe?
O primeiro verso da primeira estrofe já começa com uma exclamação
(Precisamos descobrir o Brasil!). O poeta conclama pessoas (afinal quem são esses
“nós”?) no sentido de descobrir o Brasil. A preocupação com a coletividade é tão maior
que o poeta não se vale de um “eu” para expressar as questões sociais, mas sim de um
“nós”.
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